Uma pesquisa da Universidade de Aarhus, Dinamarca, identificou que uma forte sincronia entre os ritmos elétricos do estômago e a atividade cerebral está relacionada diretamente a níveis mais elevados de sofrimento psicológico, como ansiedade, depressão, estresse e fadiga.
Para o estudo, 243 participantes foram submetidos a um eletrogastrograma (para registrar os ritmos estomacais), ressonância magnética funcional em repouso (fMRI) e uma extensa bateria de questionários que avaliaram saúde mental e bem-estar. A investigação foi publicada em 30 de julho na revista Nature Mental Health.
Os dados obtidos foram cruzados e alguns padrões de interocepção, que é a percepção dos sinais internos do corpo, foram identificados e relacionados ao estado emocional.
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Os resultados apontaram especificamente que uma maior sincronização entre a atividade cerebral e o ritmo do estômago — que ocorre aproximadamente a cada 20 segundos mesmo na ausência de digestão — está associada à pior saúde mental.
Surpreendentemente, essa sincronia mais intensa tem correlação com maiores níveis de ansiedade, depressão, estresse e fadiga — enquanto uma sincronização mais tênue indicou, em média, melhor bem-estar e qualidade de vida.
O estudo conduzido pela pesquisadora Leah Banellis, que faz parte do Centro de Neurociência Funcionalmente Integrativa da instituição, ressalta que “intuitivamente, supomos que uma comunicação mais forte entre corpo e cérebro indique saúde”, o que não é o caso.
Diferente de outros ritmos corporais como respiração ou batimentos cardíacos, em que a sintonia com o cérebro tende a favorecer a regulação emocional, no caso do estômago a comunicação pode indicar um estado de estresse exacerbado.
Indivíduos com essa assinatura estatística podem estar com o sistema nervoso interno em alerta elevado — uma “assinatura” fisiológica pouco compreendida, mas com potencial para se tornar indicador clínico.
A pesquisa indica também que rotinas alimentares e até medicamentos podem interferir nos ritmos gástricos, o que abre caminho para futuras intervenções personalizadas em saúde mental.
Ainda que não se trate de uma relação causal comprovada, o estudo amplia a compreensão sobre como o corpo — e em especial o aparelho digestivo — participa ativamente das emoções. O próximo passo? Avaliar, em grupos clínicos, se essa sincronia pode prever crises emocionais ou até indicar eficácia de terapias baseadas nos ritmos corporais.
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