Pela primeira vez desde a criação da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), os alunos da rede pública municipal ficaram de fora do evento que transformou a cidade em referência cultural no Brasil e no mundo. Enquanto as crianças da terra da literatura não participaram da festa, a secretária municipal de Educação, Cássia, sua adjunta Janete e os coordenadores Rodrigo Janotti e Sidiclei participaram de outro evento – em Salvador, na Bahia.
A ausência dos estudantes causou indignação entre moradores, professores e pais, que tradicionalmente veem na Flip uma rara oportunidade de aproximação dos jovens com autores, livros, debates e atividades culturais. “É inadmissível que uma cidade como Paraty, com sua tradição literária e educacional, deixe seus alunos de fora de um evento tão significativo”, afirmou um professor da rede municipal, que preferiu não se identificar.

A crítica não se restringe à ausência das crianças. A viagem da alta cúpula da Educação municipal em pleno período de férias escolares, quando o planejamento de atividades complementares e culturais poderia ser intensificado, levantou suspeitas sobre prioridades da gestão. “Enquanto os alunos ficaram à margem, os gestores viajaram. Parece que o objetivo maior era garantir diárias e aproveitar o recesso para passear”, disse uma mãe de aluno, inconformada com a situação.
O contraste entre o esvaziamento da presença estudantil local e a agenda dos gestores provocou nas redes sociais a ironia de que Paraty vive “um novo tempo com uma velha história”: decisões políticas que se distanciam das necessidades reais da população.
A Secretaria Municipal de Educação ainda não se pronunciou oficialmente sobre os motivos da ausência dos estudantes da rede pública na Flip nem sobre os detalhes da viagem à capital baiana.
A cidade, que já recebeu prêmios da UNESCO e acolheu autores do mundo inteiro, agora se vê diante de um paradoxo: é palco de um dos maiores eventos literários do país, mas impede seus próprios alunos de acessarem essa riqueza cultural.