O videomaker e cinegrafista Diego Torres Machado de Campos, de 42 anos, detalhou a dinâmica do acidente de trânsito que culminou na prisão truculenta dele por policiais da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), na tarde desta quarta-feira (9/7), na quadra 112 da Asa Norte.
Segundo Diego, a confusão teve início no final do Eixão Norte. O homem estava acompanhado do filho Tito, de apenas 5 anos. Os dois tinham como destino o Parque da Cidade.
O publicitário relatou que conduzia seu veículo pela faixa da esquerda quando foi surpreendido por um carro preto que o ultrapassou pela faixa do meio e entrou bruscamente em sua frente sem sinalizar.
O motorista freou repentinamente, forçando Diego a buzinar para evitar uma colisão. Ainda assim, houve um contato entre os veículos. “Fiquei assustado, achei que era algum doido. O carro estava descaracterizado, não tinha nada de viatura”, relata.
Temendo pela sua segurança, ele acelerou e tentou se afastar, pegando a saída da 114 Norte. No entanto, o outro carro iniciou uma perseguição, chegando a fechá-lo mais uma vez e quase o empurrando para fora da pista, na tesourinha. “Até que eu ouvi uma sirene, mas não sabia se era deles, não tinha identificação alguma”, contou.
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Victor Baracho Alves (de camiseta preta) afastava testemunhas enquanto a vítima era agredida
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Gustavo Gonçalves Suppa (de camiseta branca) imobilizou Danilo contra o chão após dar socos e um “mata-leão”
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Victor Baracho Alves
Material cedido ao Metrópoles
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Gustavo Gonçalves Suppa
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Gustavo Gonçalves Suppa
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Criança de 5 anos presenciou agressão e prisão do pai após suposto acidente de trânsito
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Policiais arrancaram o motorista de dentro do carro e deram socos nele já do lado de fora
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5ª DP registrou o caso
Kebec Nogueira/Metrópoles
Desesperado, Diego seguiu em direção à comercial da 112 Norte para buscar um local seguro. Lá, foi interceptado novamente. “O agente que estava dirigindo veio exaltado, eu nem levantei a voz. Ele disse que eu estava preso. O colega dele veio me algemar. Eu só pedi que ajudassem meu filho, que estava sozinho no carro”, afirma.
Durante a abordagem, ele diz ter sido derrubado com uma rasteira e teve o rosto pressionado contra o chão, mesmo sem oferecer resistência.“Pedi ajuda, disse que meu filho estava lá dentro, mas fui colocado na viatura mesmo assim. Um dos agentes chegou a apontar uma arma pra mim”, completa.
O filho dele presenciou toda a cena e foi abandonado pelos policiais dentro do carro, chorando. O garoto foi acolhido por uma mulher que se comoveu e o retirou do veículo.
Diego foi levado inicialmente à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) e, posteriormente, à 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), onde foi fichado por acidente de trânsito, dano e evasão do local.
Também passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), apresentando hematomas no pescoço e escoriações no joelho.
O carro de Diego foi apreendido para perícia. Ele afirma que estava a caminho do Parque da Cidade com seu filho, em uma tarde de lazer, quando o incidente ocorreu. “Foi um total abuso por parte dos agentes. Fiquei com medo. Em nenhum momento resisti. Só queria proteger meu filho e entender o que estava acontecendo”, desabafa.
Prisão filmada
Nos vídeos, um dos agentes envolvidos dá socos em Diego, que está de costas, rendido e sem oferecer qualquer resistência.
A ação policial teria ocorrido porque o publicitário atingiu, sem maiores danos, uma viatura descaracterizada da DCA. Os dois servidores à painasa desceram enfurecidos e começaram a protagonizar cenas de violência em público.
No vídeo, é possível ver o policial dando socos no pulso de Diego. Momentos depois, o filho dele aparece dentro do carro e vê o pai sendo algemado. A criança começa a chorar e é ignorada pelos agentes.
Vídeo:
Diego foi imobilizado, como mostram imagens gravadas por testemunhas. Depois de alguns minutos, mais viaturas chegaram.
O publicitário foi liberado da delegacia por volta das 19h30.
Agressões
Uma testemunha, que também não se identificou por medo de represália, contou ao Metrópoles que viu quando a viatura entrou na contramão na quadra e fechou o carro de Diego.
“Eu fiquei logo atrás. Ele tirou o homem do carro e já começou a dar coronhada. Fiquei com medo de ser assalto. Vi que o homem do carro estava muito surpreso”.
A mulher ainda disse que Diego começou a gritar pelo filho. “Ele gritava, ‘meu filho, meu filho’. Foi quando eu desci do meu carro e pedi para pegar a criança. O menino estava desesperado”, relatou.
“O menino tem cinco anos, não sabia dizer o endereço e nem o nome da mãe, de tão em choque e desesperado que estava”.
Brutalidade
Sofia Veríssimo trabalha na quadra e classificou a ação policial como brutal. “O [policial] careca de camisa branca puxou o pai do menino de dentro do carro”.
“Ele deu um mata-leão no cara, bateu nele e jogou ele no chão. Brutos, muito brutos. Não precisava disso tudo porque encostou no carro de um policial civil. Ele [Diego] encostou no carro. Foi só um arranhão”, disse.
A mãe de Tito, a colunista do Metrópoles Gabriella Furquim, 34 anos, conta como soube da prisão. “Me ligaram do celular dele falando que o Tito estava sozinho, muito assustado, e me dando endereço pedindo pra ir rápido. Chegando lá, o policial me abordou dizendo que eu tinha que entrar na viatura, prestar depoimento porque o pai do meu filho tinha cometido um crime. Eu disse que queria ver meu filho primeiro e aí encontrei o Tito com outras pessoas desconhecidas que me falaram que o pai foi arrancado do carro, espancado, preso e que tinham deixado o Tito sozinho.”