O fortalecimento da educação técnico-profissionalizante e o uso responsável da inteligência artificial (IA) na educação básica estiveram no centro das discussões da reunião final da presidência brasileira do BRICS Educação, realizada nesta quarta-feira (5), no Palácio Itamaraty, em Brasília. O encontro, conduzido pelo ministro da Educação, Camilo Santana, resultou na assinatura de uma Aliança de Cooperação entre os países do bloco com foco em formação técnica, empregabilidade e desenvolvimento sustentável.
“Esse acordo nasce do reconhecimento de que todos os nossos países enfrentam o mesmo desafio: qualificar a juventude para um mundo do trabalho em transformação. O ensino técnico-profissionalizante é uma resposta concreta a isso. Essa aliança é um passo decisivo”, afirmou o ministro durante a cerimônia.
O documento, firmado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia, estabelece diretrizes conjuntas para cooperação em políticas de formação técnica, intercâmbio de experiências e articulação institucional entre os países-membros. A meta é ampliar a inclusão produtiva e acelerar a geração de oportunidades para a juventude.
Santana lembrou ainda que o Brasil tem reforçado o compromisso com a expansão da educação técnica. “O presidente Lula sancionou recentemente uma lei que transforma dívidas dos estados em investimentos em educação. Parte desses recursos será destinada à ampliação da rede de institutos federais”, destacou.
A formalização da chamada Aliança BRICS para a Educação Técnico-Profissionalizante integra a Declaração Conjunta aprovada pelos países durante o encontro. O documento também aborda temas como o uso ético da inteligência artificial nas escolas, a avaliação da educação superior como base para o reconhecimento mútuo de diplomas, e o fortalecimento da Brics Network University — rede universitária do grupo, que agora passa a contar com a adesão da Indonésia e reúne 140 instituições de ensino superior.
IA com responsabilidade
O uso da inteligência artificial na educação foi tratado como prioridade. O embaixador Maurício Lyrio, sherpa brasileiro no BRICS, anunciou que está em negociação uma declaração específica sobre governança global da IA, com previsão de adoção na Cúpula de Chefes de Estado do BRICS, marcada para os dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro.
“O Brasil está propondo colocar os temas de desenvolvimento no centro do debate sobre inteligência artificial, indo além da segurança e da privacidade”, afirmou Lyrio. Segundo ele, o objetivo é garantir que todos os países tenham acesso equitativo aos benefícios proporcionados por essa tecnologia.
A Declaração reconhece o potencial da IA para melhorar o aprendizado, personalizar o ensino, reduzir desigualdades e otimizar a gestão escolar. No entanto, os países alertam: a inteligência artificial deve ser uma ferramenta de apoio, jamais substituindo o papel dos professores.
A ministra de Educação Básica da África do Sul, Siviwe Gwarube, reforçou essa perspectiva. “Usando a tecnologia de forma inteligente, ética e com os devidos limites, podemos garantir que ela seja uma aliada na superação das desigualdades educacionais”, disse.
Cooperação estratégica
A Declaração Conjunta foi resultado de meses de consultas coordenadas pelo Ministério da Educação desde fevereiro. De acordo com Camilo Santana, o documento será referência nas discussões da Cúpula do BRICS e reflete a importância da cooperação internacional como estratégia de fortalecimento das políticas públicas educacionais.
“Cooperação internacional não é só diplomacia: é planejamento conjunto, é aprender com o outro e construir soluções compatíveis com os nossos desafios. O Brasil está pronto para continuar esse caminho”, concluiu o ministro.