Policiais da 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte) cumprem na manhã desta quarta-feira (8/11) cerca de 40 mandados judiciais no Distrito Federal (DF), Piauí e Goiás contra uma facção criminosa suspeita de abastecer a capital federal com quetamina, anestésico para cavalos popular em festas eletrônicas.
O líder da quadrilha, conhecido como “Rei da Keyla”, foi preso.
Entre as determinações judiciais, os investigadores cumprem duas prisões preventivas, quatro temporárias, 18 mandados de busca e apreensão, bem como 16 ordens de bloqueio de contas bancárias e bens em valores que atingem mais de R$ 3,5 milhões.
A operação ocorre em Águas Claras, Ceilândia, Guará, Taguatinga, Vicente Pires, Recanto das Emas, Asa Sul, Paranoá, Arniqueiras, Alexânia (GO) e Teresina (PI).
Em investigação que durou seis meses, os policiais conseguiram mapear uma rota de tráfico de quetamina entre Teresina (PI) e o DF. Essa dinâmica já ocorria há pelo menos cinco anos.
Durante a apuração, uma carga com cerca de 180 frascos de 50 ml da droga foi interceptada, sendo a maior apreensão dessa substância no DF. Nesta quarta, outras dezenas de frascos foram encontrados e ainda são contabilizados.
Do Piauí para o DF
Conforme comprovado pela investigação, a rota do tráfico se iniciava em Teresina, no Piauí, e terminava no DF. Na capital do Piauí, um empresário proprietário de lojas de produtos agroveterinários usava seus CNPJs para adquirir a substância na indústria.
Seus dois filhos também são investigados, um deles sendo o veterinário responsável pela loja e o outro, gerente da empresa.
A droga era remetida ao DF por meio de conhecidas empresas de ônibus que fazem esse trajeto. A viagem leva um dia e meio e tinha como ponto final a Rodoviária do Plano Piloto. Quando a carga chegava, um funcionário da mesma empresa de ônibus comunicava o líder do grupo, que mandava um outro comparsa pegar a encomenda.
A carga de drogas era sempre acompanhada de nota fiscal falsa, indicando a remessa de outros produtos para enganar a eventual fiscalização. Além do fornecedor de Teresina, o traficante possuía um substituto em Alexânia (GO), também proprietário de loja de produtos veterinários.
Quando havia dificuldade de remessas de Teresina, a solução era adquirir com o fornecedor mais próximo.
Já no DF, a droga era estocada no flat do líder, localizado em Águas Claras, de onde era revendida aos usuários finais e enviada a diversos outros pequenos traficantes.
Segundo a Polícia Civil do DF, o líder já possuía extensa ficha criminal, mas vinha conseguindo escapar da Justiça nos últimos 10 anos em decorrência de arquivamentos e prescrições dos casos.
Ele possuía uma Mercedes Benz modelo C180, bem como imóveis em nomes de terceiros para ocultar seu patrimônio. Os investigadores destacaram que o investigado também gostava de ostentar nas redes sociais em baladas e viagens ao exterior, sendo conhecido como o “Rei da Keyla”.
Droga Special K
A cetamina ou quetamina, vendida sob denominações comerciais como Dopalen, Cetamin, Ketalex, entre outros, é uma medicação de uso veterinário. Usada em humanos, a substância induz um estado de transe, proporcionando alívio da dor, sedação, perda de memória e efeitos psicodélicos.
Essa substância causa uma série de danos à saúde, além de deixar seus usuários mais vulneráveis a perigos, devido aos apagões que ela causa. Por conta de seu efeito, a quetamina é uma das drogas utilizadas no “Boa noite, Cinderela”, coquetel manipulado por criminosos para roubar ou estuprar suas vítimas.
De maneira geral, os traficantes desviam essa substância de lojas veterinárias especializadas e de maneira caseira, usando forno de micro-ondas, efetuam processos de evaporação, separando o cloridrato de cetamina em pó do seu diluente. Esse pó é vendido e ingerido de diversas formas, inclusive em misturas com outras drogas.
O frasco de 50 ml da substância era vendido pelo traficante por cerca de R$ 300 a R$ 400 em listas de transmissão do WhatsApp. Em datas precedentes a festas eletrônicas no DF, a procura era intensa, fazendo variar o preço.
Tráfico
Todos os investigados foram indiciados pelos crimes de tráfico de drogas interestadual de forma continuada, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro com penas somadas que ultrapassam os 35 anos de reclusão.
O crime de tráfico de drogas é um crime hediondo com regime de progressão de pena rigoroso e regime inicial fechado.