Escalada de violência: no DF, 75% dos feminicidas tinham antecedentes

Desde que a Lei do Feminicídio entrou em vigor, em 2015, o Distrito Federal contabilizou 220 autores deste tipo de crime. A grande maioria deles possuía antecedentes criminais antes de se tornar feminicida.

A informação consta no Estudo dos Suspeitos/Autores de Feminicídio Consumado no DF, elaborado pela Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF). 75,9% dos autores já haviam sido presos por algum tipo de crime antes de cometer feminicídio; 24,1% não tinham antecedentes criminais.

Os crimes mais frequentes registrados nas fichas dos feminicidas são ameaça (17,31%), lesão corporal (15,15%) e calúnia, difamação ou injúria (13,29%). O estudo também destaca vias de fato (8,04%) e resistência/desobediência/desacato (6,96%).

Veja em detalhes no gráfico:

Como é possível ver no gráfico, o número de ocorrências é maior do que o de autores. Isso porque cada autor soma, em média, 5,5 ocorrências anteriores aos crimes de feminicídio.

Ainda segundo a SSP-DF, em 16% dos casos, os antecedentes incluem os chamados procedimentos de apuração de ato infracional (PAAIs), o que indica que os autores se envolveram em condutas violentas antes da maioridade.

O estudo leva em consideração o período entre março de 2015 e 22 de agosto de 2025.

64% das vítimas sofreram violência doméstica

O mesmo levantamento da Secretaria de Segurança Pública do DF aponta que mais da metade das mulheres vítimas de feminicídio na capital sofreram violência doméstica antes de morrer.

Desde 2015, 226 mulheres foram mortas no DF, e 144 delas (64%) sofreram violência doméstica. Destas, porém, apenas 48,1% havia registrado ocorrência policial ou depoimento em processo judicial apontando ter sido alvo de violência doméstica. Ou seja, 16% das mulheres que foram agredidas em casa e foram mortas em seguida não registraram formalmente as agressões.

Os dados comprovam a subnotificação em casos de violência doméstica no DF, o que, para a Secretaria, é “fator crítico na prevenção do feminicídio” e ressalta a importância da denúncia contra o agressor.

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36% dos assassinos fizeram uso de droga

O mesmo compilado da SSP-DF aponta que 220 homens foram indicados como autores de feminicídio no DF nos últimos 10 anos. Do total, pelo menos 36,4% estavam sob efeito de substâncias ilícitas no momento do crime.

Entre os autores, 31,4% declararam fazer uso de álcool no momento do crime, enquanto 36,4% relataram o uso de drogas ilícitas. Dentre os autores que haviam informações sobre o uso de entorpecentes, destaca-se a cocaína (54%) e a maconha (38%).

O delegado Marcelo Zago Ferreira, coordenador da câmara técnica de monitoramento de homicídios e feminicídios da SSP-DF, aponta que também há subnotificação neste recorte de uso de drogas e álcool. Isso porque nem sempre é possível confirmar, ao longo da investigação, se o agressor havia consumido alguma das substâncias.

“A gente parte de um número mínimo. No estudo, no mínimo 31% estavam sob efeito de álcool e no mínimo 38% sob efeito de drogas. Mas esse percentual pode ser maior, porque muitas vezes essa informação não é coletada em nenhuma fase do processo”, explica Ferreira. “Não é sempre que o suspeito é submetido a perícia. Às vezes, a identificação do uso é simples, quando há embriaguez evidente. Em outros casos, não.”

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