A pesquisa médica teve um ano marcado por estudos que ajudaram a esclarecer velhas dúvidas e abriram novas frentes de tratamento e prevenção. Para reunir o que teve maior impacto em 2025, o Journal of the American Medical Association (JAMA), uma das revistas médicas mais respeitadas do mundo, pediu a seus editores que selecionassem os trabalhos mais relevantes publicados entre outubro de 2024 e setembro deste ano.
O levantamento reúne pesquisas sobre temas variados, como medicamentos para perda de peso, demência, inteligência artificial na saúde, triagem genética neonatal e tratamentos inovadores para câncer e doenças cardiovasculares.
Segundo os editores, os estudos escolhidos refletem tanto a relevância clínica quanto a diversidade de métodos usados para responder a questões centrais da medicina atual. Confira a lista:
Medicamentos que mudam a prática clínica
Entre os destaques estão os medicamentos da classe dos GLP-1, já conhecidos pelo uso no controle do peso e da diabetes. Uma análise com mais de 58 mil pacientes mostrou que a semaglutida e a tirzepatida reduziram em mais de 40% as hospitalizações e as mortes em pessoas com insuficiência cardíaca associada à obesidade e à diabetes tipo 2.
Por se basear em dados do mundo real, a pesquisa incluiu uma população mais ampla e diversa do que a maioria dos ensaios clínicos tradicionais.
Outro avanço relevante veio da área cardiovascular. Um estudo internacional testou o lorundrostato, um medicamento inédito para hipertensão resistente ao tratamento. Em pacientes que já usavam vários remédios sem sucesso, o fármaco reduziu de forma significativa a pressão arterial, oferecendo uma nova alternativa para quem tinha poucas opções terapêuticas.
Vacinas, demência e prevenção
Um estudo observacional com cerca de 100 mil pessoas na Austrália indicou que a vacinação contra herpes-zóster pode estar associada a um menor risco de demência. Embora não estabeleça uma relação de causa e efeito, o trabalho levantou novas hipóteses sobre o papel das infecções virais ao longo da vida e seus efeitos no cérebro.
Ainda no campo das vacinas, uma formulação aprimorada contra hepatite B mostrou resultados animadores em pessoas com HIV. Em indivíduos que não respondiam à vacinação convencional, duas doses da nova vacina garantiram proteção em 93% dos casos, um avanço importante para grupos imunocomprometidos.
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Tecnologia, genética e mudanças no cuidado
A inteligência artificial também esteve no centro das atenções, mas não apenas pelos avanços. Uma revisão de mais de 500 estudos revelou falhas recorrentes na avaliação de grandes modelos de linguagem na área da saúde. Os autores apontaram a necessidade de critérios mais rigorosos e do uso de dados reais de atendimento para que essas ferramentas possam ser aplicadas com segurança na prática clínica.
Na área de diagnóstico precoce, resultados iniciais de um estudo com recém-nascidos mostraram que o sequenciamento genético direcionado pode identificar doenças tratáveis que passam despercebidas na triagem neonatal tradicional. A estratégia pode permitir intervenções mais rápidas e melhorar o prognóstico de crianças com condições raras.
Outros trabalhos chamaram atenção por questionar práticas consolidadas. Um ensaio clínico sugeriu que um limiar mais elevado para transfusão de sangue em pacientes com lesão cerebral aguda pode levar a melhores desfechos neurológicos.
Já uma pesquisa com mulheres diagnosticadas com carcinoma ductal in situ de baixo risco indicou que o monitoramento ativo pode ser uma alternativa segura à cirurgia imediata em casos selecionados.
Para os editores responsáveis pela seleção, são estudos que ajudam a orientar decisões clínicas, políticas de saúde e futuras linhas de investigação.
