Aos 68 anos, Paulo José Cunha viveu uma experiência que transformou sua forma de ver o mundo: tornou-se pai pela quinta vez. Jornalista aposentado e professor da Universidade de Brasília (UnB), ele já tinha quatro filhos adultos, mas foi com o nascimento de Augusto — ou Guto, como é carinhosamente chamado — que a rotina dele ganhou novo ritmo.
Hoje, aos 74 anos, Paulo acompanha de perto os passos do filho caçula, de apenas 6 anos. “Os desafios são diários. Meu filho é muito ativo. Tenho que estar alerta o tempo todo. Com certeza, estou mais ativo por causa dele”, conta.
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Com o aumento da expectativa de vida e a melhoria da qualidade da saúde masculina, a paternidade tardia vem se tornando mais comum. Ainda assim, homens que se tornam pais após os 60 anos costumam lidar com comentários indelicados, olhares de estranhamento e uma carga extra de autocrítica.
“Muitas vezes, o preconceito vem do próprio homem. Ele pode se sentir deslocado ao ouvir: ‘Está com seu neto?’, ou diante de perguntas invasivas. Se ele mesmo não estiver confortável com essa escolha, se tiver cedido à pressão da parceira ou da sociedade, há risco de sofrimento emocional”, explica a psicóloga Valmari Cristina Aranha Toscano, da Comissão de Formação Gerontológica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Segundo a especialista, porém, a chegada de um filho na maturidade pode oferecer mais benefícios do que desafios. O cuidado com a criança costuma exigir atualização constante, reforça o senso de responsabilidade e melhora a qualidade de vida. “O pai mais velho precisa se manter ativo, atento, cuidar da alimentação, da saúde física e mental”, complementa Valmari.
Muitos homens mudam hábitos ao se tornarem pais: dirigem com mais atenção, evitam esportes de risco e fazem check-ups regulares. Ter um filho coloca o homem em movimento — fisicamente, cognitivamente e socialmente. Além disso, os vínculos criados nessa fase da vida tendem a ser profundos e afetivos.
“O homem mais velho geralmente tem mais estabilidade e tempo de qualidade para oferecer. Mesmo que o medo de não acompanhar o crescimento dos filhos exista — e é legítimo —, ele pode ser transformado em presença no presente. A gente pode não estar no futuro do filho, mas pode deixar nele memórias que resistem ao tempo”, considera a psicóloga.
Essa presença ativa também muda a maneira como o homem se enxerga como pai. “É importante que ele entenda que não é o avô do próprio filho. Ele é o pai. Pode exercer esse papel de forma diferente, com mais calma ou maturidade, mas sem abrir mão de participar da vida da criança.
Isso exige disposição para aprender, acompanhar o desenvolvimento do filho e respeitar as diferenças geracionais. Não dá para dizer: “no meu tempo era assim”. A criança de hoje vive outro tempo, outra realidade, e isso exige troca, comunicação e respeito mútuo.
Para lidar com as possíveis inseguranças e conflitos que possam surgir, o apoio psicológico pode ser essencial. De acordo com a especialista, a terapia — seja individual, de casal ou familiar — oferece um espaço seguro para refletir sobre os medos, rever decisões e aprender estratégias para lidar com as dificuldades da criação.
“Cada filho é diferente, cada paternidade é única. Viver muitos anos não garante sabedoria automática. O que faz a diferença é a disponibilidade para aprender, escutar e cuidar. E, nesse sentido, buscar ajuda profissional é uma atitude de responsabilidade, não de fraqueza”, observa Valmari.
Disposição para ser um pai presente
No convívio familiar, Guto se tornou o xodó da casa. Paulo conta que os irmãos mais velhos do menino adoram o caçula e que, apesar das suas limitações físicas naturais da idade, o amor e a dedicação se quer diminuíram — pelo contrário. “Me esforço muito mais para estar presente em tudo. A disposição não é a mesma, mas a vontade é maior”, diz.
Enquanto conversava com a reportagem do Metrópoles, Paulo José acompanhava Guto em um jogo de futebol. Sempre atento, entre uma resposta e outra, ele vibrava a cada lance do filho, consciente de que o tempo é precioso.
“É indescritível. Não tem como converter em palavras esse sentimento. Eu com 68 anos e pai de novo, olha que legal!”, conta.
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