Paraty, a indústria do medo e seus efeitos na economia dos municípios
Referência nacional e internacional, município fluminense sente os efeitos de um cenário desafiador e aposta na força da cultura e da hospitalidade para recuperar protagonismo
Com suas ruas de pedra, casarões coloniais e paisagens que unem mar, serra e Mata Atlântica, Paraty é reconhecida mundialmente como um dos destinos turísticos mais encantadores do Brasil. Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, a cidade é sinônimo de cultura, história, biodiversidade e gastronomia. Mas, nas últimas semanas, Paraty tem chamado atenção por um motivo diferente: a queda na taxa de ocupação hoteleira, mesmo em períodos tradicionalmente movimentados, como o último feriado prolongado.
Durante o Festival Bourbon, evento consolidado no calendário cultural do município, a ocupação ficou em torno de 45%, bem abaixo do esperado para a época. O dado preocupa setores ligados ao turismo, especialmente em uma cidade onde cerca de 90% dos empregos têm relação direta ou indireta com essa atividade.
Paraty continua sendo uma vitrine para o Brasil e para o mundo. A cidade voltou a ganhar projeção nacional como cenário da novela “Vale Tudo”, atualmente em reprise na TV Globo. Além disso, segue sendo palco recorrente de gravações de filmes, minisséries e produções nacionais e internacionais. A vocação cinematográfica é forte e reconhecida, ajudando a manter a imagem do município em evidência.
A visibilidade constante na mídia, no entanto, não foi suficiente para impulsionar a ocupação hoteleira nos últimos feriados, o que acendeu o alerta entre empresários e lideranças locais. O desafio agora é entender como retomar a confiança do turista e valorizar o que Paraty tem de mais forte: sua história, sua cultura e a hospitalidade de sua gente.
Enquanto Paraty teve uma taxa de ocupação abaixo do esperado em feriados recentes, municípios como Búzios e Petrópolis apresentaram desempenho positivo, com leitos praticamente lotados em hotéis e pousadas. Os bons resultados nesses destinos demonstram que, apesar dos desafios enfrentados por algumas cidades, o turismo fluminense segue aquecido em determinadas regiões. O contraste reforça a necessidade de estratégias específicas para Paraty, de forma a recuperar o ritmo que já a colocou entre os principais destinos turísticos do mundo.
Rua das pedras – Búzios (JB na estrada)
Mesmo assim, chama atenção o fato de Paraty, que foi listada pelo TripAdvisor em 2022 como um dos 15 destinos mais desejados do mundo, e pelo Booking.com em 2023 como o primeiro do Brasil em turismo histórico, viver esse momento de retração. O cenário reforça a necessidade de ações integradas entre setor público, iniciativa privada e comunidade.
Segurança e comunicação positiva: desafios do momento
Casos recentes de violência pontual, como o atentado contra um policial militar e o incêndio de um carro dentro da delegacia, acabaram repercutindo negativamente e exigem atenção especial. A cidade, que sempre teve um perfil acolhedor e seguro, precisa agora reforçar essa imagem com comunicação positiva e diálogo direto com a população e os turistas.
A gestão da crise passa por ações conjuntas e pela transparência com que o município está lidando com a situação, buscando apresentar números e medidas para fortalecer o turismo e preservar a tranquilidade que sempre caracterizou a cidade.
Cultura e acolhimento como força motriz
Mesmo diante dos desafios, Paraty segue firme em sua vocação. A agenda cultural da cidade está ativa, com festivais literários, gastronômicos, exposições, eventos tradicionais e um calendário recheado para os próximos meses. É essa força criativa e comunitária que torna Paraty única.
O momento é de escuta, planejamento e reconstrução da confiança. Paraty permanece como um dos destinos mais encantadores do Brasil, e merece ser redescoberta, respeitada e vivida com a intensidade que sua história inspira.