Influenciadores digitais e DJs atuavam como promotores e vendiam alucinógenos popularmente conhecidos como cogumelos mágicos nas redes sociais e em festas, principalmente de música eletrônica, de acordo com a investigação conduzida pela Polícia Civil do DF (PCDF). Ao todo, nove pessoas foram presas nesta quinta-feira (4/9), acusadas de participar da maior rede de comercialização desse tipo de droga, formando um verdadeiro império.
O lucro da quadrilha gira em torno de R$ 26 milhões. Entre os presos, há dois universitários do Distrito Federal.
O esquema foi publicado em primeira mão pelo Metrópoles. O grupo, que produzia e vendia cogumelos contendo psilocibina (substância proibida pela Anvisa), investia no patrocínio de feiras e festivais de música, ambientes que facilitavam o contato direto com potenciais consumidores e reforçavam a associação da marca com experiências de lazer e entretenimento.
A Operação Psicose contou com apoio da Polícia Civil de diversos estados. Foram às ruas agentes de MG, PA, PR, RS, SC, SP e ES. Segundo o delegado da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) da PCDF, Waldek Cavalcante, sites também eram usados para divulgar notícias para falar dos benefícios do uso dos alucinógenos.
“Além dos DJ’s e influenciadores digitais, eles pagavam para que fossem feitas reportagens favoráveis ao consumo dessas drogas. Eles traziam uma narrativa científica de benefício a saúde buscando aumentar essa renda para criar um ambiente favorável para uma legalização”, explicou o delegado da PCDF.
Cavalcante afirmou, também, que o grupo criminoso que operavam o esquema milionário que funcionava como um E-commerce de cogumelos contava com a colaboração de um emaranhado de empresas no esquema que estão sendo investigadas e novos desdobramentos devem acontecer na próxima fase da Operação Psicose.
“Solicitamos ao Judiciário o sequestro de mais de R$ 250 milhões de reais dessas empresas. Essa solicitação ainda está em curso e inda haverá uma análise de dados que ainda vão chegar a nós e outras pessoas serão buscadas para serem responsabilizadas”, contou o delegado.
Substância proibida
Os cogumelos mágicos contêm psilocibina, um composto psicodélico natural que altera a percepção sensorial e a noção de tempo e espaço, além de provocar experiências emocionais e visuais intensas, dentre outros efeitos. Em contextos de festas de música eletrônica e uso recreativo, os cogumelos são consumidos por frequentadores em busca de sensação de euforia, já que, segundo relato de usuários, os cogumelos se apresentam como alternativa natural ao LSD e MDMA.
A substância tem ação imprevisível e os efeitos podem variar conforme a dose, a sensibilidade individual e o estado emocional, indo de experiências inicialmente agradáveis a episódios de ansiedade e paranoia, conhecidos como bad trip.
No Brasil, a psilocibina é classificada como substância proibida pela Portaria nº 344/1998 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tornando seu cultivo, comercialização e distribuição atividades ilegais sujeitas a sanções.
Entenda a operação do “Império dos cogumelos”
- A ação policial deflagrada nesta quinta-feira (4/9) desmantelou uma das maiores ofensivas já realizadas contra o tráfico de drogas sintéticas e psicodélicas no país.
- No total foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão e nove prisões preventivas em sete unidades da federação.
- As buscas foram feitas no Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Pará, Minas Gerais e Espírito Santo.
- De acordo com a Cord, a rede nacional chegava a movimentar até R$ 200 mil por dia, sustentada por uma estrutura avançada, logística e marketing digital agressivo.
- Entre os presos estão os dois universitários do DF, agora apontados como peças centrais no fornecimento da droga para a capital federal.
- Durante a operação, foram apreendidos: computadores e celulares utilizados na administração da plataforma e documentos contábeis da organização.
- Os dois universitários brasilienses presos são : Igor Tavares Mirailh e Lucas Tauan Fernandes Miguins.
- O trabalho de inteligência revelou então a existência de um centro de distribuição em Curitiba (PR).
- O local funcionava como o coração da operação criminosa, com produção em escala industrial e capacidade para abastecer diversos estados simultaneamente.
- Além do centro logístico, a polícia identificou empresas de fachada em Santa Catarina e no Paraná, registradas como comércios de alimentos.
- Na prática, eram utilizadas para lavagem de dinheiro e ocultação das atividades ilegais.
Durante a Operação Psicose, policiais civis da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) encontraram um sofisticado laboratório de produção de drogas alucinógenas, que mostra um verdadeiro “Império dos Cogumelos”.
O local era dividido em cômodos, cada um dedicado a uma fase da produção. Cogumelos estavam espalhados por bandejas com filtros de ventilação, caixas e sacos plásticos — alguns ainda em preparo, outros já prontos para a venda.
Nas imagens obtidas pelo Metrópoles, é possível ver as drogas embaladas, empacotadas e até carimbadas, indicando um esquema profissional de comercialização.
Veja imagens:
Linha de produção
De forma meticulosa e organizada, dois universitários foram presos preventivamente. Eles transformaram laboratórios improvisados em uma verdadeira linha de produção. Diferentes espécies de cogumelos eram cultivadas e comercializadas por meio de uma plataforma on-line com aparência profissional:
- Catálogo de variedades;
- Fotografias em alta resolução;
- Descrições detalhadas de efeitos e dosagens;
- Diversas formas de pagamento, incluindo cartão de crédito, Pix e transferências bancárias.
- A logística de entrega também surpreendeu os investigadores. Os produtos eram despachados em embalagens discretas, enviados tanto por transportadoras privadas quanto pelos Correios, em um modelo semelhante ao dropshipping, que dificultava a identificação do material.
Dois universitários de Brasília foram presos, acusados de envolvimento no esquema: Igor Tavares Mirailh e Lucas Tauan Fernandes Miguins.
A coluna Na Mira apurou que Igor Mirailh esteve matriculado nos cursos de museologia, artes cênicas e comunicação social da Universidade de Brasília (UnB), embora não tenha concluído nenhum deles. Já Lucas Miguins, estudante de uma universidade particular, dividia com o colega a liderança de uma célula da organização criminosa instalada na capital do país.
Fontes policiais afirmam que os dois eram considerados operadores-chave do esquema, responsáveis pela manutenção de uma linha de produção própria de cogumelos alucinógenos contendo psilocibina, droga com alto poder alucinógeno e popularizada em festas de música eletrônica.
Veja imagens do esquema chefiado pelos universitários:
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Faturamento
A PCDF estima que o esquema criminoso faturou mais de R$ 26,5 milhões, entre 2024 e 2025. O lucro médio do cultivador principal ficou na casa dos R$ 400 mil por mês, enquanto o distribuidor do Distrito Federal lucrava R$ 35 mil mensais.
Com a investigação, foi possível calcular, aproximadamente, o vasto faturamento gerado pela rede de distribuição de cogumelos alucinógenos nos anos de 2024 e 2025, revelando a escala da operação ilegal.
Venda on-line
A apuração teve início quando a Cord passou a monitorar um perfil no Instagram de uma suposta empresa registrada no Distrito Federal. O perfil direcionava usuários tanto para a plataforma de vendas quanto para o grupo de mensagens instantâneas.
No decorrer das análises, a polícia descobriu que a produção local realizada pelos universitários não era suficiente para atender à demanda crescente. Essa discrepância levantou a suspeita da existência de um fornecedor oculto, responsável por abastecer a rede em escala muito maior.
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