Familiares de Kamila da Silva Lira, 16 anos, morta após ser atingida com ao menos nove tiros, em um apartamento no Bom Retiro, região central de São Paulo, aguardam o julgamento do acusado pelo crime, o chinês Zhenhua Wu, 34. Kamila morava no Distrito Federal antes de se mudar para a capital paulista e mantinha relacionamento afetivo com o réu há cerca de 1 ano à época do assassinato. O caso aconteceu em setembro de 2024.
Assista a entrevista da mãe de Kamila:
Zhenhua Wu aguarda o julgamento preso. Ele enfrentará júri popular no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) pelo crime de homicídio qualificado. A data está marcada para 19 de fevereiro de 2026.
Com o coração apertado e fragilizada pelo sentimento de impunidade, a mãe da vítima, Roberta da Silva Santos, 43, defende a imposição de pena máxima ao agressor.
“Justiça pela minha Kamila. Eu espero que ele não pague nem um dia a mais e nem um dia a menos da pena que for imposta. O que ele tem que ter na cabeça dele é que ele destruiu a minha família e a minha vida. Tirou o melhor pedaço de mim. Que a minha menina descanse com o Senhor”, desabafou Roberta.
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Crime aconteceu em São Paulo
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Roberta da Silva Santos, mãe da jovem, fala sobre sua filha e sobre o julgamento do assassino
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Antes de se mudar para a capital paulista, Kamila residia com a família no Distrito Federal
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A adolescente Kamila da Silva Lira, 16 anos, foi morta a tiros por um comerciante Chinês
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Kamila tinha 16 anos
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Família quer pena máxima para o acusado
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O chinês Zhenhua Wu que matou Kamila vai a júri popular
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A mãe sofre pela perda da filha
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Roberta mora em Samambaia (DF) e irá para SP acompanhar o júri presencialmente
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Kamila foi brutalmente assassinada em um apartamento em SP
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Luto
Kamila morava na QNL, em Taguatinga Norte (DF), antes de ir para São Paulo e deixou a mãe e três irmãos: uma mais velha e dois mais novos.
Sem a presença dela, os familiares optaram por sair da antiga casa onde ela morou com eles, mas a lembrança da adolescente continua presente por todos os lados. O luto entre parentes é compartilhado. A empregada doméstica Renata da Silva Santos, 39, tia da vítima, também acompanha o caso de perto e cobra por justiça.
“Estamos ansiosas para que ele não fique impune. Que pague de verdade pelo que fez, com uma pena justa. Porque a minha sobrinha a gente não vai ter de volta, infelizmente. Ela não volta. Mas ele tem que pagar”, afirmou Renata.
Pela perspectiva da família, a morte violenta de Kamila chegou de forma abrupta. Não se sabe se a vítima tinha qualquer consciência do destino dela. Os familiares, por certo, não imaginavam.
No Distrito Federal, mesmo com a pouca idade, Kamila trabalhava em eventos e em uma empresa de buffet para ajudar na renda familiar.
Foi desta maneira, em um desses eventos, que a jovem conheceu o empresário chinês Zhenhua Wu, segundo conta a própria mãe.
“Kamila fez um evento em outubro de 2023 em uma festa de empresários e conheceu esse homem. Voltou para casa deslumbrada. Me contou que ele tinha ‘aberto um mundo de oportunidades’ e lhe ofereceu uma vida melhor na capital paulista. Eu fui contra e ela começou a se relacionar com ele escondido de mim. Após um tempo de insistência, ela me disse que iria para São Paulo com ou sem o meu consentimento”, contou a mãe.
Roberta diz que resolveu deixar a jovem ir conhecer a cidade, mas com a condição de que ela iria voltar. “Minha filha me apresentou alguns amigos que iriam com ela e eles viajaram de carro com outros familiares, em dezembro de 2023. Resolvi deixar ela ir para que ela não fugisse de casa. Nesta estada dela em SP foi que as coisas começaram a fugir do controle.”
Depois que a adolescente voltou para Brasília, a situação ficou completamente incontrolável, segundo a genitora. “Tudo de ruim dentro de casa começou a acontecer. Eu sentia uma energia pesada. Perdemos carro, as coisas quebravam em casa e não tínhamos nem comida para comer. Kamila me disse que iria fugir se eu não emancipasse ela”.
As duas chegaram a correr atrás da emancipação mas não conseguiram oficializar o registro. Desta maneira, Kamila convenceu a mãe de que iria para São Paulo para trabalhar como garçonete e babá, apesar das preocupações da mãe com a idade da menina e os perigos da grande cidade.
Em fevereiro do ano passado, a jovem se mudou para SP de vez. Roberta teve conhecimento que a jovem trabalhava em cassinos de luxo e estava ganhando muito dinheiro. Neste período, a jovem continuou a vir para Brasília em datas comemorativas para visitar a família. Ela também chegou a fazer uma cirurgia estética no nariz.
Com base nas conversas que tinha com a filha, Roberta sabia que a adolescente morava com outra jovem no bairro da Liberdade e descreveu o chinês companheiro de Kamila como agressivo e impaciente. Apesar de não residirem juntos, o chinês também tinha livre acesso ao condomínio que a adolescente morava. Ele não falava português e a tia da vítima conta que também observou que Kamila estava estudando mandarim para se comunicar melhor com o homem e tinha planos de viajar para a China.
Roberta soube da morte da filha em uma manhã de domingo, depois que um investigador de São Paulo, entrou em contato com ela. A notícia, no entanto, já circulava na mídia local de São Paulo desde a madrugada de sábado, 14 de setembro, data do crime.
Depois da morte, Roberta descobriu que Zhenhua Wu tem esposa e filhos que residem na China. Nas diversas vezes que a defesa do acusado impetrou pedidos de habeas corpus, o principal argumento usado foi o de que os familiares dependem financeiramente do réu.
Crime
O chinês foi preso em flagrante no dia do crime. Em seu depoimento, Wu alegou que atirou em legítima defesa. Ele disse que já havia se encontrado com a adolescente em outras ocasiões e que, naquela madrugada, ela teria tentado pegar uma arma para matá-lo, o que o levou a reagir e atirar nela.
A polícia também relatou que, ao atender a ocorrência, o suspeito estava sentado no chão, aparentando confusão mental e sem reação.
Saiba quem é o empresário chinês:
Zhenhua Wu
A vítima foi encontrada nua e baleada no chão, com a arma do crime próxima à sua cabeça e diversas cápsulas de munição espalhadas pelo local.
Zhenhua também responde por porte ilegal de arma de fogo. A arma do empresário, uma pistola de origem turca e sem registro, era de uso restrito.
A família acredita que o assassinato de Kamila pode estar ligado ao conhecimento que ela tinha sobre os negócios do chinês no Brasil.
O corpo da adolescente foi enterrado no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga, no dia 19 de setembro de 2024.
“A minha filha era extremamente carinhosa, presente e sonhadora. Estava sempre em contato comigo e queria muito viver uma vida melhor do que a que tínhamos. Era vaidosa e almejava grandes conquistas. Infelizmente, ela não soube enxergar o perigo que a cercou. Ela não vai voltar e ele precisa pagar pelo que fez. E que nenhuma outra vítima passe pelo mesmo”, lamentou a mãe.
A defesa do réu foi acionada pela reportagem, mas não havia se manifestado sobre o assunto até a publicação desta reportagem. O espaço permanece aberto para o posicionamento.