Gordura e massa muscular podem prolongar vida de pacientes com câncer

Comer bem e manter o corpo nutrido pode ser decisivo para quem é diagnosticado com câncer de cabeça e pescoço. Dois estudos conduzidos por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e apoiados pela Fapesp mostram que a quantidade de gordura e de massa muscular do paciente influencia diretamente o tempo de vida e a resposta ao tratamento.

O primeiro estudo, publicado em março na revista Frontiers in Nutrition, analisou 132 pacientes com câncer de cabeça e pescoço em estágio avançado. A equipe utilizou tomografias para avaliar a composição corporal, medindo a quantidade de gordura e de massa muscular na região do pescoço.

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Os resultados mostraram que os pacientes com mais tecido adiposo viveram o dobro de tempo em relação aos que tinham baixos índices de gordura — 27,9 meses contra 13,9 meses, em média. Segundo a nutricionista e pesquisadora Maria Carolina Santos Mendes, coorientadora dos trabalhos, a descoberta reforça a importância de realizar uma avaliação nutricional, capaz de orientar estratégias que aumentem as reservas corporais ainda no início do tratamento.

Além disso, a pesquisa mostrou que a preservação da massa muscular também está associada à maior sobrevida. Pacientes com mais musculatura viveram, em média, 22,9 meses, enquanto aqueles com menor quantidade sobreviveram apenas 8,6 meses.

Câncer de cabeça e pescoço

Entendendo o paradoxo da obesidade

A relação entre gordura corporal e câncer ainda levanta muitas perguntas. Embora a obesidade seja um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de tumores, alguns trabalhos recentes sugerem que o tecido adiposo pode exercer um papel protetor em pacientes já diagnosticados com a doença, um fenômeno conhecido como paradoxo da obesidade.

No caso dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço, o estudo da Unicamp observou justamente esse efeito. A presença de gordura corporal em níveis adequados pareceu ajudar o organismo a resistir melhor à agressividade do tumor e aos efeitos da quimioterapia e radioterapia.

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Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer é um dos principais problemas de saúde pública no mundo e é uma das quatro principais causas de morte antes dos 70 anos em diversos países. Por ser um problema cada vez mais comum, o quanto antes for identificado, maiores serão as chances de recuperação

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Por isso, é importante estar atento aos sinais que o corpo dá. Apesar de alguns tumores não apresentarem sintomas, o câncer, muitas vezes, causa mudanças no organismo. Conheça alguns sinais que podem surgir na presença da doença

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A perda de peso sem nenhum motivo aparente pode ser um dos principais sintomas de diversos tipos de cânceres, tais como: no estômago, pulmão, pâncreas, etc.

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Mudanças persistentes na textura da pele, sem motivo aparente, também pode ser um alerta, especialmente se forem inchaços e caroços no seio, pescoço, virilha, testículos, axila e estômago

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A tosse persistente, apesar de ser um sintoma comum de diversas doenças, deve ser investigada caso continue por mais de quatro semanas. Se for acompanhada de falta de ar e de sangue, por exemplo, pode ser um indicativo da doença no pulmão

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Outro sinal característico da existência de um câncer é a modificação do aspecto de pintas. Mudanças no tamanho, cor e formato também devem ser investigadas, especialmente se descamarem, sangrarem ou apresentarem líquido retido

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A presença de sangue nas fezes ou na urina pode ser sinal de câncer nos rins, bexiga ou intestino. Além disso, dor e dificuldades na hora de urinar também devem ser investigados

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Dores sem motivo aparente e que durem mais de quatro semanas, de forma frequente ou intermitente, podem ser um sinal da existência de câncer. Isso porque alguns tumores podem pressionar ossos, nervos e outros órgãos, causando incômodos

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Azia forte, recorrente, que apresente dor e que, aparentemente, não passa, pode indicar vários tipos de doenças, como câncer de garganta ou estômago. Além disso, a dificuldade e a dor ao engolir também devem ser investigadas, pois podem ser sinal da doença no esôfago

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A força da composição corporal em casos avançados

Um segundo estudo, publicado em agosto na revista Clinical Nutrition ESPEN, analisou 101 pacientes com câncer de cabeça e pescoço metastático ou recorrente atendidos no Hospital de Clínicas da Unicamp.

Os resultados mostraram que a musculatura faz diferença, com participantes de baixa massa muscular sobrevivendo por até 24 meses e alguns com mais músculos ainda vivos após 40 meses.

Segundo Mendes, os dois estudos deixam claro que a composição corporal deve ser vista como parte essencial do tratamento oncológico. Como as tomografias já fazem parte da rotina médica, é possível aproveitar esses exames para avaliar músculo e gordura sem custo adicional.

A pesquisadora destaca ainda que não é apenas a quantidade de gordura que importa, mas também seu funcionamento metabólico. Os autores acreditam que, compreender como o corpo utiliza esse tecido pode ajudar a desenvolver novas abordagens terapêuticas e a ajustar a alimentação de forma mais personalizada.

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