Estudo sobre autismo identifica 4 subtipos diferentes do transtorno

Pesquisadores da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e da Fundação Simons identificaram quatro subtipos clinicamente e biologicamente distintos de autismo. O estudo, publicado nessa terça-feira (8/7) na revista científica Nature Genetics, marca um avanço importante na compreensão da base genética da condição e pode abrir caminhos para tratamentos mais personalizados no futuro.

Os cientistas analisaram dados de mais de 5 mil crianças participantes do Spark, um dos maiores estudos genéticos sobre autismo, financiado pela Fundação Simons. Com auxílio de um modelo computacional avançado e uma abordagem centrada na pessoa, a equipe agrupou os participantes com base em mais de 230 características clínicas, comportamentais e de desenvolvimento, como interação social, comportamento repetitivo e marcos de fala e locomoção.

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Essa análise de dados revelou quatro grupos principais, cada um com trajetórias de desenvolvimento e perfis genéticos próprios. Os pesquisadores afirmam que os achados ajudam a explicar por que os estudos genéticos anteriores tinham resultados tão diversos e podem facilitar diagnósticos mais precoces e tratamentos individualizados.

Os quatro subtipos de autismo identificados

Além das diferenças clínicas, os pesquisadores encontraram padrões genéticos distintos para cada grupo. As crianças amplamente afetadas, por exemplo, tinham uma quantidade maior de mutações — alterações genéticas que não foram herdadas dos pais. Já as crianças com autismo misto e atraso no desenvolvimento apresentaram maior quantidade de variantes raras herdadas da família.

“Essas descobertas apontam para hipóteses específicas que ligam vários caminhos a diferentes apresentações de autismo”, afirmou Aviya Litman, coautora do estudo e doutoranda em Princeton, em comunicado institucional sobre o estudo.

Os pesquisadores também descobriram que o momento em que as alterações genéticas influenciam o desenvolvimento varia entre os subtipos. Em alguns casos, os genes ligados ao autismo agem ainda na gestação. Em outros, como no grupo de Desafios Sociais e Comportamentais, os genes associados começam a atuar apenas na infância, explicando por que esses sintomas costumam aparecer mais tarde.

Segundo os autores, a descoberta de subtipos biológicos permite que médicos e cientistas deixem de buscar uma única causa para o autismo e passem a investigar trajetórias distintas para cada perfil. “É um paradigma totalmente novo”, explica a coautora Chandra Theesfeld, gerente de pesquisa do Instituto Lewis-Sigler e da iniciativa Princeton Precision Health.

A expectativa é que, no futuro, seja possível identificar em qual subtipo uma criança se encaixa logo após o diagnóstico, possibilitando tratamentos mais adequados e personalizados. Isso pode incluir desde terapias específicas até adaptações no ambiente escolar ou no trabalho.

A psicóloga clínica Jennifer Foss-Feig, coautora do estudo, destacou que essa compreensão pode trazer mais clareza para as famílias. “Saber qual subtipo de autismo seu filho tem pode oferecer mais clareza, cuidado personalizado, apoio e comunidade”, afirma.

Embora ainda seja cedo para aplicar esses subtipos no diagnóstico clínico diário, o estudo oferece uma boa estrutura para futuras pesquisas. A equipe de Princeton e da Fundação Simons pretende aprofundar as investigações sobre os mecanismos biológicos de cada subtipo e avaliar se outras condições do neurodesenvolvimento, como TDAH ou deficiência intelectual, também podem ser divididas em grupos biológicos semelhantes.

“Com esses achados, estamos abrindo portas não só para entender melhor o autismo, mas também outras condições complexas e heterogêneas”, concluiu Theesfeld.

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