Estudo usa inteligência artificial para analisar características textuais das atas do Comitê de Política Monetária desde 1999
Integrantes do governo têm expressado descontentamento em relação às decisões do Banco Central de manter as taxas de juros em um patamar elevado, ventilando a hipótese de as decisões serem motivadas por divergências políticas. Apesar disso, as atas das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgadas até maio deste ano não foram significativamente mais duras do que as demais atas da autoridade monetária desde 1999.
A conclusão está na 29ª edição do Millenium Papers, divulgado nesta sexta-feira, 21, que analisou por meio de Inteligência Artificial o texto das atas das reuniões do BC de abril de 1999 a maio de 2023.
“Portanto, a hipótese de que as atas do Banco Central teriam endurecido no atual governo, devido à diferença ideológica, não foi confirmada pelos resultados deste estudo”, afirma o mapeamento feito pelos cientistas de dados Geraldo Leite e Wagner Vargas. No texto, os especialistas deixam claro que o estudo avaliou somente as características textuais das atas, sem levar em conta outros fatores econômicos e políticos que influenciam a comunicação das atas da reunião do Copom.
O estudo emprega técnicas sofisticadas de aprendizado de máquina – uma vertente da inteligência artificial que permite que os sistemas aprendam e aprimorem com a experiência – e modelagem de tópicos para transmutar documentos das atas em um formato que pode ser processado e analisado por algoritmos. Utiliza-se o método Latent Dirichlet Allocation (LDA) para detectar e agrupar tópicos distintos dentro dos textos.
“Este processo, fundamentado em análises probabilísticas, melhora a compreensão dos documentos, proporcionando um resumo preciso e conciso dos temas principais abordados e permite observar as evidências acerca das atas no decorrer do tempo e dos governos analisados”, afirmam os autores.
Os tópicos abordados estão associados à alta probabilidade nas atas, e englobam questões como flexibilização monetária e desinflação; reformas econômicas; notas de reuniões anteriores e preços monitorados; critérios e condições financeiras; fundos e mercado cambial; leilões do Tesouro Nacional e vencimento de títulos públicos; ações políticas e inflação elevada; agregados econômicos e políticas direcionadas; e o papel do Tesouro Nacional e oferta agregada.
Para os pesquisadores, o diagnóstico é relevante pela importância da autoridade monetária, que desfruta de independência formal, na tomada de decisões para a estabilidade econômica e pela responsabilidade em comunicar o mercado e a sociedade das decisões do Copom sobre o patamar a ser adotado na taxa básica de juros.
A íntegra do paper pode ser acessada neste link