Kimchi, tradicional prato coreano, pode fortalecer o sistema imune

*O artigo foi escrito pela professora de psicologia Rachel Woods, da Universidade de Lincoln, no Reino Unido, e publicado na plataforma The Conversation Brasil.

O kimchi é apreciado há séculos na Coreia. Mas o prato picante de repolho fermentado ganhou popularidade recentemente em outras partes do mundo, não apenas por seu sabor, mas também por seu potencial de influenciar positivamente os milhares de microrganismos importantes que vivem em nosso intestino, bem como na nossa saúde em geral.

Um estudo recente sugere que o kimchi também pode ajudar a fortalecer o sistema imune.

O estudo analisou 13 adultos com sobrepeso durante um período de 12 semanas. Os participantes foram aleatoriamente divididos em três grupos. Um grupo recebeu um placebo, enquanto os outros dois grupos receberam dois tipos diferentes de kimchi em pó (kimchi que foi liofilizado e colocado em cápsulas).

Leia também

O primeiro tipo de kimchi em pó foi fermentado naturalmente usando micróbios já presentes no ambiente. O segundo tipo foi fermentado com uma cultura bacteriana selecionada, em vez de depender de micróbios naturais. A quantidade de kimchi em pó que os participantes receberam diariamente era aproximadamente equivalente a comer 30 gramas de kimchi fresco.

Amostras de sangue foram coletadas antes e depois do estudo e analisadas usando uma técnica que mostra o que cada célula imune está fazendo, em vez de fornecer uma média geral. Isso dá uma visão detalhada de como o sistema imune respondeu.

O estudo descobriu que o kimchi afetava o sistema imune de maneira direcionada. Ele aumentava a atividade das células apresentadoras de antígenos (APCs, na sigla em inglês). Essas são células imunes que ingerem patógenos, processam-nos e mostram pedaços desses patógenos em sua superfície para que as células T auxiliares do corpo (que coordenam a resposta imune geral) saibam que devem montar uma resposta contra esses patógenos específicos.

O kimchi também aumentou a atividade de certos genes que agem como interruptores, ajudando essas células imunes a enviar sinais mais claros às células T.

Também houve alterações genéticas nas células T auxiliares que as fizeram reagir mais rapidamente a qualquer coisa que desencadeasse uma resposta imune. Como as células T auxiliares coordenam as respostas imunes, essas alterações significam que elas estão mais bem equipadas para ajudar outras células imunes a combater infecções de forma eficaz.

Kimchi é um alimento fermentado feito com repolho e muito tradicional na cultura coreana

A maioria das outras células imunes permaneceu a mesma, o que significa que o kimchi teve como alvo as células T auxiliares, em vez de ativar todo o sistema imune. Manter esse equilíbrio é importante porque o sistema imune deve ser capaz de responder às infecções de forma eficaz, evitando inflamações excessivas que podem danificar os tecidos.

No geral, os resultados sugerem que o kimchi ajuda o sistema imune a responder às ameaças de forma mais eficaz, sem causar muita inflamação. Ambos os tipos de kimchi produziram esses efeitos — embora o kimchi com a cultura bacteriana selecionada tenha mostrado um efeito ligeiramente mais forte. Aqueles que tomaram o placebo não apresentaram alterações imunes.

Essas descobertas apontam para benefícios potenciais na defesa contra vírus, na resposta a vacinas e na regulação da inflamação — embora sejam necessárias mais pesquisas.

Função das células imunes

Vale ressaltar que este estudo foi pequeno e focou nas alterações nas células imunes, não nos resultados reais para a saúde. Portanto, ainda não sabemos se comer kimchi dessa forma reduziria infecções ou inflamações na vida cotidiana.

No entanto, o estudo fornece uma explicação molecular plausível de como os alimentos fermentados podem influenciar a função imune. Isso nos diz mais do que podemos aprender com estudos que apenas observam os hábitos das pessoas. Ele relaciona um alimento fermentado comum a efeitos mensuráveis nas células imunes — apoiando a ideia de que os alimentos fermentados podem ser usados estrategicamente para melhorar a regulação imune e o equilíbrio imune geral.

O kimchi não é o único alimento fermentado que pode trazer benefícios imunes. Outros alimentos, como iogurte, kefir, chucrute, missô e kombucha, contêm micróbios vivos e metabólitos que têm um efeito positivo no microbioma e podem influenciar a função imune.

Alguns estudos também demonstraram que produtos lácteos fermentados podem aumentar as bactérias intestinais benéficas e modular as respostas imunes, incluindo a atividade das células T e dos anticorpos.

Os efeitos exatos dos alimentos fermentados dependerão de muitas variáveis, incluindo os micróbios presentes, o método de fermentação e o microbioma intestinal único de cada indivíduo.

Diferentes alimentos fermentados também podem ter efeitos diferentes devido aos micróbios que contêm. É por isso que incluir uma variedade de alimentos fermentados pode ser mais benéfico do que depender de um único tipo.

Não há uma recomendação estabelecida sobre a quantidade de alimentos fermentados a ser consumida. Neste estudo, os participantes consumiram o equivalente a 30 gramas de kimchi por dia, uma quantidade viável para a maioria das pessoas.

Embora as pesquisas ainda estejam em andamento, incluir uma variedade de alimentos fermentados em sua dieta é uma maneira fácil e agradável de explorar os benefícios potenciais para o seu intestino e sistema imune.

Experimente novas opções para descobrir o que você mais gosta, mantenha alguns dos seus favoritos à mão na geladeira e encontre maneiras simples de adicioná-los às refeições diárias. Com o tempo, esses pequenos hábitos regulares podem ajudar a manter a saúde intestinal e imune.

Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!

Sair da versão mobile