Filhos de santo são suspeitos de acobertar fuga de líder religioso

Ao menos duas das cinco vítimas dos abusos sexuais praticados por Leandro Matos afirmaram que o pai de santo está recebendo apoio de seguidores, conhecidos como filhos de santo. O religioso é considerado foragido.

Todas as vítimas frequentavam um terreiro de umbanda, em Sobradinho, comandado por Leandro. O líder religioso chegava a simular “incorporações”, afirmando às vítimas que as relações sexuais haviam sido determinadas por entidades espirituais.

De acordo com o delegado-chefe da 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho I), Hudson Maldonado, um grupo de cerca de 20 pessoas estaria fornecendo fuga e veículos para o Pai Leandro de Oxossi.

Tais filhos de santo estariam, ainda, tentando intimidar as vítimas, que relataram estar sendo seguidas por alguns automóveis.

“Dar fuga à pessoa foragida é crime de favorecimento pessoal, com pena de até seis meses de prisão. Ameaçar vítima com processo em curso é delito de coação no curso do processo, com pena de até seis anos de reclusão”, disse o delegado.

Ainda, de acordo com Maldonado, caso os seguidores de Leandro estejam unidos para dar fuga ao pai de santo e ameaçar as vítimas, poderão ser responsabilizados por associação criminosa. “A 13ªDP investiga o caso, já estando de posse de dados de vários suspeitos”, afirmou.

Denúncias

A Justiça expediu a prisão preventiva do religioso, pedida pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Mas ele fugiu após as denúncias reveladas pela coluna Na Mira, dando conta de que ao menos cinco mulheres e uma adolescente, todas entre 17 e 30 anos, foram estupradas por Leandro.

Todos os casos ocorreram entre maio de 2024 e junho deste ano, tendo sempre como pano de fundo a exploração da fé. O pai de santo teria criado um ambiente de confiança, fazendo com que as mulheres acreditassem que estavam sendo acolhidas pelo religioso. O suspeito tinha o costume de escolher a mulher que o interessava e a convidava para passar o fim de semana na propriedade rural onde funciona o terreiro.

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Falsa incorporação

As vítimas ainda relataram que, durante os estupros, o líder religioso dizia estar possuído pela entidade conhecida como Zé Pelintra, figura popular em religiões de matriz africana, e alegava que os crimes sexuais faziam parte de um processo espiritual de “cura” ou “libertação energética”.

Em todos os relatos, o padrão de Leandro era o mesmo: uso de pretexto religioso, manipulação emocional e rituais em que as vítimas ficavam vulneráveis, isoladas e sem possibilidade de pedir socorro.

“Ele dizia que um orixá havia me escolhido, que meu corpo era um canal de energia e que o sexo era necessário para me libertar dos maus espíritos”, contou uma das vítimas.

Quando a jovem passou a dormir no local, Leandro costumava oferecer chá e suco a ela. No entanto, pelas manhãs, a vítima acordava com cólicas e sangramentos ininterruptos.

Em uma dessas noites, o pai de santo entregou uma das bebidas à adolescente, que tomou apenas um gole. No meio da madrugada, ela acordou com o religioso nu, deitado sobre ela.

Ao perceber que a vítima estava consciente, o pai de santo teria tampado a boca dela com as mãos, para evitar que a garota gritasse, e cometido o estupro.

No dia seguinte, Leandro a teria ameaçado e dito que, se ela contasse sobre o crime para alguém, o irmão dela iria “pagar”, pois o líder religioso “faria macumba” para matar o garoto. Assim, os estupros continuaram por semanas

 

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