Como vacina de herpes zoster deve chegar ao SUS após deputada quase ficar cega

“Atingiu o meu rosto, quase perdi a visão do olho direito”, lembra Adriana Accorsi sobre a experiência surpreendente com a Herpes Zoster, em março deste ano, ainda checando o rosto para checar a sensibilidade na pele. “Tive um episódio gravíssimo. Fiquei internada”, afirma. 

Esse seria apenas mais um entre os cerca de 4 mil casos diagnosticados anualmente no Brasil com a doença, provocada por uma etapa evolutiva do vírus varicela-zoster, o mesmo da catapora. No entanto, esse episódio específico pode ser o momento-chave para que a vacina contra a doença, que hoje custa até R$ 2 mil nas redes privadas, seja finalmente distribuída pelo SUS.

Isso porque a delegada Accorsi, de 52 anos, é deputada federal pelo PT em Goiás – e não é qualquer paciente que tem acesso ao ministro da Saúde de um país ou que admite: “Eu já tinha idade para vacinar, mas não tive informação sobre a vacina”, disse, em entrevista à Agência Pública. “Estou fazendo exames porque parece que estou com sequelas”, pontua a parlamentar, que enfrentou nervos inflamados, rosto inchado, risco de danos neurológicos e recebeu medicação intravenosa para conter a reativação do vírus. 

Para pessoas com mais de 50 anos, a doença pode se apresentar em sua forma mais perigosa, uma vez que ela se aproveita da baixa imunidade do corpo para se manifestar. Levantamento feito pela Pública com base nos dados disponíveis no DataSUS mostra que cerca de 46,4% do total de internações por Herpes Zoster entre 2014 e 2024 foram de pessoas acima dessa idade, que também concentrou 86,5% das mortes pela doença. 

No mês seguinte à alta hospitalar, Accorsi procurou diretamente o ministro Alexandre Padilha munida de um estudo produzido por sua própria equipe advogando pela vacina – que desconhecia até um mês antes.

O Ministério da Saúde informou que, oficialmente, a incorporação da vacina ao SUS está em análise de custo-efetividade para pacientes acima dos 50 anos, após pedido formal à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). 

Nas redes sociais, o ministro já aparece em vídeo publicado pela deputada no X [antigo Twitter] tratando a questão como prioridade da pasta. “É uma vacina de boa qualidade, mas é muito difícil as pessoas terem acesso. Muita gente não sabe da existência dela. Pode ter certeza: é uma prioridade nossa, enquanto ministro da Saúde, que essa vacina possa estar no SUS”, afirmou Padilha.

O ministério, no entanto, não respondeu sobre o custo da incorporação, o prazo para distribuição aos postos de saúde ou a razão para que a análise do defensor não tenha sido feita anteriormente. 

Em 2024, o Brasil registrou o maior número de internações por Herpes Zoster em pessoas com mais de 50 anos, totalizando 2,6 mil casos. Na última década, o maior número anual de internações foi registrado em 2019, com total de 2.843. Apenas entre janeiro e junho de 2025, já foram contabilizadas 2.444 internações, sendo 1.404 de pessoas acima dos 50 anos – o que pode indicar um crescimento no número de casos caso o ritmo seja mantido até o final do ano.

Além de sintomas clássicos, vacina pode proteger contra demência

Entre os riscos da doença estão infecções bacterianas secundárias, problemas neurológicos como a neuralgia pós-herpética, e, em casos mais graves, comprometimento da visão ou da audição. “A mais temida é a neurite pós-herpética, porque às vezes o indivíduo fica anos sentindo muita dor naquele nervo onde o vírus reativou”, explica a infectologista Joana D’arc. 

“A vacina vai reduzir a possibilidade do indivíduo se infectar e diminui a possibilidade de complicações, além de recomendada para indivíduos que já tiveram herpes zóster”, complementa D’arc.

Um estudo publicado na revista Nature em maio de 2025 mostrou que a vacinação contra Herpes Zoster pode reduzir significativamente o risco de demência. Pesquisadores observaram que pessoas vacinadas apresentaram uma redução de 20% na probabilidade de desenvolver demência ao longo de sete anos, com base em um experimento no País de Gales, onde a elegibilidade para a vacina foi determinada por data de nascimento. A análise, conduzida com dados de mais de 280 mil adultos, aponta que o efeito foi mais acentuado entre as mulheres.

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