Um esquema de tráfico de drogas considerado “inovador e ousado” pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) foi desmantelado na noite do último sábado (6/9). A boca de fumo operava dentro de um apartamento de alto padrão localizado na quadra 504 no Sudoeste.
A investigação, conduzida pela 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro), revelou que o imóvel funcionava como verdadeiro ponto de distribuição de drogas sintéticas e entorpecentes tradicionais, com foco em atrair adolescentes e jovens que frequentavam áreas públicas da região, como escolas, parquinhos infantis e até uma academia ao ar livre utilizada por idosos.
Leia também
Os primeiros levantamentos enfrentaram um obstáculo incomum: nenhum dos usuários era encontrado com drogas em mãos. A ausência de flagrante retardava a comprovação do esquema de tráfico. Contudo, após uma análise minuciosa, os investigadores descobriram a dinâmica do esquema.
Brindes de fidelização
De acordo com a apuração, os traficantes criaram uma espécie de código paralelo de fidelização, no qual os usuários recebiam pequenos objetos tridimensionais digitais (3D) como brindes — entre eles, um esqueleto de peixe, um raio ou um floco de neve. Cada símbolo representava uma droga específica:
- Esqueleto de peixe: cocaína
- Raio: ecstasy
- Floco de neve: haxixe ou loló
Esses “souvenires” serviam como uma espécie de cartão de fidelidade, que não apenas disfarçava o vínculo criminoso, mas também criava um laço de exclusividade entre fornecedor e cliente.
Veja os brindes dados pelos traficantes pelo casal de traficantes:
3 imagens
Fechar modal.
1 de 3
Material cedido ao Metrópoles
2 de 3
Material cedido ao Metrópoles
3 de 3
Material cedido ao Metrópoles
Casal de luxo
No apartamento, a polícia identificou um casal como os principais responsáveis pelo comércio ilícito. Considerados os maiores traficantes do Sudoeste, eles chamaram atenção pelo catálogo variado de drogas — cocaína, maconha, haxixe, ecstasy e loló — além da movimentação constante de usuários que entravam e saíam do imóvel. A PCDF não confirmou, mas a coluna apurou que o traficante é Henrique Sampaio da Silva. Ele chegou a ser nomeado como servidor comissionado em um órgão público, mas não chegou a tomar posse. A mulher seria uma advogada.
Na noite da operação, os agentes apreenderam:
- Diversas porções de cocaína
- Tabletes de haxixe
- Embalagens de maconha
- Vários comprimidos de ecstasy
- Frascos de clorofórmio (loló)
- Balanças de precisão
- Sacos ziplock e outros materiais para embalo
- Canudos utilizados no consumo de cocaína dentro do próprio apartamento
- Quantia significativa em dinheiro vivo.
Operação Wolf
Segundo a polícia, o objetivo era manter uma logística tanto para entrega no local quanto para delivery em regiões próximas. A ação que culminou na prisão foi batizada de Operação Wolf e resultou na detenção em flagrante do casal por tráfico de substâncias entorpecentes e associação para o tráfico. Henrique Sampaio, de 39 anos, já possuía um histórico extenso: esta foi a sexta prisão registrada em sua ficha criminal, todas relacionadas ao comércio de drogas.
“O nível de sofisticação do esquema e a ousadia em criar uma linguagem própria para fidelizar usuários nos surpreenderam. Era uma tentativa clara de driblar a polícia e ampliar o público consumidor, atingindo até adolescentes e jovens em idade escolar”, afirmou o delegado-chefe da 3ªDP, Victor Dan.
Um detalhe curioso observado pelos agentes foi a presença de placas e avisos comunitários espalhados pelo apartamento, simulando preocupação social e tentando dar ao local um ar de convivência saudável. Na prática, serviam como fachada para despistar vizinhos e autoridades.
Resposta à comunidade
A Polícia Civil informou que, mesmo após a prisão, o trabalho de vigilância continuará. A 3ªDP reforçou que a quadra seguirá sendo monitorada de perto, com o objetivo de garantir a tranquilidade dos moradores e evitar a retomada de atividades criminosas.