A exploração predatória de areia em Alagoas tem causado devastação ambiental e sociais irreparáveis, afetando comunidades, como a de Feliz Deserto. Por trás dessa atividade, há um complexo esquema criminoso conhecido como a Máfia da Areia, que opera com tentáculos em diversas esferas e movimenta cifras milionárias. Investigações revelam que o grupo atua com uso de laranjas, fraudes em licenças ambientais, esbulhos
possessórios, invasões de propriedades e uso irregular de máquinas pesadas em extrações de areia, prejudicando ecossistemas e comunidades locais. Conheça agora os principais nomes do alto escalão dessa organização criminosa que, nos últimos cinco anos, faturou cerca de R$ 390 milhões vendendo areia para a Braskem, devastando o litoral sul de Alagoas.
Geomineração Exploração Mineral Ltda: A Empresa no Centro do Esquema
A Geomineração Exploração Mineral Ltda é uma das empresas no centro da exploração predatória de areia em Alagoas. Inscrita no CNPJ 33.691.330/0001-20, a empresa está estabelecida na Av. Osman Loureiro, nº 49, sala 1009, Ed. Business Tower, Mangabeiras, Maceió/AL, CEP 57.037-630. Apesar de estar registrada em nome de
Alexandre Marçal, investigações indicam que ele atua como “laranja” do grupo, enquanto o verdadeiro controle da Geomineração pertence a outros membros da organização criminosa, todos ligados ao empresário Sérgio Accioly Chueque.
Oswaldo de Araújo Costa Filho: O Geólogo Investigado
Oswaldo de Araújo Costa Filho, geólogo, é apontado como um dos principais articuladores da Máfia da Areia. Ele está sendo investigado por ser o responsável por montar e assinar processos de licenciamento ambiental junto ao Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) e à Agência Nacional de Mineração (ANM), facilitando a
concessão de licenças e autorizações minerárias para as empresas do grupo. Seu papel é estratégico: ele utiliza sua expertise como geólogo para dar aparência de legalidade a processos licenciatórios, possibilitando a exploração predatória de areia sem a devida fiscalização e transparência.
Oswaldo de Araújo Costa Neto:O Advogado por Trás das Ações Judiciais
Oswaldo de Araújo Costa Neto, advogado e filho de Oswaldo de Araújo Costa Filho, é descrito como o estrategista jurídico da organização criminosa. Ele é responsável por todas as ações judiciais da Máfia da Areia, inclusive contra denunciantes e opositores. Oswaldo Neto também advoga para a Sérgio Accioly Chueque Mineradora e é conhecido por usar manobras jurídicas para intimidar e silenciar denúncias, garantindo a
continuidade das operações ilegais.
Alexandre Marçal: O Laranja da Geomineração
Alexandre Marçal é o nome que consta oficialmente como proprietário da Geomineração. No entanto, investigações apontam que ele atua como “laranja”, emprestando seu nome para mascarar o verdadeiro controle da empresa. Na realidade, Alexandre é irmão de Oswaldo Neto e filho de Oswaldo Filho, completando o ciclo familiar na organização criminosa. Essa estratégia é usada para dificultar o rastreamento do controle real da empresa, protegendo o alto escalão da Máfia da Areia.
Sérgio Accioly Chueque: O Dono das Máquinas e o Magnata da Areia
Sérgio Accioly Chueque é o cérebro financeiro da Máfia da Areia. Empresário do setor de pré-moldados, ele é proprietário da Sérgio Chueque Mineração e da Blocos Premoldados, com sede em Marechal Deodoro, Alagoas. Sérgio é o dono de 14 escavadeiras novas, todas equipadas com implementos de peneira, o que garante a
produção de areia de alta qualidade. Isso explica a preferência da Braskem em adquirir areia de suas operações, devido à capacidade de entrega em larga escala e à qualidade do produto final. Além disso, Sérgio Chueque já foi condenado pela Justiça Federal a milhões em multas e outras obrigações ambientais, das quais não cumpriu nenhuma. A Sérgio Chueque Mineração é apontada como a principal fornecedora de areia para o tamponamento das minas da Braskem, apresentando a justificativa de “interesse público” para explorar areia predatoriamente no litoral sul de Alagoas. Sérgio é acusado de liderar um esquema de desmatamento, invasão de propriedades, compra de licenças ambientais fraudulentas e ameaças a opositores.
Gustavo Ressurreição Lopes: O Presidente do IMA e o Esquema de Licenças Ilegais
Gustavo Lopes, presidente do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), é acusado de participar diretamente do esquema de licenças ilegais. Segundo investigações, Gustavo recebe R$ 9,00 por metro cúbico de areia vendida pela Máfia da Areia à Braskem. Para garantir o controle do esquema, todas as notas fiscais são enviadas a um assessor de Gustavo, que recolhe o dinheiro em espécie. Gustavo já foi indiciado pela Polícia Federal por conceder centenas de licenças ambientais ilegais para diversas empresas, incluindo a Braskem, violando a legislação ambiental. No caso da extração de areia na Praia do Francês, Gustavo, em parceria com Oswaldo de Araújo Costa Filho e Oswaldo de Araújo Costa Neto, licenciou ilegalmente uma Área de Preservação
Permanente (APP), conhecida como Dunas do Cavalo Russo, com mais de 68 hectares de areia branca localizada entre a Praia do Francês e a Barra de São Miguel. Essa área havia sido protegida em 2014 por um acordo judicial com o Ministério Público Federal (MPF). No entanto, o IMA emitiu licenças para a Sérgio Accioly Chueque Mineradora extrair areia ilegalmente, vendida à Braskem.
Envolvimento de Padres e da Arquidiocese de Maceió com a Máfia da Areia
O promotor de Justiça Givaldo Lessa ouviu em juízo o morador de Marechal Deodoro que denunciou o crime ambiental na Praia do Francês, na área do Sítio Bom Retiro, na presença do jornalista Ricardo Rodrigues, responsável pela matéria sobre a venda de areia à Braskem, publicada no Jornal Tribuna Independente e no site Tribuna Hoje. Por conta da denúncia, Ricardo Rodrigues e o jornal estão sendo processados pelo Padre Walfran Fonseca e o ex-arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz. As investigações apontam que a Máfia da Areia envolve membros da Igreja Católica, incluindo Dom Antônio Muniz e padres da Fundação Leobino e Adelaide Motta, através da empresa Mandacaru Extração de Areia, ligada à Arquidiocese de Maceió há mais de 10 anos. O presidente do IMA, Gustavo Lopes, é sócio do grupo, reforçando a teia de influências.
Uma Organização Criminosa com Tentáculos em Diversos Setores
A Máfia da Areia é descrita como uma organização criminosa altamente estruturada e articulada, com atuação conjunta em crimes ambientais, invasões de propriedades, uso de máquinas pesadas sem autorização, roubo de areia e produção ilegal de prémoldados. Além dos nomes já citados, a organização utiliza de influência política e alianças estratégicas com órgãos licenciadores, como IPHAN, ANM, IBAMA, IMA e CREA-AL, para garantir a continuidade de suas operações ilegais.
Enquanto Justiça Federal, Polícia Federal e outros órgãos de fiscalização não prenderem os líderes dessa organização criminosa e apreenderem suas máquinas, a devastação ambiental continuará. Feliz Deserto é apenas um dos municípios atingidos pela exploração predatória de areia. Se medidas não forem tomadas com urgência, outras cidades com recursos de areia nos rios e no solo também serão devastadas. A sociedade alagoana exige justiça e responsabilização de todos os envolvidos na Máfia da Areia. Não podemos permitir que essa organização criminosa continue devastando o meio ambiente e destruindo comunidades em nome do lucro.