Cerca de uma em cada 10 pessoas no mundo relata sintomas como desconforto abdominal, fadiga e dor de cabeça após consumir alimentos com glúten ou trigo, mesmo sem diagnóstico de doença celíaca ou alergia. É o que aponta uma revisão publicada na revista Gut nessa terça-feira (28/10), que analisou estudos de 16 países.
A condição, conhecida como sensibilidade ao glúten ou ao trigo não celíaca, ainda intriga pesquisadores. Ao contrário da doença celíaca, ela não apresenta marcadores específicos no sangue e o diagnóstico é feito por exclusão, o que significa que a pessoa só recebe o rótulo de sensível ao glúten quando outras causas foram descartadas.
Os sintomas mais frequentes relatados são inchaço, desconforto e dor abdominal, fadiga e, em menor grau, diarreia, prisão de ventre, dor de cabeça e dores nas articulações. Em muitos casos, eles melhoram com a retirada do glúten ou do trigo da alimentação e reaparecem quando esses alimentos voltam à dieta.
O estudo também mostrou que a condição é mais comum em mulheres e costuma aparecer em pessoas com ansiedade, depressão ou síndrome do intestino irritável.
Leia também
-
Saiba como diferenciar a doença celíaca da intolerância ao glúten
-
Glúten faz mal? Engorda? Nutróloga tira dúvidas sobre o composto
-
O glúten é essencial? Saiba o que acontece se você retirá-lo da dieta
-
Mulher tem sintomas de câncer confundidos com intolerância ao glúten
Essa ligação, segundo os cientistas, reforça a hipótese de que a sensibilidade ao glúten ou ao trigo está relacionada aos chamados distúrbios da interação intestino-cérebro, um campo da neurogastroenterologia que estuda como o sistema digestivo e o cérebro se comunicam.
Diferenças entre países e desafios no diagnóstico
A análise reuniu dados de 49.476 participantes e revelou variações significativas na prevalência da sensibilidade. Enquanto no Chile menos de 1% da população relatou o problema, no Reino Unido esse número chegou a 23%, e na Arábia Saudita, a 36%.
Cerca de quatro em cada dez pessoas que disseram ter sensibilidade ao glúten seguem uma dieta restritiva por conta própria, sem diagnóstico médico formal. Especialistas alertam que eliminar o glúten sem necessidade pode trazer deficiências nutricionais e dificultar a identificação de outras causas dos sintomas.
Necessidade de critérios mais claros
Os autores do estudo reconhecem que as diferenças entre os resultados podem estar ligadas a critérios diagnósticos variados e ao fato de os dados dependerem do autorrelato dos participantes. Ainda assim, defendem que a sensibilidade ao glúten ou ao trigo seja reconhecida como uma condição real, dentro do espectro dos distúrbios da interação intestino-cérebro.
Eles também reforçam a importância de desenvolver métodos de diagnóstico mais objetivos e tratamentos personalizados, considerando os padrões individuais de sintomas e gatilhos alimentares que vão além do glúten. Segundo eles, isso poderia evitar restrições alimentares desnecessárias e melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!
