Saiba quais são os riscos para o cérebro de assistir vídeos acelerados

O hábito de acelerar vídeos em plataformas digitais se popularizou nos últimos anos como uma forma de consumir mais conteúdo em menos tempo. Recurso disponível em quase todos os aplicativos de vídeo e áudio, o modo 1.5x ou 2x é frequentemente usado com a justificativa de otimizar o tempo.

Estudos e observações clínicas apontam que a exposição contínua a estímulos rápidos modifica a forma como o cérebro processa informações e interage com o ambiente. Isso pode afetar diretamente a concentração, a memória, o sono e até as relações interpessoais.

Leia também

Dopamina e busca por estímulos rápidos

O psiquiatra Elson Asevedo, do Hospital São Paulo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que vídeos acelerados oferecem ao cérebro uma sucessão constante de estímulos recompensadores. Esse padrão interfere diretamente na regulação da dopamina, neurotransmissor associado ao prazer e à motivação.

“Com o tempo, esse padrão pode criar uma ‘tolerância digital’: a pessoa precisa de estímulos cada vez mais rápidos e intensos para obter o mesmo prazer”, diz Asevedo.

Segundo ele, esse comportamento não é idêntico à dependência química, mas guarda semelhanças, como dificuldade em interromper o uso e desconforto na ausência do estímulo. O cérebro se adapta ao ritmo acelerado e perde a capacidade de manter o foco em tarefas mais lentas e complexas.

Além disso, Asevedo afirma que esse padrão afeta áreas cerebrais ligadas ao autocontrole e à memória, como o córtex pré-frontal e o hipocampo. Com o tempo, o consumo de informações se torna mais raso, comprometendo a análise crítica e a atenção sustentada.

Principais riscos para o cérebro de assistir vídeos acelerados

Atenção fragmentada e vida cotidiana

O psicólogo Matheus Karounis, que atende no Rio de Janeiro, também observa efeitos negativos do hábito em seus pacientes. Para ele, o consumo constante de estímulos rápidos condiciona o cérebro a um ritmo artificial e reduz a capacidade de concentração.

“O hábito de assistir vídeos acelerados pode, de fato, comprometer a nossa capacidade de concentração e tolerância ao tédio. Isso ocorre porque o cérebro se acostuma a receber informações em um ritmo mais rápido, o que pode prejudicar nossa habilidade de focar por períodos mais longos”, diz Karounis.

O psicólogo explica que a comparação entre a velocidade dos vídeos e o ritmo natural da vida cria frustração. Atividades cotidianas, como conversar ou estudar, passam a parecer lentas e desinteressantes. Esse comportamento também está ligado a sintomas de impaciência, ansiedade e dificuldade em relaxar.

O cérebro pode se acostumar com o ritmo acelerado e começar a exigir estímulos rápidos, dificultando o consumo de conteúdo em velocidade normal

Relação com sono, humor e vínculos sociais

Outro ponto de atenção destacado por Asevedo é a relação entre o consumo de vídeos acelerados e a qualidade do sono. O cérebro se mantém em estado de alerta por mais tempo, dificultando o relaxamento necessário para dormir bem, especialmente quando o uso ocorre à noite.

“O excesso de vídeos acelerados, sobretudo à noite, pode prejudicar tanto o início quanto a qualidade do sono — não só pela luz das telas, que interfere na produção de melatonina, mas também pela manutenção do cérebro em estado de alerta”, explica Karounis.

Já nas interações sociais, ele alerta que o consumo de conteúdo acelerado pode prejudicar a profundidade dos vínculos. Atividades que exigem escuta, presença e tempo passam a competir com o imediatismo oferecido pelas telas.

“Conversar é descobrir, explorar. Ler é aprender e rememorar. No entanto, esta não é a principal ocupação dos vídeos rápidos, que estão apenas interessados em alto estímulo e consumo”, diz. Segundo ele, não é raro ver grupos reunidos presencialmente, mas cada pessoa isolada no celular, consumindo conteúdo veloz, o que enfraquece o envolvimento real nas relações humanas.

Estratégias para reduzir os efeitos dos vídeos acelerados

Embora o consumo de vídeos acelerados faça parte da rotina de muitas pessoas, os especialistas sugerem estratégias para proteger a saúde mental:

Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!

Sair da versão mobile