Fonte: Correio Braziliense
O Distrito Federal vive um ano alarmante no que diz respeito à violência contra a mulher. Com dez feminicídios registrados até o momento, o número de casos em 2025 já dobrou em relação ao mesmo período de 2024, quando cinco ocorrências foram contabilizadas. O caso mais recente reacendeu o debate sobre a impunidade e a fragilidade dos mecanismos de proteção.
Valdete Silva Barros foi assassinada no último sábado (20) pelo companheiro, José Ribamar Cunha Pereira, no Sol Nascente. A vítima foi encontrada sem vida, com diversos ferimentos de faca pelo corpo. O agressor fugiu do local e só se apresentou à delegacia mais de 24 horas depois, acompanhado por um advogado.
Mesmo tendo confessado o crime, Pereira foi liberado após prestar depoimento. A decisão causou comoção nas redes sociais e entre familiares e amigos da vítima. Entidades de defesa dos direitos das mulheres também se manifestaram, cobrando justiça e mudanças na legislação penal.
Segundo a especialista em criminologia Eneida Lopes, a conduta do autor segue um padrão observado em diversos casos de feminicídio no Brasil. “A fuga após o crime tem sido uma característica marcante. Eles se escondem e depois se apresentam com advogado, o que configura apresentação espontânea, feita após cessar o flagrante, o que impede a prisão imediata”, explica.
Ainda de acordo com Eneida, essa manobra pode representar um benefício jurídico ao agressor. “No Brasil, a confissão espontânea é uma circunstância atenuante. Isso significa que, mesmo confessando um feminicídio, o criminoso pode ter a pena reduzida”, detalha.
Diante da escalada de casos e da sensação de impunidade, movimentos feministas e especialistas em direito penal têm pressionado por reformas na legislação e maior rigor no tratamento dos casos de violência de gênero. “Não se trata apenas de punir, mas de evitar que outras mulheres sejam mortas. Precisamos de medidas protetivas mais eficazes e de um sistema que não premie o assassino pela frieza com que age”, conclui Eneida.