Sem receber repasses da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), o Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) desativou temporariamente 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A unidade especializada no tratamento de crianças também cancelou as primeiras consultas e procedimentos, exames e cirurgias eletivas que estavam agendadas para esta sexta-feira (19/12).
Segundo o Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT), a secretaria deixou de repassar R$ 79.499.301,95 pelos serviços prestados em outubro, novembro e dezembro de 2025. Além disso, o HCB tem de um passivo financeiro de R$ 38.626.422,36. O prejuízo total é de R$ 118.125.724,31. Segundo o hospital, a pasta depositou R$ 6.411.000,00 na quinta-feira (18/12).
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De acordo com o hospital, o fechamento leitos de UTI e cancelamento de atendimentos foram medidas assistenciais restritivas e excepcionais necessárias para preservar a segurança dos pacientes já internados e assegurar a continuidade mínima das atividades essenciais.
O HCB possui 212 leitos no total, entre eles, 58 leitos de UTI. Em novembro, a internação (leitos gerais) apresentou ocupação de 71,7% e as UTIs apresentaram ocupação de 75,6%.
Em novembro o hospital realizou 48.741 atendimentos ambulatoriais, 52.802 exames laboratoriais e 350 cirurgias, entre elas, 131 neurocirurgias. Desde a fundação da unidade, o HCB já realizou mais de 8 milhões de atendimentos. O hospital conta atualmente com 1.784 funcionários.
MPDFT
O Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) entrou na Justiça para obrigar a Secretaria de Saúde a pagar os repasses atrasados para o HCB.
A 1ª Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus) ajuizou uma ação civil pública com pedido de tutela de urgência para que o DF regularize, em até 48h após a ordem judicial, repasses ao HCB. O hospital enfrenta inadimplência e repasses abaixo do valor previsto em contrato, com descontos sem justificativa.
Segundo o MPDFT, a situação já vem gerando medidas de contingência na assistência, como fechamento inicial de leitos de UTI pediátrica, bloqueio de internações em enfermaria e suspensão de primeiras consultas especializadas.
Urgência
Em caráter de urgência, o MPDFT requer o pagamento integral e imediato das parcelas vencidas e, subsidiariamente, que seja autorizado bloqueio de verbas públicas suficientes para assegurar a continuidade do serviço.
Também pede que o DF não faça descontos, cortes ou repasses parciais sem apuração formal, motivação e contraditório, ou seja, sem dar ao HCB a chance de se manifestar e contestar antes de reduzir o dinheiro.
Risco
Conforme divulgado no painel de leitos de UTI da SES-DF, na quinta-feira (18/12), a rede pública tem 112 leitos de UTI pediátrica no total. Desses, 70 estavam ocupados, 24 bloqueados e 18 vagos.
O mesmo painel mostra que o HCB concentra 58 leitos de UTI pediátrica, o que representa quase 52% do total da rede. Ainda de acordo com a plataforma, hoje o HCB registrava 38 leitos ocupados, 5 bloqueados e 15 vagos.
De acordo com o promotor de justiça da 1ª Prosus, Vinícius Bertaia, a eventual redução ou fechamento de leitos do HCB significaria uma queda brusca da capacidade de UTI pediátrica disponível na rede.
“Num cenário em que a ocupação já era alta e, além disso, havia leitos bloqueados em outras unidades, a redução no HCB traria risco direto de desassistência e de agravamento de casos graves em crianças e adolescentes”, pontua.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Saúde, mas ainda não teve retorno. O espaço segue aberto para manifestações.