Por décadas, a ciência apontou as placas de proteínas malformadas como protagonistas do Alzheimer. Agora, um estudo da Universidade Purdue, nos Estados Unidos, indica que a gordura acumulada em células de defesa do cérebro pode ter papel igualmente decisivo na progressão da doença.
O que é o Alzheimer?
- O Alzheimer é uma doença que afeta o funcionamento do cérebro de forma progressiva, prejudicando a memória e outras funções cognitivas.
- Ainda não se sabe exatamente o que causa o problema, mas há indícios de que ele esteja ligado à genética.
- É o tipo mais comum de demência em pessoas idosas e, segundo o Ministério da Saúde, responde por mais da metade dos casos registrados no Brasil.
- O sinal mais comum no início é a perda de memória recente. Com o avanço da doença, surgem outros sintomas mais intensos, como dificuldade para lembrar de fatos antigos, confusão com horários e lugares, irritabilidade, mudanças na fala e na forma de se comunicar.
Os pesquisadores observaram que a microglia — células imunológicas responsáveis por eliminar resíduos no sistema nervoso central — perde eficiência quando fica sobrecarregada de lipídios. Essa disfunção favorece o acúmulo de placas de beta-amiloide, característica clássica do Alzheimer.
Como a gordura atrapalha o cérebro
O trabalho, publicado na revista Immunity em 10 de junho, mostrou que microglias próximas das placas beta-amiloides armazenam o dobro de gordura em relação às mais distantes. Carregadas desse excesso, elas conseguem remover até 40% menos das proteínas tóxicas.
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Segundo o químico Gaurav Chopra, coordenador da pesquisa, a gordura não é um simples subproduto da doença, mas parte do processo que alimenta a neurodegeneração. “Quando as células de defesa ficam cheias de lipídios, deixam de cumprir seu papel, e o equilíbrio do cérebro se perde”, explica ele em comunicado.
O estudo também identificou uma enzima chamada DGAT2 como responsável por desviar ácidos graxos para o armazenamento em forma de gordura. Esse mecanismo, que deveria ser transitório, acaba se intensificando conforme a doença avança, imobilizando a microglia.
Alzheimer é uma doença degenerativa causada pela morte de células cerebrais e que pode surgir décadas antes do aparecimento dos primeiros sintomas
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Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista
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Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce
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Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano
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Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença
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Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns
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Segundo pesquisa realizada pela fundação Alzheimer’s Drugs Discovery Foundation (ADDF), a presença de proteínas danificadas (Amilóide e Tau), doenças vasculares, neuroinflamação, falha de energia neural e genética (APOE) podem estar relacionadas com o surgimento da doença
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O tratamento do Alzheimer é feito com uso de medicamentos para diminuir os sintomas da doença, além de ser necessário realizar fisioterapia e estimulação cognitiva. A doença não tem cura e o cuidado deve ser feito até o fim da vida
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Novas perspectivas de tratamento
Para investigar formas de reverter o quadro, a equipe testou moléculas capazes de inibir ou degradar a DGAT2. Em modelos animais, a redução da enzima ajudou a limpar os depósitos de gordura, restaurando parcialmente a função das células imunológicas e melhorando marcadores de saúde neuronal.
Embora os resultados ainda sejam iniciais, os pesquisadores acreditam que direcionar terapias para o metabolismo lipídico da microglia pode abrir caminhos complementares às estratégias atuais, focadas apenas nas placas proteicas. “Ao restaurar o metabolismo dessas células, conseguimos devolver parte de sua defesa natural contra o Alzheimer”, afirma Chopra.
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