O aumento do consumo de alimentos descritos em rótulo como “ricos em proteína” e “mais saudáveis” levantou preocupações do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). A ONG divulgou, nesta quarta-feira (6/8), um estudo que aponta distorções nas embalagens desses produtos e comprovou que eles trazem mais riscos à saúde do que benefícios.
O que os produtos contêm? Segundo o Idec, eles até podem ter proteína, mas não alcançam a quantidade descrita. Além disso, contêm também muito açúcar, conservantes, corantes e até agrotóxicos. A análise identificou 60 produtos que destacavam sua proporção de proteínas no mercado. Destes, 52 foram considerados ultraprocessados de acordo com a classificação nova.
O estudo do Idec apontou que alguns alimentos que anteriormente eram minimamente processados, como pastas de amendoim integral e goma pronta de tapioca, acabaram se tornando ultraprocessados apenas para que se incluam mais proteínas em suas embalagens. Estas reformulações acabaram tornando os produtos menos saudáveis.
O que são ultraprocessados?
- A classificação divide os alimentos em quatro categorias. A primeira é dos alimentos in natura (frutas, vegetais, carnes e grãos cozidos).
- Em seguida vêm os ingredientes culinários (farinha, açúcar, sal, óleo, temperos e fermentos). Depois, os alimentos processados que são produzidos, em geral, com a adição de ingredientes culinários a alimentos in natura. São doces que usam partes de fruta, queijos, pães, etc.
- Por fim estão os alimentos ultraprocessados. São produtos industrializados com corantes e aditivos artificiais que se afastam do aspecto natural de um alimento e muitas vezes não usam ingredientes naturais em sua composição. Entre eles, refrigerantes, salgadinhos, gelatinas, etc. Eles são associados a diversos problemas de saúde.
Quantidade fake de proteínas
O levantamento identificou 65 propagandas sobre a presença de proteína entre os 52 produtos. Esses alimentos incluem barras, doces, sopas, macarrões e tapiocas. Todos sinalizavam a presença de proteína nas listas de ingredientes e em destaque nas embalagens.
Em 11 casos, o conteúdo informado sobre proteínas pode induzir ao erro. A maioria das mensagens focava na quantidade de proteína, sem contextualizar sua qualidade ou origem.
Um exemplo citado é o de uma granola que alega ter 30 gramas de proteína. Contudo, essa é a quantidade total da embalagem de 200 g. Cada porção de 40 gramas de granola contém apenas 5 gramas de proteína.
Para um produto ser fonte de proteína, ele precisa entregar ao menos 10% do valor diário (VD) necessário deste nutriente na porção. Para afirmar ter alto conteúdo, é preciso chegar ao mínimo de 20%. Muitos produtos afirmam em suas embalagens cumprirem estes critérios, mas ficam em valores de 5% a 8% do VD.
Outro ponto destacado é o risco de substituição de refeições saudáveis por lanches com foco em nutrientes isolados. Essa prática, chamada de “snackficação”, pode favorecer o consumo de alimentos com baixa qualidade nutricional.
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Alimentos ultraprocessados são considerados os “vilões” da saúde
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Esses alimentos prejudicam a saúde por conter ingredientes danosos como corantes, consefvantes e aromatizantes
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Doces e refrigerantes são alguns exemplos de alimentos ultraprocessados com muito açúcar
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Proteína nem sempre precisa de reforço
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura recomenda que a ingestão diária de proteína seja de 0,6 a 0,8 grama por quilo de peso. Na América do Sul, o consumo médio em 2022 foi de 96,4 gramas por pessoa, valor já acima desta recomendação.
Incluir alimentos ultraprocessados proteicos na dieta não traz os mesmos benefícios que fontes naturais, como ovos, leguminosas e carnes. A maioria desses alimentos conta com a adição de whey protein às fórmulas para ter o perfil mais proteicos, mas o componente em si é um ultraprocessado.
“A adição de proteína nessa categoria de produtos não representa benefícios reais devido à sua composição, trazendo, na verdade, potenciais malefícios. Os alimentos in natura ou minimamente processados, como os diferentes tipos de feijão, a lentilha, os ovos, o leite e seus derivados, são mais benéficos por oferecerem qualidade nutricional sem os prejuízos do ultraprocessamento”, alerta a nutricionista Mariana Ribeiro, do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec.
Alegações mascaram baixo valor nutricional
O instituto observa que a rotulagem exagerada de proteína em produtos ultraprocessados pode reforçar a falsa percepção de ser um bom produto. Ao destacar apenas o nutriente, os fabricantes escondem o alto teor de sódio, açúcares e aditivos artificiais, associados ao aumento de doenças crônicas não transmissíveis.
O Idec recomenda atenção na hora da compra. A pesquisa destaca que, entre os produtos analisados, muitos apresentaram alegações vagas ou difíceis de verificar. É sempre bom verificar a tabela nutricional para saber se a proteína destacada é a da porção que se aconselha consumir.
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