“CALA A BOCA JÁ MORREU, QUEM MANDA EM MINHA BOCA SOU EU.” Foi com essa frase contundente que a advogada e ativista Adriana Mangabeira Wanderley respondeu à tentativa do ex-deputado federal João Caldas (PL) de silenciá-la na Justiça.
No processo nº 0707966-65.2025.8.02.0001, a advogada Adriana iniciou sua defesa citando um voto histórico da ministra Carmen Lúcia, que trata da importância da liberdade de expressão e do direito de se manifestar:
“Na ciranda de roda da minha infância, alguém ficava no centro gritando: ‘CALA A BOCA JÁ MORREU, QUEM MANDA EM MINHA BOCA SOU EU.’ O tempo ensinou-me que era uma musiquinha, não uma realidade. Tentar calar o outro é uma constante. Mas na vida aprendi que quem, por direito, não é senhor do seu dizer, não se pode dizer senhor de qualquer direito.
Também aprendi que a vida conjuga-se no plural. A garantia de falar do outro, que me cumpre, hoje, Juíza, garantir, pode ter como conteúdo a minha vida.” (Trecho do voto da Ministra Carmen Lúcia na ADI 4815/DF).
A referência não foi à toa, o ex-deputado federal João Caldas, pai do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), entrou com um processo contra Mangabeira pedindo a remoção de suas redes sociais e uma indenização de R$ 10 mil, alegando que ela fez postagens ofensivas contra ele e sua família. A defesa da advogada, porém, vê a ação como um claro caso de censura e tentativa de silenciamento, ao tentar impedir que denúncias sobre a gestão pública sejam debatidas pela sociedade.
A ação questiona postagens feitas no perfil @politicaalagoana, no Instagram, onde Mangabeira criticou a trajetória política de Caldas e mencionou seu envolvimento na Operação Sanguessugas, que investigou desvios de recursos da saúde. Para a advogada, o processo representa censura e tentativa de intimidação, uma estratégia para apagar o passado e impedir questionamentos sobre a gestão da capital alagoana.
A advogada, conhecida por sua atuação firme contra injustiças e o mau uso do dinheiro público, também se tornou uma voz ativa na defesa dos injustiçados no país, sempre denunciando irregularidades e cobrando transparência das autoridades. Seu posicionamento crítico tem incomodado setores políticos, e a ação de João Caldas parece uma tentativa de abafar questionamentos que podem respingar na administração municipal.
Ataque à liberdade de expressão e interesses políticos
O caso acontece justamente quando o Brasil celebra a indicação do filme “Ainda Estou Aqui” ao Oscar, um documentário que denuncia censura, perseguição política e a luta por justiça. A história do filme ecoa na tentativa de silenciamento contra Mangabeira: enquanto a obra cinematográfica mostra a importância de dar voz aos que lutam contra opressão, em Maceió, a Justiça é acionada para calar uma das vozes mais corajosas do país.
A advogada é conhecida por seu papel ativo em fiscalizar o uso do dinheiro público e denunciar irregularidades na gestão municipal. Seu trabalho ganhou ainda mais destaque recentemente, quando passou a questionar publicamente o acordo firmado entre a Prefeitura de Maceió e a Braskem, empresa responsável por um dos maiores desastres urbanos do mundo. O acordo tem sido amplamente criticado por especialistas e movimentos sociais, que alegam favorecimento à empresa em detrimento da população afetada. Para a defesa da advogada, o processo movido por João Caldas (PL) pode ser uma tentativa de blindar a gestão municipal contra denúncias.
Liberdade de expressão não é crime
A defesa de Adriana Mangabeira ressalta que suas publicações não contêm difamação, mas sim o legítimo exercício do direito constitucional de criticar figuras públicas e cobrar transparência na gestão do dinheiro público.
Os advogados citam precedentes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que reforçam que agentes públicos devem estar sujeitos ao escrutínio da sociedade. “A crítica política é parte essencial da democracia. O uso da Justiça para calar vozes dissonantes é um atentado à liberdade de expressão”, afirmam.
A Justiça agora terá que decidir se acata o pedido de Caldas ou se reafirma o direito da sociedade de questionar e fiscalizar o poder público. O desfecho do caso pode impactar o debate nacional sobre transparência, censura e o uso do Judiciário para restringir críticas políticas no Brasil.