A obesidade infantil se consolidou como um dos maiores desafios de saúde pública do século. O problema atinge países de diferentes níveis econômicos e, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), pode ultrapassar 250 milhões de crianças e adolescentes até 2030 caso não sejam aplicadas mudanças significativas.
No Brasil, o cenário segue a tendência global. Um em cada três jovens de 10 a 19 anos apresenta algum grau de excesso de peso, de acordo com dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da Saúde. Entre 2014 e 2024, o número cresceu quase 9%, chegando a 2,6 milhões de crianças e adolescentes nessa faixa etária.
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Diferenças regionais
O levantamento mostra que o problema está espalhado pelo país, mas com variações regionais. O Sul aparece com o índice mais alto: 37% dos jovens têm sobrepeso ou obesidade. No Norte, o percentual cai para 27%. Entre os estados, Ceará, Rondônia e Rio Grande do Norte lideram as maiores altas da década. Roraima foi o único a registrar queda no período.
Nas capitais, São Paulo concentra o maior número absoluto de casos, com mais de 76 mil crianças e adolescentes com excesso de peso, seguida por Rio de Janeiro (64 mil) e Manaus (43 mil).
Tendência mundial e efeitos na vida adulta
Para a médica Maria Edna de Melo, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), a situação brasileira reflete um quadro observado no mundo todo.
“Nenhum país conseguiu deter a obesidade. O que preocupa é que essas crianças vão carregar a condição para a vida adulta, reduzindo a expectativa de vida. E o número de casos graves vem aumentando muito”, diz.
Segundo ela, o crescimento está ligado sobretudo à mudança alimentar. “Hoje, os ultraprocessados são mais baratos que frutas e verduras. Falta proteção às famílias que querem ter uma dieta saudável, mas esbarram no preço alto e na oferta facilitada do que engorda e adoece”, destaca a especialista.
O papel das escolas
A pediatra Fabíola Suano, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), reforça que a escola é parte essencial da prevenção.
“As crianças passam grande parte do dia nesse ambiente. Lá, elas podem se desconectar das telas, praticar atividade física com segurança e aprender sobre alimentação saudável. Isso faz diferença, como vimos durante a pandemia, quando o afastamento escolar levou a ganho de peso acelerado”, afirma.
Ela destaca ainda a importância do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que prioriza alimentos in natura, mas lembra que ainda há desafios.
“É preciso olhar também para as cantinas e o entorno das escolas, onde geralmente há grande oferta de ultraprocessados. Não adianta oferecer merenda equilibrada se o estudante encontra refrigerante e salgadinhos logo na porta”, alerta a especialista.
Medidas urgentes
As especialistas reforçam que o enfrentamento da obesidade infantil não depende apenas das escolhas das famílias. É preciso um esforço conjunto que envolva políticas públicas, regulação da publicidade, taxação de ultraprocessados e mais acesso a alimentos saudáveis por preços justos.
“Não se trata de força de vontade. A questão envolve biologia e ambiente. Por isso, a prevenção precisa ser encarada com urgência”, afirma Maria Edna.
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