O ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres (foto em destaque) teria falsificado um bilhete de passagem para justificar sua ausência no dia 8 de janeiro de 2023. A suspeita foi levantada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
No fim da noite dessa segunda-feira (14/7), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o parecer final da Ação Penal nº 2.668, que investiga suposta trama golpista. No documento de 517 páginas, ele pede a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de aliados.
Torres, que antes de ser titular da SSP-DF foi ministro da Justiça de Bolsonaro, alega que desde julho de 2022 tinha férias programadas para o período em que os atos antidemocráticos ocorreram.
A defesa de Torres afirma que a passagem para Orlando (EUA) foi comprada em novembro de 2022. Contudo, em nenhum momento foi apresentado o comprovante da compra ou próprio bilhete aéreo físico. No lugar disso, Torres indicou somente um localizador: MYIDST.
“Instada pela PGR, a companhia Gol Linhas Aéreas S.A. informou ‘que o localizador MYIDST não condiz com os dados descritos em nome de Anderson Gustavo Torres’ e que não identificou voos, no trecho Brasília/Orlando, voo G3-9460, em nome do acusado”, afirmou o documento.
“A Procuradoria-Geral da República identificou a possível falsidade do documento apresentado pela defesa, o que não apenas reforça a gravidade da conduta do réu Anderson Torres à época dos crimes, mas deverá justificar a adoção de providências adicionais em relação ao novo fato aparentemente ilícito”, afirmou.
A PGR disse considerar que, mesmo que fosse apresentada uma passagem aérea válida, isso por si só “já não seria suficiente para redimir as omissões dolosas do acusado, que, como visto, estava municiado de informações suficientes, às vésperas de sua viagem, sobre a gravidade dos eventos que estavam por vir”.
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A PGR concluiu que “a escandalosa constatação coloca em xeque a versão do réu de que sua viagem já se encontrava agendada desde muito antes e confirma a sua estratégia deliberada de afastamento e conivência com as ações violentas que se aproximavam”.
As férias de Torres
Torres tomou posse na SSP-DF no dia 2 de janeiro de 2023, uma segunda-feira, trabalhou até sexta, dia 6, e estaria supostamente de férias a partir da segunda seguinte, dia 9.
Suas férias, inclusive, foram concedidas em autorização realizada por Jair Bolsonaro no dia 27 de dezembro de 2022.
Os registros mostram também que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, afirmou só saber da viagem no dia 7 de janeiro, um dia antes dos atos antidemocráticos e quando o então secretário já se encontrava nos EUA, após Torres encaminhar o contato do seu substituto.
O governador relata ter sido “surpreendido” com a viagem de Torres, e que naquele momento houve uma quebra de confiança em relação ao trabalho exercido pelo ex-secretário, que posteriormente levou à sua exoneração do cargo.