Seus pais têm TDAH? Saiba quais são os sintomas em adultos e idosos

Embora seja mais conhecido entre crianças, o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) pode afetar pessoas de todas as idades, incluindo idosos e adultos. Porém, a percepção de que este tipo de neurodivergência é um problema apenas infantil ainda impede muitos adultos de buscar diagnóstico.

Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o número de diagnósticos entre crianças tem crescido, mas ainda não acompanha o volume esperado da população total. A ABDA estima que ao menos 6% da população geral tenha o transtorno e, em indivíduos acima dos 44 anos, a prevalência chega a 4%.

“O TDAH sempre se manifesta desde a infância, mas muitas vezes ele não é diagnosticado. O indivíduo mascara sua dificuldade de se organizar, sua impulsividade, mas muitas vezes isso leva a comorbidades como transtornos de humor e de ansiedade, por exemplo. Por isso, muitas vezes percebemos que a pessoa tem TDAH sem saber quando vamos tratar estes problemas, que podem ser até de vícios em jogos e outras compulsões”, explica a psiquiatra Fabricia Signorelli, de São Paulo.

Segundo a médica, em adultos há mais predomínio de sintomas de hiperatividade e impulsividade do que os característicos de desatenção da infância. “Esses sintomas estão associados a outras disfunções, como disfunções executivas e dificuldades de regulação emocional”, completa.

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Entre adultos e idosos, por exemplo, é comum que a pessoa com TDAH tenha dificuldade de organizar tarefas, planejar atividades, cumprir prazos, manter a ordem em casa, ficar parado por muito tempo e relaxar.

Muitas vezes, eles tomam decisões precipitadas, esquecem eventos e compromissos, perdem objetos, não conseguem esperar sua vez para falar, tomam decisões precipitadas e têm explosões de raiva.

O que é o TDAH?

Sintomas que confundem e atrasam o diagnóstico

Uma das maiores impasses para fazer o diagnóstico do TDAH na vida adulta é sua semelhança (e, frequentemente, sua sobreposição) com outros transtornos como a ansiedade, depressão e sobrecarga. Sintomas como dificuldade para manter o foco e impulsividade podem aparecer em todos esses cenários.

Além disso, muitas das características acabam passando por um processo chamado de mascaramento. No caso de adultos com TDAH, é comum que ao longo da infância eles tenham inconscientemente percebido o que em seu comportamento não agradava as pessoas ao redor e criado estratégias de adaptação que mascaram os sintomas, dificultando a percepção do transtorno.

Por isso, o diagnóstico deve ser feito por um psicólogo ou um psiquiatra especialista na emissão de laudos, não apenas em uma lista de sintomas dadas por um vídeo nas redes sociais. Entretanto, para o psiquiatra Michel Haddad, do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE), o fato de se falar mais nas redes sobre o transtorno pode estar levando adultos a perceberem os sinais.

“O mundo digital ajuda muito na disseminação das informações e acaba gerando um sinal amarelo para a pessoa buscar ajuda para si próprio ou até mesmo para um familiar. É comum que o TDAH seja confundido com outras doenças. Para fechar o diagnóstico, o psiquiatra realiza exames clínicos e anamnese para que, nos casos indicados, seja iniciado o tratamento o mais breve possível, a fim de melhorar a qualidade de vida do indivíduo”, explica Haddad.

Quais são os tipos do TDAH?

Embora o transtorno seja o mesmo, ele se manifesta de formas diferentes nos pacientes. Em geral, eles são agrupados em três conjuntos: desatento, hiperativo e misto. O desatento comete erro com frequência por falta de atenção quando tem que fazer algo que considera chato, ou repetitivo, e tem dificuldade de se concentrar.

O hiperativo é aquele que tem dificuldade de ficar sentado, fica mexendo a cadeira, balançando os pés e não consegue relaxar. O misto é uma mistura dos dois.

Qual é a causa do TDAH?

O transtorno não tem uma causa única e específica, mas é resultado de uma combinação de fatores genéticos e ambientais. A condição tem uma forte tendência hereditária, sendo mais frequente em famílias que já possuem casos do transtorno. Em geral, pessoas com essa neurodivergência possuem comprometimentos nas funções cerebrais de áreas associadas ao controle dos impulsos.

Ele está associado a uma série de outras condições neuropsicológicas como a depressão, ansiedade e transtorno bipolar, frequentemente acontecendo junto com estas doenças. Além disso, há pesquisas que o relacionam a dores crônicas, doenças do sistema imune, obesidade, diabetes tipo 2 e outras condições somáticas.

Segundo a ABDA, cerca de 70% das crianças com TDAH apresentam outra condição associada. Na vida adulta, essas comorbidades tornam o tratamento mais complexo e exigem acompanhamento contínuo, com atenção à saúde mental integral.

Estudos indicam que tratar o transtorno pode reduzir sintomas de dor, melhorar a concentração e resgatar o bem-estar emocional. A abordagem correta depende de profissionais, estrutura de atendimento e acesso à informação de qualidade.

Quadro mostra diferenças entre alguns transtornos neurológicos

Como é feito o tratamento?

O tratamento adequado envolve diferentes estratégias, combinando medicações, psicoterapia e diferentes suporte multidisciplinares, a depender do perfil de cada paciente. A resposta ao tratamento costuma ser positiva.

“É fundamental que o TDAH sendo diagnosticado em qualquer faixa etária seja tratado, com intervenções de terapia comportamental e o tratamento medicamentoso, que pode ser usado em crianças, adolescentes e também adultos”, reforça Fabricia.

Até recentemente, o tratamento medicamentoso do TDAH no Brasil era baseado em estimulantes de metilfenidato, a ritalina. Nos últimos anos, a lisdexanfetamina (Venvanse e similares) ganhou mais espaço no tratamento, embora seus preços sejam muito altos.

A fronteira mais recente para o tratamento foi aberta com a chegada da atomoxetina (Atentah), primeiro não-estimulante disponível no país. Aprovado pela anvisa em 2023, o antidepressivo tem como vantagem causar menos dependência. Nem todos os medicamentos, porém, funcionam para todos os pacientes e é preciso constantemente ajustar as doses.

Acesso e políticas públicas ainda são obstáculos

Apesar do reconhecimento internacional do TDAH como problema de saúde pública, o acesso ao diagnóstico e tratamento ainda é limitado no Brasil. No Sistema Único de Saúde (SUS), a maioria dos pacientes é tratado apenas com ritalina. Além disso, faltam oportunidades de acesso para terapias complementares.

“O tratamento de cada paciente é individualizado. Buscar entender a história de vida do paciente e quais comorbidades ele apresenta pode ajudar a ter mais clareza do caso. Além dos medicamentos que são muito usados para TDAH, existem terapias comportamentais que são associadas ao uso medicamentoso, sendo mais uma das estratégias para o enfrentamento do transtorno”, conclui o psiquiatra Michel Haddad.

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