A família de Igor Rafael Oliveira Souza, estudante brasileiro morto aos 32 anos, na Bolívia, questiona a autópsia do jovem. No documento, consta a presença de um “útero de tamanho e consistência normal com presença de menstruação”. Os parentes pedem, ainda, a inclusão do nome dele na autópsia feita pelo Instituto de Investigação Forenses da Bolívia, uma vez que ele foi registrado como indigente no laudo.
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Igor foi considerado pela polícia como morador de rua, mesmo estando bem vestido, usando um iPhone e um relógio. “Ninguém usou nem o número do celular dele para avisar a família. A dona do apartamento onde ele morava informou que ele não era indigente, levou o contrato de locação e mesmo assim, a polícia não considerou essa prova”, reforçou a mãe dele, professora aposentada da Secretaria de Educação do DF, Neidimar Vieira.
A mãe de Igor reforça que a presença de um útero no corpo do filho é biologicamente impossível, uma vez que o estudante de medicina era um homem cisgênero.
Veja imagens do laudo:
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Igor Rafael, 32 anos, estava estudando medicina na Bolívia
Reprodução/Redes sociais
A autópsia confirmou que a morte foi causada por asfixia mecânica por compressão torácica e asfixia mecânica por sufocamento, confirmando a suspeita da família de que os seguranças de uma escola alemã tenham assassinado Igor Rafael.
Os seguranças que mataram o jovem foram condenados em pena mínima por homicídio culposo e respondem o processo em liberdade. Segundo Neidimar Oliveira, o julgamento teria acontecido em menos de 48h. “Os assassinos do meu filho foram julgados em tempo recorde. Estamos solicitando a anulação da pena e que se faça novo julgamento”, disse a mãe.
Entenda o caso
- Igor Rafael morreu na última terça-feira (26/8), após ser abordado por seguranças de uma escola alemã em Santa Cruz de La Sierra, cidade a 550 km de La Paz, capital da Bolívia.
- A família ficou sabendo da informação apenas dois dias depois da morte, por informações da imprensa local.
- A polícia boliviana investiga o caso, que é acompanhado pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil.
- O brasileiro estaria em uma crise de pânico agravada por uma depressão e uso de substâncias ilícitas e teria entrado em uma papelaria em frente ao prédio onde mora clamando por ajuda.
- Ao assustar os funcionários, os guardas de uma escola foram acionados para conter o homem e o carregaram para a calçada.
- A condução do caso pelos seguranças foi truculenta, deixando o homem com o rosto e o tórax contra o chão. Nas imagens, é possível ver o momento em que Igor é colocado de bruços no chão e em um momento ele para de mexer o corpo, aparentando estar sem sinais vitais.
- O estudante de medicina morreu antes da chegada de ambulância. O laudo da morte comprovou a morte por asfixia e os responsáveis foram condenados em menos de 48h. Ele era natural de Anápolis (GO), mas a família mora no Gama, região administrativa do DF.
Imagens de câmeras de segurança de um estabelecimento mostram o momento em que Igor Rafael é colocado contra o chão por seguranças de uma escola que pressionaram o joelho contra o tórax do brasileiro.
Mais de 11 minutos de imagens de câmeras de segurança do estabelecimento foram cedidas ao Metrópoles.
Veja as imagens da morte de Igor Rafael:
Tratado como indigente
A mãe de Igor soube da morte do filho apenas dois dias depois, em 28 de agosto, por meio de informações da imprensa. Imagens de câmeras de segurança foram mostradas à mãe do jovem morto, onde é possível ver a ação.
“Meu filho teve um momento de desequilíbrio, um momento de pânico. Ele entrou em uma tenda, quando os guardas que faziam a segurança de uma escola, imobilizaram e espancaram meu filho, colocando o joelho em cima do tórax e só saíram de cima dele quando ele já estava sem vida. É bem nítido no vídeo que eles tinham apenas a intenção de matá-lo”, destacou Neidimar.
Veja o relato da mãe do estudante morto:
Sonho de se tornar médico
“Nós tínhamos um sonho dele terminar o curso neste ano e voltar para o Brasil para trabalhar. A vida dele foi ceifada antes que isso pudesse acontecer. Na terça-feira ele teve um desequilíbrio
“Estou aqui na Bolívia para levar o corpo dele para o Brasil para dar um enterro digno e para cobrar por justiça. “. O vazio existencial que eu sinto, nada vai melhorar. Nossa família está dilacerada, eu não sei se vamos ter força para continuar, mas por ele, vamos lutar até o fim”.
Igor Rafael morava na Bolívia havia 10 anos e estava cursando o último período de medicina no país. O jovem era natural de Anápolis (GO), mas a família mora no Gama, região administrativa do DF.
O que diz o Ministério
O Ministério das Relações Exteriores, informou, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Santa Cruz de la Sierra, que tem conhecimento do caso e que presta a assistência consular à família do brasileiro. Entretanto, a pasta não informou qual é o tipo de assistência será realizada à família do jovem.
Em junho deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alterou o decreto que proibia o governo federal de custear o traslado de corpos de brasileiros mortos no exterior. A medida agora prevê que dificuldades financeiras e mortes que causam comoção sejam exceções, podendo ter os custos cobertos pelo MRE caso haja recursos disponíveis.
A medida foi tomada após a morte da Juliana Marins, aos 26 anos, natural de Niterói (RJ), que caiu de uma trilha em vulcão na Indonésia.
O novo decreto, que revoga o de 2017, apresenta as seguintes situações em que o Ministério das Relações Exteriores custeará o traslado:
- I – a família comprovar incapacidade financeira para o custeio das despesas com o traslado;
- II – as despesas com o traslado não estiverem cobertas por seguro contratado pelode cujusou em favor dele, ou previstas em contrato de trabalho se o deslocamento para o exterior tiver ocorrido a serviço;
- III – o falecimento ocorrer em circunstâncias que causem comoção; e
- IV – houver disponibilidade orçamentária e financeira.
Mãe de Igor, Neidimar informou que o Consulado-Geral do Brasil na Bolívia está prestando todo auxílio à família. “Fomos recebidos muito bem pelo consulado, mas por ser em outro país, eles não podem fazer muita coisa”, disse a professora aposentada.
Vaquinha
A mãe de Igor, a professora Neidimar Vieira, criou uma vaquinha com o intuito de arrecadar o custo do translado do corpo para o Brasil que teria um custo mínimo de R$ 26 mil. O Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) está apoiando a profissional na divulgação da vaquinha.
Até a mais recente atualização desta reportagem, quase R$ 30 mil teriam sido arrecadados através de mais de 379 doações.