Em meio ao panorama complexo do tráfico de drogas no Rio de Janeiro, uma nova dinâmica vem ganhando destaque: a ascensão dos chamados “Traficantes Evangélicos”. Este fenômeno, meticulosamente explorado no livro “Traficantes Evangélicos: Quem São e a Quem Servem os Novos Bandidos de Deus”, de autoria de Viviane Costa, lança luz sobre a profunda interseção entre o crime organizado e as igrejas evangélicas nas comunidades cariocas.
Costa, pesquisadora dedicada e profunda conhecedora da realidade das favelas do Rio, revela uma transformação notável no tecido social dessas comunidades. Onde antes predominavam as religiões de matriz africana, agora o evangelho é proclamado como a fé dominante, muitas vezes imposta pela força e pela violência.
O livro de Costa mergulha nas raízes históricas dessa mudança, destacando como o tráfico de drogas, que anteriormente mantinha laços estreitos com as religiões de matriz africana, agora adotou o evangelho como sua principal ideologia religiosa. Essa transição não apenas alterou a paisagem espiritual das favelas, mas também teve impactos significativos nas relações de poder e controle dentro dessas comunidades.
Um dos aspectos mais perturbadores explorados por Costa é a maneira como as igrejas evangélicas são cooptadas pelos traficantes para legitimar suas operações criminosas. Muitos líderes religiosos, seduzidos pela promessa de dinheiro fácil e influência política, acabam se tornando cúmplices involuntários do crime organizado, fechando os olhos para as atividades ilícitas em troca de benefícios materiais.
Além disso, o livro destaca como a ascensão dos Traficantes Evangélicos resultou na marginalização e perseguição das religiões de matriz africana nas favelas. Templos foram destruídos, líderes religiosos foram ameaçados e praticantes foram forçados a abandonar suas crenças ancestrais em favor do evangelho imposto pelos traficantes.
Em meio a um cenário tão sombrio, Viviane Costa não apenas identifica os problemas, mas também propõe soluções. Ela enfatiza a importância de programas de prevenção ao crime e de apoio às comunidades vulneráveis, bem como a necessidade de uma abordagem holística que envolva não apenas a aplicação da lei, mas também o fortalecimento das instituições sociais e religiosas legítimas.

“Traficantes Evangélicos” é um livro que não apenas descreve uma realidade perturbadora, mas também convoca a sociedade a enfrentar de frente os desafios que ela apresenta. À medida que o Rio de Janeiro continua a enfrentar os desafios do crime e da violência, obras como esta são cruciais para abrir os olhos do público e inspirar ações concretas em busca de uma mudança positiva.