Farra do INSS: preso em operação apontou igreja como sede de loja “fantasma”

Samuel Chrisostomo do Bomfim Junior, contador da Confederação Nacional dos Agricultores e Empreendedores Familiares (Conafer) – instituição envolvida na fraude do INSS, foi um dos alvos de mandado de prisão cumpridos pela Polícia Federal, nesta quinta-feira (13/11).

A reportagem apurou que Samuel tem em nome dele ao menos 11 CNPJs registrados no Distrito Federal. Um desses empreendimentos, nomeado como Solution, supostamente funciona no mesmo local de uma Igreja Evangélica, no Recanto das Emas, registrada no nome de Lucineide dos Santos Oliveira, socia da Associação de Aposentados do Brasil (AAB), outra empresa investigada nos descontos ilegais.

Metrópoles esteve no endereço e encontrou apenas a instituição religiosa, erguida entre um centro catequético e um terreno baldio. Apesar disso, segundo dados da Receita Federal, a loja de Samuel está ativa no espaço, configurando a suspeita de ser uma empresa fantasma.

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Outras dezenas de CNPJs distintos também vinculados à dupla, bem como a uma terceira pessoa ligada ao presidente da Conafer – o Cícero Marcelino de Souza Santos, outro alvo de mandado de prisão – supostamente funcionam na parte superior de um sobrado no Recanto das Emas.

Apesar de os envolvidos terem indicado na Receita Federal o endereço como sede das empresas – que prometem oferecer desde comércio varejista à locação de carros e atividades de apoio à agricultura, – a fachada do pequeno escritório exibe apenas chamada para dois desses empreendimentos: a Expresso e um segunda companhia também apelidada como Solution.

Veja:

Um outro CNPJ registrado no nome de Lucineide dos Santos Oliveira, a sócia da AAB, está localizado na Quadra 403 Conjunto 19 do Recanto das Emas. A reportagem esteve no endereço e ouviu de testemunhas que apenas uma tapiocaria funciona há anos no local.

Além de pertencerem a integrantes de instituições diferentes e dividirem um único espaço, essas empresas carregam um outra curiosidade: a maioria tem como contato principal o mesmo endereço de e-mail.

Conheça as empresas e onde estão localizadas:

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Convocado a prestar depoimento na CPMI que apura as fraudes do INSS, Cícero Marcelino chegou afirmar que lucrava “uns trocos” com o dinheiro que deveria ser destinado aos aposentados e pensionistas. O homem admitiu, ainda, que abriu empresas para prestar serviços a pedido do presidente da Conafer.

Cícero também contou que recebia planilhas de pagamentos para as entidades da Conafer e os repassava, mas negou conhecer Samuel Chrisostomo, apesar de supostamente conduzir empresas no mesmo local que ele.

Durante a CPMI, as empresas de Cícero foram apontadas como empreendimentos laranja. “A única coisa que estou vendo aqui nesta CPMI é que as pessoas que os sindicatos ajudam são os próprios dirigentes e seus familiares, as empresas dos dirigentes, dos familiares, ou dos laranjas e familiares dos laranjas. E você é um laranja, suas empresas são empresas laranja”, disse a deputada Adriana Ventura (Nov-SP).

Operação

A Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram, nesta quinta-feira (13/11), nova fase da Operação Sem Desconto, investigação que mira esquema nacional de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões. A ação mobilizou equipes em 17 estados e no Distrito Federal.

Ao todo, foram cumpridos 63 mandados de busca e apreensão, 10 mandados de prisão preventiva e diversas medidas cautelares. Entre os presos estão:

Os alvos estão espalhados por Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Distrito Federal.

Como o esquema funcionava

Segundo as investigações, os suspeitos atuavam inserindo dados falsos em sistemas oficiais para incluir beneficiários em associações ou entidades fictícias. A partir disso, eram feitos descontos mensais indevidos diretamente nos pagamentos de aposentados e pensionistas, muitos deles sem qualquer conhecimento sobre as cobranças.

O grupo é investigado por formar organização criminosa voltada à obtenção de vantagens financeiras por meio de estelionato previdenciário, além de corrupção ativa e passiva para facilitar o acesso fraudulento aos sistemas do INSS.

Também há apurações sobre ocultação de patrimônio, supostamente utilizado para dificultar o rastreamento dos valores desviados.

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