Os casamentos estão durando menos em todo Brasil e no Distrito Federal o tempo médio dos matrimônios é menor que a média brasileira. Enquanto no país, os casamentos estão durando 13,8 anos, na capital federal as uniões terminam, em média, com 12,9 anos.
No ranking nacional, o DF fica atrás de Goiás (12,7 anos), Mato grosso do Sul (11,8 anos), Acre (11,1 anos), Rondônia (11 anos) e Roraima (10,2 anos). Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Dificuldades de comunicação prejudicam as relações
A advogada Anna Cabral, de 40 anos, foi casada por uma década e se divorciou em 2022. Ela diz que relações passam por fases previsíveis, como encantamento, crises e reestruturações, e que o término pode ocorrer quando o vínculo já cumpriu seu papel. Anna avalia que, no próprio caso, a separação não esteve ligada à falta de amor, mas às transformações individuais ao longo do tempo. “Crescemos, desenvolvemos novas visões de mundo e, em determinado momento, nossos projetos deixaram de se alinhar”, diz.
Para ela, encerrar uma relação que não faz mais sentido exige força e resiliência. O fim de um casamento não deve ser interpretado como fracasso. “Uma união que chega a 10 anos pode ser vista como um ciclo de vida emocional compartilhada, e não apenas como o rompimento de um vínculo”, afirma.
A advogada também identifica sinais comuns de degradação entre casais, como dificuldades na rotina e no alinhamento de expectativas. “O desgaste raramente acontece de forma abrupta. Ele se instala aos poucos, com acúmulo de silêncios e dificuldades de comunicação”, afirma. Segundo ela, comunicação clara e revisões constantes dos acordos são essenciais para relações duradouras.
A mudança no comportamento dos casais tem sido associada, por especialistas, à busca por maior segurança emocional e relações mais alinhadas. No Distrito Federal, mulheres e profissionais que vivenciaram o divórcio apontam que falhas na comunicação, somadas às transformações individuais ao longo do tempo, estão no centro das separações.
Para a psicóloga Júlia Gouveia, o contexto do Distrito Federal contribui para o cenário de relações menos duradouras. De acordo com a especialista, a capital reúne cargas de trabalho elevadas, instabilidade profissional em alguns setores, mudanças frequentes e facilidade no acesso ao divórcio. “São fatores que podem estar correlacionados ao encurtamento das relações, embora não sejam causas isoladas”, explica.
Júlia afirma que, na clínica, a queixa mais frequente entre casais não é infidelidade, mas dificuldade de comunicação. “Muitos relatam que não conseguem se fazer entendidos ou que deixaram de cuidar do vínculo ao longo do tempo”, diz.
A psicóloga acrescenta que, a terapia de casal funciona como um espaço de mediação, sem o objetivo de manter o relacionamento a qualquer custo.
Para Anna Cabral, os dados do IBGE refletem mais consciência emocional e respaldo jurídico para decisões difíceis. “Hoje, as pessoas estão menos dispostas a permanecer em relações que não oferecem segurança emocional”, diz.
5 fatos sobre casamentos no Brasil
- O número de divórcios no Brasil caiu pela primeira vez desde 2019. O país registrou, em 2024, 428.301 divórcios entre pessoas de sexos diferentes, uma queda de 2,8% em relação aos 440.827 de 2023. A baixa interrompeu uma sequência de quatro anos com números crescentes.
- Os casamentos homoafetivos atingiram a maior taxa desde o início da série. No Brasil, o aumento foi de 8,8% e no Distrito Federal o aumento foi de 19,7% em 2024.
- As regiões Sul e Nordeste têm os casamentos mais duradouros com média de 15 anos, enquanto o Centro-Oese tem a menor duração do país, com, em média, 12,6 anos. No Norte as uniões duram 12,7 anos e no Sudeste, a média é de 13,4 anos.
- A diferença entre idades dos cônjuges de sexos distintos é de aproximadamente 2 anos, sendo que os homens se casaram, em média, aos 31,5 anos, e as mulheres, aos 29,3 anos.
- Nos casamentos civis entre pessoas solteiras do mesmo sexo, a idade média foi de 34,7 anos, entre os homens, e de 32,5 anos, entre as mulheres.
Os dados são da Estatística do Registro Civil divulgados pelo IBGE em dezembro e se referem aos registros formalizados em 2024.