A operação deflagrada pela 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro), nesta quarta-feira (20/8), para desarticular um grupo criminoso especializado em extorsão por meios digitais revelou como os criminosos chantageavam e extorquiam dinheiro de homens que pensavam estar marcando encontros com garotas de programa.
Mandados de busca, apreensão e prisão temporária foram cumpridos em endereços ligados à quadrilha, que atuava de forma organizada, com divisão de tarefas, uso de “contas laranja” e rede de chips descartáveis.
Com dados das vítimas em mãos, os golpistas, que fingiam ser do Primeiro Comando da Capital (PCC) e ameaçavam expor os homens casados.
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“Então, irmão, estou te chamando aqui referente à garota que você chamou no site. Somos do Primeiro Comando e estamos trabalhando ajudando essas garotas. Você chamou a minha funcionária tirando o tempo dela ontem. Fez ela desmarcar vários atendimentos para ir encontrar com você, sendo que não quer concluir o pagamento”, diz o criminoso em uma das mensagens.
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Visita ao trabalho
A dinâmica do golpe relatada na investigação é conhecida como “golpe do encontro”: os criminosos iscam o alvo com promessa de programa barato, confirmam presença num local neutro (hotel, motel ou flat), forçam um primeiro pagamento para “garantir a reserva” e, em seguida, passam a chantagear com terrorismo psicológico
“Já tenho os dados da sua família. Estou entrando em contato para resolvermos da melhor forma para ninguém sair no prejuízo ou para não sobrar para alguém da sua família”, disse em outra mensagem.
“Tenho os seus áudios conversando com a garota e atrapalhando o serviço dela. O primeiro passo aqui é fazer uma visita na sua casa e trabalho e te expor de uma forma que você nunca viu. Como vamos fazer para resolver da melhor forma?”, acrescenta o criminoso.
A operação “Falso Anúncio”, conduzida pela 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro) com o apoio da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), cumpre cinco mandados de prisão temporária e cinco de busca e apreensão, expedidos pela Justiça Criminal do DF.
A investigação teve início em fevereiro deste ano, após a vítima, um homem de 31 anos, ter acessado um site de acompanhantes e ter sido extorquido pelo bando.
Valores exigidos da vítima
- R$ 100 – Valor inicial combinado;
- Mais R$ 100 – Valor adicional exigido após o primeiro pagamento, sob falsa justificativa de “liberação do quarto”;
- R$ 500 – Valor pago sob ameaça de morte;
- R$ 1,5 mil – Valor exigido posteriormente para “encerrar o caso”
- Total exigido: R$ 2,1 mil
- Total efetivamente pago pela vítima: R$ 600
Estrutura criminosa
A análise de dados bancários, telefônicos e cadastrais revelou a existência de uma associação criminosa estruturada, com divisão clara de tarefas entre os envolvidos.
Os cinco investigados, sendo três homens e duas mulheres, têm idades entre 21 e 27 anos, e são naturais do município de Montes Claros (MG), onde todos os endereços investigados estão localizados.
Funções dentro do grupo:
- Uma mulher, de 23 anos, era responsável pela criação dos anúncios falsos, interlocução direta com as vítimas e envio de mensagens ameaçadoras. Utilizava números de telefone e e-mails falsos, operando a partir de aparelhos celulares com múltiplos chips.
- Um homem, de 27 anos, atuava como operador das contas bancárias e recebedor dos valores ilícitos via pix, coordenando o fluxo financeiro do esquema.
- Um homem, de 21 anos, ficava responsável por alterar os números de telefone nos anúncios logo após a consumação dos golpes, com o objetivo de dificultar o rastreamento pelas autoridades.
- Duas pessoas, de 21 e 23 anos, atuavam como “laranjas” ou “conteiros”, fornecendo dados bancários e chaves pix para receber os valores extorquidos, caracterizando indícios de lavagem de dinheiro.
Ocultação digital
Os criminosos utilizavam técnicas avançadas de ocultação digital, como a troca frequente de números de telefone, o uso de múltiplos chips e e-mails falsos, além de contas bancárias em nomes de terceiros.
Um dos números usados nas ameaças chegou a ser cancelado dias antes do crime e reativado em nome de uma empresa, evidenciando tentativa deliberada de ocultar a autoria.
A investigação revelou que o grupo atua de forma reiterada e em âmbito nacional. Além do caso em apuração, foram identificadas outras três ocorrências no DF com a mesma metodologia criminosa, envolvendo extorsão, ameaça e uso de anúncios falsos.
Anúncios idênticos foram localizados em outros sites de acompanhantes, todos vinculados aos mesmos e-mails e estrutura de pagamento.
Ações deflagradas
A operação ocorre simultaneamente nos cinco endereços identificados em Montes Claros MG), com o objetivo de prender os integrantes do grupo criminoso e preservar provas digitais e materiais que possam comprovar a atuação criminosa e ampliar o raio de investigação.
Além da prisão temporária dos suspeitos, os mandados de busca e apreensão visam a apreensão de celulares, computadores, documentos, mídias digitais, chaves Pix e eventuais valores em espécie, elementos essenciais para a continuidade das investigações e identificação de novas vítimas.