Após câncer, professora da UnB lidera pesquisa sobre maconha medicinal

A Universidade de Brasília (UnB) firmou uma parceria com a Associação Brasileira do Pito do Pango (Abrapango) para analisar a qualidade dos óleos de cannabis usados por pacientes. O acordo permite que produtos de maconha medicinal sejam enviados legalmente para os laboratórios da universidade.

Coordenadora do projeto, a professora Fernanda Vasconcelos (de verde na foto em destaque), de 52 anos, afirma que a pesquisa tem raízes em sua própria experiência como paciente oncológica.

Ela usa cannabis medicinal há cinco anos, período em que tratou sequelas de uma recidiva de câncer do tipo linfoma de Hodgkin, diagnosticada em 2018. A doença a fez repensar sua trajetória na química, antes voltada ao estudo de substâncias tóxicas persistentes.

“Eu percebi o quanto o uso medicinal da cannabis impactou minha qualidade de vida. Consegui abandonar remédios para dormir e me recuperar muito mais rapidamente”, diz.

“Meu psiquiatra chegou a se impressionar com a melhora. Isso me fez migrar das pesquisas com substâncias tóxicas para trabalhar com soluções que realmente beneficiam as pessoas”, conta.

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Parceria permite que a UnB realize testes científicos em óleos de cannabis medicinal utilizados em tratamentos no país

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Equipe da UnB prepara estrutura para receber amostras de óleos de maconha enviados pela Abrapango

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Laboratório do Instituto de Química da UnB será responsável pelas análises de cannabis medicinal

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Professora da UnB em laboratório onde serão analisados os óleos de maconha medicinal

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Projeto reúne UnB e Abrapango para investigar composição e segurança dos óleos de maconha usados por pacientes

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O projeto

Segundo a pesquisadora, a troca com a Abrapango foi determinante para o desenvolvimento do projeto. “A Abrapango contribui com experiência e matéria-prima, e a UnB oferece estrutura, alunos e orientação acadêmica. É uma troca que beneficia os dois lados.”

Os óleos medicinais produzidos pela Abrapango, que serão objeto de estudo na parceria com a UnB, são normalmente prescritos para pacientes que não respondem bem aos tratamentos tradicionais.

Segundo especialistas, esses produtos costumam ser indicados em casos de dor crônica, epilepsia refratária, transtorno do espectro autista, ansiedade, distúrbios do sono, espasticidade — como na esclerose múltipla — e também para aliviar náuseas e perda de apetite em pacientes submetidos à quimioterapia, sempre com acompanhamento médico.

Os pesquisadores medem a quantidade de canabinoides — como CBD e THC — e também os terpenos, compostos que influenciam aroma e parte dos efeitos medicinais. As medições seguem métodos precisos para garantir resultados confiáveis.

“Nosso objetivo é verificar a qualidade e orientar melhorias nos processos de extração e produção dos óleos”, afirma Fernanda.

A parceria tem validade inicial de três anos, mas a expectativa é ampliá-la. “Queremos produzir conhecimento, formar novos pesquisadores e ajudar a desenvolver produtos mais seguros e padronizados.”

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