Mais de 13 mil toneladas de lixo da tragédia do desabamento do aterro em Padre Bernardo (GO) já foram retiradas do córrego Santa Bárbara. O valor equivale a 30% dos resíduos do desabamento. Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad-GO), todo o lixo será retirado até o prazo estabelecido.
A operação começou em 21 de julho, mais de um mês após o desabamento. A realização do serviço é de responsabilidade da empresa Ouro Verde, conforme o termo de ajuste de conduta (TAC) assinado. Nele, consta um prazo estabelecido para da finalização da remoção do lixo: dia 15 de setembro – período considerado chuvoso e por isso há a necessidade do cumprimento da data.
A operação funciona através do transporte de 13 caminhões que percorrem uma estrada de chão – construída propriamente para a realização da retirada – até o local da tragédia. Segundo o major e também gerente de emergências ambientais da Semad-GO, Sayro Reis, mais de 1,2 mil viagens já foram realizadas – dobro do valor comparado ao do dia 8 de agosto, que era de 560.
A volta do percurso tem como destino uma nova área, localizada no próprio aterro, para despejar o lixo resgatado, onde passarão pelo processo de secagem.
De acordo com o major, o local tem capacidade para abrigar todo lixo recuperado, incluindo os resíduos remanescentes da antiga área onde o lixo era depositado. Ele destaca que o talude antigo ainda corre risco de desabamentos e, para evitar novas tragédias, o lixo será retirado de lá e transferido a nova área como uma medida de segurança.
Ao chegarem no novo talude, os lixos são compactados através de retroescavadeiras e tratores de esteiras para que ocorra a diminuição da produção de metano.
“As máquinas compactam todo lixo resgatado porque ele é muito fluido. Os resíduos apresentam vários bolsões de ar dentro deles. São eles que produzem o metano. Então o processo de compactação serve para poder diminuir esta quantidade de bolsões que produza o gás”, ressaltou Sayro.
O novo destino dos lixos ainda conta com um processo de impermeabilização por meio de lonas que foram instaladas na base, somado a canaletas de drenagem. Dessa forma, após a secagem dos resíduos, todo o chorume do lixo depositado, conseguirá escoar para os dutos e tubulações do entorno do local e serão direcionados a bacias do aterro.
Entenda como está funcionando a operação:
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Atualmente existem cinco bacias de depósito de chorume no aterro e já há um outro terreno reservado para a construção de uma nova bacia. Contudo, ainda não há um planejamento definido a respeito do líquido contaminado.
“A médio prazo, ou a gente vai ter que levar esse chorume daqui para um local regular para poder tratar ou a empresa, Semad ou prefeitura terão que colocar uma estação de tratamento móvel. Isto ainda não está no TAC porque estamos tratando primeiramente as ações emergenciais que é retirar o lixo do córrego e evitar novos deslizamentos”, explicou o major.
Caminhão chegando ao talude após lixo coletado
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Lixos resgatados já compactados no novo talude
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Máquinas e caminhões operando no novo talude
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Caminhão retornando a rota do córrego para transportar mais lixo ao novo talude
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Córrego Santa Bárbara
Desde o início da tragédia, a água de Santa Barbára está proibida para consumo próprio ou até mesmo para situações de plantio e cultivo de alimentos. Como medida emergencial, a Semad-GO instaurou uma operação de transposição de água do córrego e, graças a ela, os índices diminuíram, mas ainda é cedo para determinar a normalização da água.
“A gente percebe que está caindo os índices de contaminação da água, mas muito longe ainda da normalidade. A portaria da secretaria proibindo o consumo dessa água segue em vigor por tempo indeterminado. Mas nós não temos como mensurar quando isso vai acabar”, explicou Sayro.
Veja as imagens do córrego atualmente:
O córrego Santa Bárbara foi soterrado pelos resíduos do deslizamento
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Córrego Santa Bárbara
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A escavadeira realizando a retirada dos resíduos do córrego
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O solo do córrego também foi contaminado pelos resíduos
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Para a operação de transposição da água foram instaladas tubulações para realizar o transporte da água antes e depois das barreiras criadas
Felipe Machado/Metrópoles
O chefe da área de proteção ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Grahal Benatti, ressaltou que a avaliação para determinar a estimativa só será feita após a conclusão das ações emergenciais atuais.
“O processo da avaliação é uma medida de longo prazo, inclusive porque ainda há a outra parte do lixo que não deslizou e corre risco. O lixo já depositado também tem risco de contaminação. São muitos impactos ambientais. Então tudo isso precisa primeiramente ser contido e somente após resolver todas estas questões emergenciais que a avaliação poderá ser feita”, disse Grahal.
Como medida para auxiliar a avaliação da água, o grupo Ouro Verde contratou uma empresa responsável pela coleta de água do córrego. Semanalmente, é realizada uma coleta onde é feita uma análise em laboratórios e ajudará tanto nas ações de curto a longo prazo.
O futuro dos resíduos
A área do lixão está embargada pela justiça. Não há previsão para novos licenciamentos, ainda mais por se tratar de uma Área de Proteção Ambiental (APA).
Inicialmente, tinha-se dito que uma das ações da empresa seria retirar os resíduos resgatados e transferir para um outro aterro com estrutura e licenciamento aprovado.
Contudo, segundo o major, o tema da transferência do lixo não está sendo discutido, até mesmo por conta da logística do transporte dos caminhões de um lixão a outro.
Já uma das possibilidades discutidas para o destino final dos resíduos seria o processo de descomissionamento do aterro.
“Após a finalização das ações emergenciais, vem uma segunda etapa que ainda será definida. Talvez seja um possível descomissionamento, em que o tratamento irá cobrir toda a parte superior do lixo com terra e finalizar o aterro, mas ainda não há nada certo”, explicou Sayro.