O Brasil vive uma das maiores epidemias de dengue de sua história. Nessa quarta-feira (21/2), o país ultrapassou os 700 mil casos prováveis da doença, mais que o triplo do registrado no mesmo período de 2023.
Os casos subiram em todas as faixas populacionais e regiões do país — as gestantes, um dos grupos de risco, não ficaram de fora. Quando infectadas, a doença mata até quatro vezes mais do que no restante da população e há três vezes mais chances dos fetos morrerem quando as mães contraem o vírus.
“Especialmente no último trimestre da gestação, a dengue é muito perigosa. Alterações fisiológicas normais, como inchaço, falta de ar, náuseas e vômitos, muitas vezes atrapalham o diagnóstico, já que são comuns tanto para a gravidez quanto para a infecção. O diagnóstico em gestantes é desafiador e muitas vezes os sintomas são negligenciados”, explica o professor de medicina Fabio Fernandes Neves, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Todo cuidado é pouco
Na última quinta-feira (15/2), a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) emitiu um alerta para profissionais da saúde sobre casos de gestantes com dengue. Os autores, que incluem Neves, estabeleceram um guia de cuidados para ajudar a acompanhar o tratamento das pacientes e impedir que os quadros se tornem mais graves.
A obstetra e ginecologista Rosiane Mattar, que também assina a nota, explica a importância do cuidado específico. “Como o diagnóstico nas gestantes costuma demorar, pode haver um agravamento da ação do vírus no corpo. Por isso, todas as grávidas devem ser acompanhadas com atenção e ser testadas para dengue, independente da gravidade dos sintomas, já que são sempre um grupo de risco”, aponta.
Sinais de agravamento
Os médicos aconselham que as grávidas diagnosticadas com dengue sejam acompanhadas de perto. Após a confirmação da infecção atráves dos testes disponíveis, eles sugerem avaliação clínica e exames de sangue a cada dois dias enquanto durar a febre. Também é preciso dobrar os cuidados com os sinais de agravamento do caso.
A orientação é internar as pacientes por ao menos dois dias (mesmo sem sinais de choque circulatório causados pela hemorragia da dengue grave), reforçar os cuidados e reavaliar o quadro a cada duas horas.
“Qualquer dor abdominal e aumento na frequência dos vômitos já indica complicação da doença. Desmaios, sangramentos, alterações de consciência, irritação, agitação e sonolência também são indicativos de que a dengue pode estar ganhando gravidade e devem ser alertas para a busca imediata de atendimento médico”, aconselha Neves.
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A dengue é uma doença infecciosa transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Com maior incidência no verão, tem como principais sintomas: dores no corpo e febre alta. Considerada um grave problema de saúde pública no Brasil, a doença pode levar o paciente a morte Joao Paulo Burini/Getty Images
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O Aedes aegypti apresenta hábitos diurnos, pode ser encontrado em áreas urbanas e necessita de água parada para permitir que as larvas se desenvolvam e se tornem adultas, após a eclosão dos ovos, dentro de 10 dias Joao Paulo Burini/ Getty Images
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A infecção dos humanos acontece apenas com a picada do mosquito fêmea. O Aedes aegypti transmite o vírus pela saliva ao se alimentar do sangue, necessário para que os ovos sejam produzidos Joao Paulo Burini/ Getty Images
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No geral, a dengue apresenta quatro sorotipos. Isso significa que uma única pessoa pode ser infectada por cada um desses
micro-organismos e gerar imunidade permanente para cada um deles. Ou seja, é possível ser infectado até quatro vezes Bloomberg Creative Photos/ Getty Images
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Os primeiros sinais, geralmente, não são específicos. Eles surgem cerca de três dias após a picada do mosquito e podem incluir: febre alta, que geralmente dura de 2 a 7 dias, dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupções cutâneas, náuseas e vômitos Guido Mieth/ Getty Images
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No período de diminuição ou desaparecimento da febre, a maioria dos casos evolui para a recuperação e cura da doença. No entanto, alguns pacientes podem apresentar sintomas mais graves, que incluem hemorragia e podem levar à morte Peter Bannan/ Getty Images
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Nos quadros graves, os sintomas são: vômitos persistentes, dor abdominal intensa e contínua, ou dor quando o abdômen é tocado, perda de sensibilidade e movimentos, urina com sangue, sangramento de mucosas, tontura e queda de pressão, aumento do fígado e dos glóbulos vermelhos ou hemácias no sangue Piotr Marcinski / EyeEm/ Getty Images
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Nestes casos, os sintomas resultam em choque, que acontece quando um volume crítico de plasma sanguíneo é perdido. Os sinais desse estado são pele pegajosa, pulso rápido e fraco, agitação e diminuição da pressão Image Source/ Getty Images
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Alguns pacientes podem ainda apresentar manifestações neurológicas, como convulsões e irritabilidade. O choque tem duração curta, e pode levar ao óbito entre 12 e 24 horas, ou à recuperação rápida, após terapia antichoque apropriada Getty Images
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Apesar da gravidade, a dengue pode ser tratada com analgésicos e antitérmicos, sob orientação médica, tais como paracetamol ou dipirona para aliviar os sintomas Guido Mieth/ Getty Images
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Para completar o tratamento, é recomendado repouso e ingestão de líquidos. Já no caso de dengue hemorrágica, a terapia deve ser feita no hospital, com o uso de medicamentos e, se necessário, transfusão de plaquetas Getty Images
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Para evitar o risco de dengue grave, os médicos alertam que grávidas e suas famílias devem ter o dobro de atenção para prevenir a infecção.
“As gestantes devem evitar lugares de alta prevalência de casos de dengue, usar calças e blusas com manga, e apostar em repelentes com icaridina, que foram testados durante a gravidez e não trazem nenhum mal à mãe ou aos bebês”, completa Rosiane.
Vacinas para gestantes
Nenhum imunizante autorizado para uso no Brasil pode ser aplicado em gestantes. Tanto a Qdenga, liberada para pessoas de 4 a 60 anos e distribuída pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para jovens entre 10 e 14 anos, quanto a Dengvaxia, indicada dos 6 meses aos 45 anos, são contraindicadas, já que têm como base o vírus atenuado.
“Esse vírus enfraquecido não causa mal nenhum para o indivíduo adulto, mas não temos estudos sobre a ação dele na vacina em crianças muito pequenas, inclusive aquelas ainda dentro do útero materno. Por isso, não são utilizadas. Nos poucos casos onde a gestante recebeu a vacina e não sabia que estava grávida, não houve nenhum dano para o feto e as crianças nasceram sem problemas. Mas são casos isolados que devem ser testados mais profundamente”, explica Neves.
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