Mulher descobre escorbuto após hematomas causados por massageador

Uma mulher de 37 anos, moradora da Filadélfia, nos Estados Unidos, descobriu que sofria de escorbuto, doença causada pela falta de vitamina C e comum em marinheiros na Idade Média, depois de procurar ajuda médica por conta de hematomas persistentes.

O caso, descrito na revista The New England Journal of Medicine e publicado em 3 de setembro, chamou atenção dos médicos pela gravidade e pelas complicações incomuns.

A paciente chegou ao pronto-socorro com dor, inchaço e manchas arroxeadas na parte superior do joelho esquerdo, surgidas dias após o uso de um massageador elétrico. Como tomava anticoagulantes há seis anos por conta de um coágulo no pulmão e de um AVC, o primeiro diagnóstico considerou apenas um trauma leve.

Ela foi orientada a suspender o uso do aparelho, mas os hematomas continuaram a aparecer. Nas semanas seguintes, a mulher voltou ao hospital com falta de ar, tontura e sinais de anemia. Exames mostraram níveis muito baixos de hemoglobina e ferro, e os médicos iniciaram tratamento com suplementação e transfusões de sangue, sem melhora duradoura.

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Mesmo após diversos testes e tentativas de ajustar a medicação, a paciente desenvolveu novos sintomas, como dor no peito, sudorese noturna e perda de peso. Com a piora da respiração, ela foi internada na unidade de terapia intensiva (UTI) com diagnóstico de hipertensão pulmonar, condição em que a pressão nos vasos do pulmão aumenta e compromete o funcionamento do coração.

Escorbuto confirmado após sinais típicos

Durante o exame clínico, os médicos notaram sinais típicos de deficiência de vitamina C, como pequenas manchas vermelhas nas pernas, pelos enrolados em espiral e gengivas roxas e inchadas. Os exames confirmaram que os níveis da vitamina estavam indetectáveis, o que permitiu estabelecer o diagnóstico de escorbuto.

A paciente contou que evitava alimentos cítricos havia anos por causa de urticária, o que acabou comprometendo a ingestão de vitamina C. Sem essa substância, o corpo perde a capacidade de produzir colágeno, essencial para manter vasos sanguíneos e tecidos saudáveis.

O resultado são sangramentos, hematomas, cicatrização lenta e, em casos graves, complicações cardíacas e pulmonares.

Com o início da suplementação oral em altas doses, a melhora foi rápida. Em dois dias, ela já estava estável o suficiente para deixar a UTI. Nas semanas seguintes, os níveis de hemoglobina subiram, os hematomas desapareceram e a função do coração voltou ao normal.

Seis meses depois, a mulher retomou as atividades físicas e suspendeu os medicamentos para hipertensão pulmonar. Os anticoagulantes foram reintroduzidos com segurança.

Olhar além do comum

Embora o escorbuto seja lembrado como uma doença antiga, associada a marinheiros e longas viagens sem acesso a frutas e vegetais frescos, o caso mostra que a doença ainda pode surgir hoje, especialmente em pessoas com restrições alimentares.

Casos leves costumam causar apenas cansaço e hematomas fáceis, mas a paciente apresentou uma forma rara, com anemia grave e dependência de transfusões, um quadro pouco descrito na literatura médica.

“O caso mostra que o escorbuto ainda existe e pode ser grave. É essencial considerar o histórico alimentar do paciente, principalmente quando os sintomas não têm explicação clara”, escreveram os médicos no artigo.

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