A lipoproteína (a), ou Lp(a), é uma partícula que transporta o colesterol e pode se acumular nos vasos sanguíneos de modo semelhante ao LDL, o chamado colesterol ruim. Por muitos anos, ela não esteve no foco da prevenção, mas estudos realizados na última década têm revelado que, além de aumentar o risco de doenças cardíacas, este tipo invisível de gordura não reage bem aos tratamentos tradicionais.
A lipoproteína (a) é produzida no fígado, mas sua formação é mais influenciada pelo fator genético do que pelos hábitos de vida, como costumam ser os diferentes tipos de colesterol. Sua presença elevada está associada ao maior risco de doenças cardiovasculares, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e bloqueios da válvula aórtica. Estima-se que uma em cada cinco pessoas apresente níveis de Lp(a) acima de 50 mg/dL, o limite máximo saudável.
“Sabemos que os níveis altos de lipoproteína (a) são um risco grande, mas a divisão exata da gravidade por quantidade ainda é um tema que está em discussão pela ciência”, explicou o cardiologista Elias Pimentel, durante o Congresso Internacional de Cardiologia da Rede D’Or 2025, que ocorre no Rio de Janeiro.
Pimentel ressalta que, embora os níveis seguros não sejam claros, os riscos são. “Por muito tempo ficamos sem buscar a Lp(a) em nossos exames e demoramos a compreendê-la. Ainda estamos caminhando em criar tratamentos eficazes para reduzir o risco dela de levar à aterosclerose. As drogas atualmente disponíveis têm um desempenho, mas ele ainda é muito tímido. Mas sem cuidado, é um colesterol de desfecho devastador”, diz.
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Risco independente do colesterol
Já se sabe que quanto mais elevada é a concentração de Lp(a), maior é o risco cardiovascular. Um estudo realizado em Copenhague em 2019 mostrou que pessoas com níveis acima de 90 mg/dL têm risco triplicado de infarto, além de aumento na incidência de AVC isquêmico, doença arterial periférica e morte cardíaca.
Apesar das evidências, a testagem da Lp(a) ainda é rara. Ela também não é diagnosticada em exames tradicionais de colesterol. A taxa global de testagem quando se examina o colesterol no sangue é menor que 5%. Além de ser pouco analisada, a Lp(a) é silenciosa e não apresenta sintomas.
Mesmo com a recomendação de testagem preventiva, especialmente em pacientes com histórico familiar de infarto precoce, a ausência de diretrizes claras contribui para o baixo número de diagnósticos. “Há um forte componente genético que vemos em pacientes aparentemente saudáveis e com índices que são o triplo do nível tolerável”, diz Pimentel.
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O colesterol é um composto gorduroso essencial para produção da estrutura das membranas celulares e de alguns hormônios
Sebastian Kaulitzki/Science Photo Library/Getty Images
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No entanto, o que entendemos normalmente como colesterol é, na verdade, um somatório de diferentes tipos: os famosos HDL e LDL
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O LDL, conhecido como colesterol “ruim”, quando está em níveis altos, pode formar uma placa nas paredes das artérias, dificultando ou impedindo a passagem do sangue
istock
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Quanto mais elevadas as taxas de LDL, maior o risco de doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC)
VSRao/https://pixabay.com
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Apesar de silencioso, alguns sinais podem dar indícios do problema
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São eles: xantelasmas e xantomas (pequenas bolinhas de gordura que aparecem na pele), dores na barriga, nos dedos dos pés e das mãos
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Para controlar o colesterol ruim é importante realizar, por exemplo, exercícios durante 30 minutos por dia, três vezes por semana
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Aumentar a ingestão de fibras solúveis, como farinha e farelos de aveia, que absorvem o excesso de colesterol no intestino e o eliminam do corpo
Tatyana Berkovich/istock
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Aumentar a ingestão de gorduras saudáveis, que estão presentes no azeite extravirgem e nos alimentos ricos em ômega 3
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E aumentar a ingestão de bebidas como chá-preto e suco de berinjela, que também ajudam no controle do colesterol
Tatyana Berkovich/istock
Tratamentos ainda em fase de pesquisa
Ainda não existe um remédio aprovado que reduza a Lp(a) de forma eficaz. Diferente do LDL, essa molécula não responde bem ao uso das estatinas nem a mudanças no estilo de vida. Mesmo com LDL controlado, indivíduos com Lp(a) elevada podem manter alto risco de eventos cardiovasculares.
Um dos tratamentos em desenvolvimento é o pelacarsen, da Novartis, droga que age no fígado e inibe a produção da apolipoproteína(a) — que posteriormente fabrica a Lp(a). O medicamento ainda está em fase final de testes clínicos. Seu objetivo é reduzir os níveis de Lp(a) e prevenir o acúmulo de placas nas artérias.
Outra aposta é o muvalaplin, desenvolvido pela farmacêutica Lilly. Em testes de fase 2, a droga oral reduziu os níveis de Lp(a) em até 85,8% após 12 semanas. O remédio bloqueia a formação inicial da molécula e apresentou perfil seguro nos voluntários estudados, mas ainda deve ser administrado em populações maiores.
Enquanto não há tratamento aprovado, o manejo do risco cardiovascular deve considerar outros fatores modificáveis. O controle da pressão arterial, do colesterol LDL e da diabetes continua essencial para quem tem Lp(a) elevada. A avaliação deve ser feita de forma integrada, considerando o risco total do paciente.
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