Ex-presidente da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal (OAB-DF) na época em que as investigações do Crime da 113 Sul estavam iniciando, o conselheiro federal da OAB Francisco Queiroz Caputo Neto, o Kiko, falou ao Metrópoles sobre o que lembra daquele período.
“Foi um absurdo o que aconteceu naquela época. Um desrespeito com a advocacia e com a sociedade”, comentou. Kiko recordou que, logo após sua posse como presidente da OAB-DF, ele foi procurado para acompanhar o caso bárbaro.
“Lembro que me disse que o acompanhamento atual não era efetivo. A lógica estava invertida. Culparam a Adriana (Villela) e, só depois, foram atrás das provas para tentar confirmar a atribuição feita”, disse.
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Kiko afirmou que pediu para um conselheiro da própria OAB-DF acompanhar o processo. “Um mês depois, ele me procurou, com o trabalho concluído, e afirmando nunca ter visto tanta barbaridade (em uma investigação)”, pontuou.
“O conselheiro apresentou um relatório com graves denúncias, como fraude processual, plantio de provas e tortura. Somente um despacho de um juiz, que percebeu as irregularidades, determinou a apuração dos fatos”, comentou.
Digitais
O ex-presidente da OAB-DF disse que marcou uma audiência com o secretário de Segurança Pública do DF na época e entregou uma cópia do relatório. “Apontamos coisas gravíssimas cometidas pela investigação da 1ª DP”, ressaltou.
O Metrópoles teve acesso a parte do relatório que, há 15 anos, já apontava falta de provas que incriminassem Francisco Mairlon — solto e inocentado pelo Superior Tribunal de Justiça nessa terça-feira (14/10) — e de Adriana Villela, que teve a condenação anulada também pelo STJ. Veja:
“A Ordem dos Advogados do Brasil […] requereu a conversão do feito em diligência para que o réu Leonardo (Campos) fosse reinterrogado. Requereu a impronúncia de Adriana e Francisco Mairlon e a pronúncia de Leonardo e Paulo Cardoso. Por fim, requereu que se prossigam as investigações para identificar outros envolvidos.”
O advogado também comentou sobre o movimento utilizado pela extinta Coordenação de Crimes Contra a Vida da Polícia Civil do Distrito Federal (Corvida/PCDF).
“Chegaram ao requinte de crueldade de refazer testes de digitais, como se isso fosse determinante. Em qualquer casa de pais, é comum haver impressões digitais dos filhos na mesa”, opinou.
Processo anulado
Os ministros votaram pela soltura imediata de Francisco Mairlon, que completaria 15 anos preso em novembro deste ano. Conforme a decisão da Sexta Turma, todo o processo foi anulado.
Se outras provas existirem, o Ministério Público poderá apresentar nova denúncia, de acordo com a Sexta Turma. Mas, a partir de agora, Francisco Mairlon não figura mais nem como acusado. Ou seja, ela foi inocentado.
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Entenda o caso
- Francisco Mairlon foi condenado a 47 anos, 1 mês e 10 dias de prisão por participar do triplo homicídio do casal José e Maria Villela e da funcionária da família, Francisca Nascimento Silva.
- À época dos fatos, Francisco foi preso após ser citado pelos dois executores confessos do crime, o porteiro Leonardo Campos Alves e Paulo Cardoso Santana.
- Porém, anos depois, Paulo Santana mudou o depoimento dado à polícia em 2010 e assegurou que Francisco Mairlon Barros não participou dos homicídios.
Delegada condenada
Durante a fase de inquérito do triplo homicídio, a primeira delegada a investigar o caso, Martha Vargas, chegou a recorrer a uma vidente para anunciar a elucidação do crime.
A paranormal Rosa Maria Jaques contou ter visto uma foto de José Guilherme em um jornal e que o morto teria piscado para ela, indicando os responsáveis pela tragédia.
Com auxílio da líder espiritual, a então delegada prendeu três suspeitos em Vicente Pires e apontou como prova principal uma chave do apartamento dos Villelas que estaria em posse do trio. No entanto, para obter confissão de Alex Peterson Soares, Rami Jalau Kalout e Cláudio Brandão, Martha e parte de sua equipe teriam torturado os três.
Dias depois, laudo do Instituto de Criminalística (IC) revelou que a chave apreendida era exatamente a mesma recolhida pela própria Polícia Civil na cena do triplo homicídio. Diante da denúncia em relação à prova plantada, Martha pediu afastamento da investigação, e o caso passou a ser conduzido pela Corvida.