Em meio à maior tragédia ambiental urbana em curso no Brasil, o Ministério Público de Alagoas (MPAL) optou por homenagear, em reunião oficial realizada na quinta-feira (24), a promotora de Justiça Marluce Caldas, recentemente indicada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). O Colégio de Procuradores de Justiça (CPJ), em nome da instituição, celebrou a indicação com entusiasmo, mesmo diante de declarações da promotora que têm causado desconforto entre vítimas da tragédia causada pela mineradora Braskem.
Marluce atuou diretamente no caso Braskem, mas não escondeu, em suas manifestações públicas, sua visão sobre os danos provocados. Para ela, mais importante do que as perdas individuais, que envolvem casas afundadas, vidas desestruturadas, famílias deslocadas e histórias apagadas, são os impactos coletivos. “Não importa somente o dano individual, pois, mais do que nunca, é preciso focar com urgência no dano coletivo”, afirmou, sugerindo que as dores particulares de milhares de moradores dos bairros atingidos podem ou devem ser colocadas em segundo plano.
Ainda assim, durante a reunião, o procurador-geral de Justiça, Lean Araújo, classificou sua indicação como um “marco” para o Ministério Público alagoano e elogiou sua “dedicação incansável à Justiça”. O evento também aprovou, por sugestão da procuradora Denise Guimarães, uma moção de reconhecimento à força-tarefa do MPAL que atua no caso Braskem, a mesma que Marluce integrou.
Não passou despercebida a visita, dois dias antes, do conselheiro do CNJ João Paulo Shoucair, que reforçou os elogios à atuação da força-tarefa. Mas para quem vive nas áreas destruídas pela mineração, a homenagem soa como ironia. O reconhecimento institucional se antecipa à justiça concreta para os que perderam tudo.
A reunião também tratou de outros temas institucionais, como a oferta de um curso voltado ao enfrentamento ao feminicídio. Mas a nota de destaque foi, sem dúvida, a exaltação de Marluce Caldas, promovida ao topo da magistratura brasileira enquanto as vítimas da Braskem ainda esperam por respostas e reparações.
Marluce, por sua vez, agradeceu: “Sinto orgulho de ser a primeira mulher que representará o Ministério Público brasileiro dentro do STJ. Quando chegar lá, darei o meu melhor, a minha vida e o meu tempo em busca de justiça para o povo brasileiro”.
Resta saber qual povo será esse e quais vozes ela continuará escolhendo não escutar.