Para minimizar a falta de neonatologistas nas salas de parto públicas do Distrito Federal a Secretaria de Saúde (SES-DF) começou a remanejar profissionais. Mas, a transferência ameaça deixar hospitais desfalcados e sem equipes para garantir o nascimento seguro de bebês. E, por isso, segundo servidores, há risco de fechamento de leitos.
De acordo com o Sindicato dos Médicos (SindMédico-DF), a pasta determinou a devolução de neonatologistas cedidos ao Instituto de Gestão Estratégica da Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), que atuam no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), para os hospitais regionais do Gama (HRG) e de Taguatinga (HRT).
Do ponto de vista do sindicato, a segunda transferência paliativa com consequências negativas é a realocação de neonatologistas lotados no Hospital Regional de Brazlândia (HRBz) para Ceilândia (HRC).
Leia também
-
“Pele rasgada”: família de paciente reclama de maus-tratos em UPA
-
Pacientes sofrem com “apagão” do serviço de home care no DF
“A devolução de neonatologistas de Santa Maria deixa descoberto o único serviço de neonatolgia com funcionamento pleno na rede pública de Saúde do DF. A realocação dos três do Hospital de Brazlândia deixa uma cidade com mais de 80 mil habitantes completamente desassistida na especialidade da neonatologia. Em nenhum dos casos o deficit das unidades de destino dos profissionais será resolvido”, alertou o presidente do sindicato, Gutemberg Fialho.
Além disso, segundo pesquisa no banco de dados da rede pública, o número de neonatologistas da rede caiu de 170 para 129, entre fevereiro de 2019 e agosto de 2025. A crise é agravada pela redução do número de pediatras e médicos intensivistas pediatras, que caíram respectivamente de 541 para 410 e de 65 para 42.
Para evitar a desassistência e o fechamento de leitos, a procuradora do Ministério Público de Contas (MPC-DF) Cláudia Fernanda apresentou um pedido cautelar para suspender a transferência do profissionais ao Tribunal de Contas (TCDF). Na avaliação da procuradora, a situação é grave.
Risco
O Metrópoles conversou com um neonatologista. Para evitar eventuais represálias, sua identidade será mantida em sigilo. “Vai ter desassistência e há risco de fechamento de leitos. A neonatologia não tem cadastro reserva, seja em horas, seja com a experiência necessária”, pontuou.
Segundo o profissional, a transferência fragilizou a moral das equipes nos hospitais. E para piorar, os neonatologistas pensam em pedir exoneração. “Nosso sentimento é que está tudo bagunçado. E essa mudança forçada é assédio. E pior não vai resolver o problema. Vai agravar”, argumentou.
Outro lado
A Secretaria de Saúde informou que possui atualmente 143 médicos neonatologistas no quadro, 464 pediatras e 59 intensivistas pediátricos. A pasta declarou que tem atuado de forma contínua para ampliar o quadro de profissionais da rede pública de saúde.
“Ressaltamos que a escassez de médicos neonatologistas tem se intensificado em razão de aposentadorias. Como medida para mitigar esse cenário, foi proposta a transferência de quatro profissionais de Brazlândia para Ceilândia, sugestão que ainda está em análise”, argumentou.
Segundo a pasta, e o Hospital de Brazlândia não dispõe de unidade de terapia intensiva (UTI) Neonatal, mas sim de um berçário acompanhado por pediatras sem especialização em neonatologia. “Dessa forma, a eventual transferência dos especialistas não acarretará prejuízo ao atendimento local nem implicará o fechamento de serviços, visto que o acompanhamento dos recém-nascidos poderá ser mantido pelos pediatras”, justificou.
De acordo com a secretaria, está prevista a contratação de médicos neonatologistas por meio de pessoa jurídica (PJ), cujos detalhes estão em fase de definição.
Contratações
Segundo a pasta, no início de 2025, o Governo do Distrito Federal (GDF) abriu chamamento público para a contratação temporária de 200 médicos. Além disso, nos anos de 2024 e 2025, a SES/DF, nomeou 448 técnicos de enfermagem, 294 enfermeiros, e 733 médicos especialistas efetivos, todos aprovados em concurso público.
Além de 662 médicos generalistas e 13 médicos neonatologistas, todos através de processo seletivo temporário. Também foi realizada a ampliação da carga horária de 20 para 40 horas semanais para 1.018 profissionais.
“A SES-DF reconhece os desafios enfrentados para o provimento de profissionais de saúde, realidade que afeta tanto o Sistema Único de Saúde (SUS) quanto o setor privado. A recomposição das equipes está entre as prioridades da gestão, mas depende também da disponibilidade”, concluiu.
Nessa segunda-feira (15/9), a pasta convocou nove médicos generalistas aprovados no processo seletivo, realizado em março deste ano.
Iges-DF: TCDF
Segundo o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF), a gestão deu início, em parceria com a secretaria, ao processo de retorno de servidores cedidos pela SES ao instituto nos últimos anos. A medida contempla, incialmente, aproximadamente 390 servidores.
O retorno dos servidores também atende a uma determinação do TCDF. O instituto garantiu que o processo será feito de forma gradual e coordenada, garantindo a continuidade dos serviços. À medida que os servidores retornarem à SES, o instituto poderá convocar profissionais do cadastro reserva ou abrir novos processos seletivos para reposição das vagas.