Empresa que deu calote em fiéis justifica situação: “Dívidas leoninas”

Depois de embolsar R$ 540 mil de pelo menos 30 fiéis do Distrito Federal que sonhavam — e ainda sonham — em prestigiar o Jubileu da Juventude, a agência de viagens católica Kairós Peregrinações, com sede em Franca (SP), se pronunciou sobre o caso nesta terça-feira (8/7), após os clientes denunciarem quebra de contrato. Sem explicar se vai honrar os contratos ou devolver os valores, a empresa fala em “dívidas leoninas” causadas pela pandemia de Covid-19 e bloqueios de credores, entre outros pontos.

Conforme divulgado pelo Metrópoles nessa segunda-feira (7/7), 30 frequentadores das paróquias Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora do Carmo, em Taguatinga, fecharam contratos individuais de R$ 18 mil com a Kairós Peregrinações para ir ao Jubileu da Juventude, em Roma, em 26 de julho. O Jubileu é um dos principais eventos da Igreja Católica em todo o mundo.

Porém, na última quarta-feira (2/7), representantes da agência de viagens católica procuraram os clientes para falar que não têm mais condições financeiras para executar os contratos e que não havia nenhuma hospedagem reservada.

Em nota enviada à reportagem nesta terça-feira (8/7), a Kairós Peregrinações cita diversas justificativas para o ocorrido, como guerra e coronavírus. “A pandemia da covid-19 enterrou o turismo, quebrando empresas do ramo e fazendo com que as sobreviventes saíssem com dívidas leoninas”, declara. “Ademais, a situação belicosa global igualmente prejudicou nossos negócios, com diversas viagens sendo canceladas por receio da escalada dos conflitos em Israel.”

A Kairós afirma que, ainda assim, seguiu com as atividades, mas um dos credores da empresa teria bloqueado o dinheiro que seria usado para custear a ida ao Jubileu da Juventude. O órgão não revelou o credor.

Por conta do suposto bloqueio, a agência informa que não pode reintegrar o prejuízo dos clientes neste momento. “Estamos buscando todo o suporte e apoio para que todos os lesados sejam compensados. E o que fazemos na prática? Ainda não está muito claro”, diz a Kairós. “Diante de toda a situação e a pressão da mídia, não conseguimos elaborar um plano com consciência e clareza.”

A empresa alega também que estudou acionar outras agências de viagens para enviar os fiéis, “mas, diante da divulgação da quebra e acusações de golpe, o nosso trabalho foi muito comprometido”. “Talvez algum dia possamos reestruturar nossas viagens com o objetivo de satisfazer os prejudicados”, pontua.

Por fim, o órgão pede “paciência e, sobretudo, apoio”. “Como católicos, aceitamos nossa cruz e não vamos fugir de nossas responsabilidades.”

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Entenda o caso

Além dos 30 fiéis das paróquias Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora do Carmo, em Taguatinga, há pelo menos 38 pessoas da paróquia Santa Maria dos Pobres, no Paranoá, passando pela mesma situação. No caso deles, os valores podem ser diferentes dos R$ 18 mil pagos pelos católicos das igrejas de Taguatinga.

Somando todos os lesados do DF, pelo menos 68 pessoas foram afetadas com o cancelamento repentino da Kairós Peregrinações. Além das vítimas da capital, grupos de Manaus (AM), Porto Velho (RO) e Orlândia (SP) teriam sofrido o mesmo calote.

O prejuízo financeiro é grande, mas não é a principal preocupação do engenheiro civil brasiliense. “Já temos um advogado atuando na nossa causa, porém, isso é para que outras pessoas não precisem passar pelo mesmo que nós. Nosso interesse é ir ao Jubileu”, afirma Matheus Machado.

“Ainda nem consegui pensar na dimensão dos valores perdidos, porque o que mais me doeu foi o fato de que uma pessoa gananciosa interferiu no chamado vocacional que Deus fez na minha vida”, lamenta Matheus. “Não é sobre o sonho de ir pra Europa, não é sobre turismo, é sobre tirar meu livre direito de exercer publicamente a minha fé cristã”, pondera.

Vaquinha

Sem desanimar do propósito, o grupo das paróquias de Taguatinga prepara uma vaquinha para tentar ir ao Jubileu, mesmo com o rombo financeiro causado pela empresa de turismo. “Também estamos preparando uma rifa, seguimos vendendo lanches nas missas e pedindo contribuições a empresários, em especial àqueles possam adotar um peregrino e fazer a compra direta de passagens como doação”, explica Matheus. “Faremos tudo que for possível pra viver o evangelho.”

Aos interessados em ajudar, basta clicar no link para ter acesso à vaquinha e à rifa solidária.

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