O Entorno do Distrito Federal tem, pelo menos, oito postos de combustíveis ligados a um empresário que está na mira da megaoperação Carbono Oculto. A força-tarefa deflagrada na última quinta-feira (28/8) investiga um esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis vinculado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e a empresários da Faria Lima, principal centro financeiro do país, localizado em São Paulo (SP).
Os postos em questão têm como sócio e/ou administrador o empresário Armando Hussein Ali Mourad. Armando é irmão do também empresário Mohamad Hussein Mourad, apontado pelas investigações como o epicentro do esquema bilionário que movimentou mais de R$ 50 bilhões do crime organizado.
Para dar aparência de legalidade ao negócio, Mohamad colocava parentes à frente das companhias, e um deles é Armando. O irmão assumiu postos de combustíveis e uma distribuidora em Goiás. Segundo as investigações, os estabelecimentos foram usados para lavar dinheiro e expandir os negócios da família.
Todos os postos de combustíveis de Armando são “bandeira branca” — posto que não possui vínculo direto com uma grande distribuidora de petróleo, como Petrobras e Shell, por exemplo. Sobre os comércios no Entorno, quatro levam o nome de Infinity e dois de PPostos. O Infinity Divisa, por exemplo, fica a menos de 60 quilômetros do centro do Distrito Federal.
Os postos de combustíveis localizados no Entorno do DF são:
- PPostos Abadiânia, em Abadiânia (GO)
- PPostos Alexânia, em Alexânia (GO)
- Posto Infinity Alexânia, em Alexânia (GO)
- Posto Infinity Goianésia, em Goianésia (GO)
Posto Infinity Luziânia, em Luziânia (GO)
- Posto Futura Niquelândia, em Niquelândia (GO)
- Posto Infinity Divisa, em Santo Antônio do Descoberto (GO)
- Posto Santo Antônio, em Santo Antônio do Descoberto (GO)
Além dos oito localizados ao redor do DF, Armando Hussein Ali Mourad possui ou administra ao menos 20 postos em outros municípios goianos como Jataí, Catalão e Morrinhos, e até mesmo na capital Goiânia e em regiões metropolitanas como Senador Canedo e Terezópolis de Goiás.
Nota-se a repetição dos nomes fantasia Infinity e PPostos, bem como quatro estabelecimentos em Jataí com o nome Futura.
Veja a lista:
- Sucesso Auto Posto (Justiniano e Justiniano Real Combustíveis), em Aparecida de Goiânia (GO)
- Posto Dipoco, em Catalão (GO)
- Posto Infinity, em Catalão (GO)
- Posto Atlântico, em Goiânia (GO)
- Posto Canaã, em Goiânia (GO)
- Posto Parada 85, em Goiânia (GO)
- Posto São José, em Goiânia (GO)
- PPostos Hidrolândia, em Hidrolândia (GO)
- Futura Cristo, em Jataí (GO)
- Futura JK, em Jataí (GO)
- Futura Shopping, em Jataí (GO)
- Futura Vilelão, em Jataí (GO)
- Posto da Serra, em Morrinhos (GO)
- Posto Infinity Morrinhos, em Morrinhos (GO)
- Posto Avenida, em Rio Verde (GO)
- Posto Infinity, em Rio Verde (GO)
- Posto Infinity (Posto Vini Show), em Senador Canedo (GO)
- Posto Infinity Redevoada, em Senador Canedo (GO)
- Posto Nova Era, em Senador Canedo (GO)
- Posto Yellow, em Terezópolis de Goiás (GO)
Sobre a operação
De acordo com as investigações do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e da Receita Federal, órgãos responsáveis pela megaoperação Carbono Oculto, Mohamad Hussein Mourad controlava uma rede de empresas ligada em todas as etapas de produção e venda de combustíveis. Esse grupo importava metanol e desviava o produto direto para os postos de combustíveis.
Segundo o MPSP, alguns desses postos vendiam combustíveis com até 90% de metanol, montante muito superior à porcentagem permitida pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que determina um limite de até 0,5% dessa substância na gasolina e no etanol. Assim, o grupo gastava menos com gasolina e etanol, por exemplo.
Para operar o dinheiro obtido nessas fraudes, o grupo usava fintechs (instituições financeiras semelhantes a bancos, mas com flexibilidade em algumas funções). Por meio dessas empresas, o grupo emitia notas fiscais para a importação de produtos químicos desviados. Com esse modus operandi, o bando teria usado 40 fundos com patrimônio de R$ 30 bilhões, geridos por operadores da Faria Lima, segundo investigações.
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Mais sobre a operação Carbono Oculto
- A megaoperação deflagrada na semana passada, a maior já feita contra o crime organizado no Brasil, cumpriu mais de 350 mandados de busca e apreensão em oito estados.
- As investigações apontam um complexo esquema de fraude em postos de combustíveis e fintechs que tinha núcleos comandados pelo PCC.
- Mais de 350 pessoas e empresas como postos de combustíveis e fintechs são alvos da força-tarefa. Veja a lista.
- De acordo com a investigação, a fraude começava na importação irregular de metanol, que chega ao país pelo Porto de Paranaguá, no Paraná.
- O produto, que era para ser entregue para empresas de química e biodiesel indicados nas notas fiscais, era desviado para postos de combustíveis.
- Segundo a Receita Federal, cerca de 1.000 postos de combustíveis vinculados ao grupo movimentaram R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024.
- São cumpridos mandados de prisão, busca e apreensão em oitos estados: São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
O Metrópoles tenta localizar a defesa de Armando Hussein Ali Mourad. O espaço está aberto.