Uma associação de cientistas estrangeiros publicou, nessa segunda-feira (8/9), na revista Cancer Discovery, um estudo que destaca um padrão genômico até então difícil de detectar em tumores cerebrais agressivos: fragmentos de DNA que escapam da estrutura normal dos cromossomos e passam a circular em formato de anéis, chamados DNA extracomossômicos (ecDNA).
Essas estruturas aumentam a instabilidade do genoma tumoral, estimulam a multiplicação das células cancerosas e estão associadas à resistência aos tratamentos. Segundo os pesquisadores, entender como esses anéis se organizam e interagem com o restante do DNA pode ajudar a explicar por que alguns tumores se tornam mais invasivos e de difícil controle.
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Para chegar a essas conclusões, os cientistas desenvolveram o BACDAC (Breakpoints Across the Genome via Data-Driven Assembly Coverage), um método que permite reconstruir com precisão os pontos de quebra e rearranjos no DNA tumoral.
A tecnologia consegue identificar alterações mesmo em amostras de baixa qualidade — algo comum em biópsias —, o que amplia a possibilidade de análise em cenários clínicos reais.
O BACDAC revelou, por exemplo, que muitos tumores com ecDNA apresentavam fenótipos de ploidia anormal, como duplicações completas do genoma. Essas alterações estão diretamente ligadas à agressividade da doença e à maior chance de falha terapêutica.
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Tumor cerebral é o termo utilizado para descrever o crescimento acelerado de células que sofreram mutações no cérebro, ou nas meninges, e que passaram a se comportar de forma errada podendo, por exemplo, causar a formação de uma massa celular
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Os tumores cerebrais podem ser benignos ou malignos. Além disso, dependendo do quanto cresçam, são capazes de destruir o tecido cerebral saudável e comprimir o restante do cérebro
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Quando maligno, o paciente passa a ser diagnosticado com câncer cerebral, que, por sua vez, costuma ser mais letal devido ao diagnóstico tardio. Geralmente, o paciente não desconfia dos sintomas iniciais e procura o médico quando a doença já progrediu
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Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa anual é de 11.090 casos de câncer no cérebro entre a população brasileira. A doença afeta, na mesma proporção, homens e mulheres
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De acordo com especialistas, tumores benignos e malignos causam sintomas semelhantes. Os malignos, entretanto, têm maior chance de se desenvolverem rapidamente, provocando maior frequência de dores, convulsões e alterações neurológicas
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Entre os principais sinais que o corpo dá quando há um tumor no cérebro está a dor de cabeça frequente. Pessoas com a enfermidade e que não costumam ter dores de cabeça podem começar a apresentar o problema de maneira recorrente. Quem já apresenta histórico deste tipo de queixa percebe piora na intensidade e aumento nas ocorrências
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A presença de um tumor cerebral também causa alteração nos cinco sentidos – tato, olfato, paladar, visão e audição. Mudanças na fala ou na capacidade intelectual, como compreensão, raciocínio, escrita, cálculo e reconhecimento de pessoas são sintomas que precisam ser investigados
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Além disso, perda visual, manchas ou visão embaçada, crises epiléticas, convulsões ou perda de equilíbrio também podem ser causadas por tumores no cérebro ou em outras partes do sistema nervoso
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As causas de tumores no cérebro ainda não estão definidas. Por enquanto, a doença é considerada multifatorial, ou seja, causada por um somatório de várias alterações genéticas
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Algumas dessas alterações são adquiridas durante a vida, por predisposição ou por exposição. Outras são hereditárias e estão presentes em algumas síndromes familiares associadas a problemas no sistema nervoso central
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O tratamento da doença dependerá da localização e do avanço do tumor. Na maioria dos casos, no entanto, quimioterapias, radioterapias, terapia-alvo e procedimentos cirúrgicos são indicados
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Implicações clínicas
O estudo sugere que mapear o ecDNA pode abrir caminho para diagnósticos mais precisos e estratégias personalizadas de tratamento. Ao identificar precocemente quais tumores carregam esse “motor genômico” de instabilidade, médicos poderiam prever quais pacientes correm maior risco de evolução rápida ou de resistência à terapia.
Além disso, o rastreamento do ecDNA pode se tornar um novo biomarcador para guiar decisões clínicas e até inspirar terapias voltadas diretamente para a neutralização desses anéis de DNA.
Linha do tempo das descobertas
Essa não é a primeira vez que os anéis extracomossômicos são apontados como protagonistas em câncer cerebral. Em 2024, um artigo publicado na revista Nature Genetics já havia destacado que esses elementos funcionam como “plataformas móveis” que carregam oncogenes — genes que estimulam o crescimento descontrolado das células —, acelerando a evolução tumoral.
A nova pesquisa aprofunda esse entendimento ao mostrar, em detalhes, como o ecDNA contribui para a arquitetura desorganizada e instável dos genomas tumorais.
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