Braço de um sofisticado esquema internacional de tráfico de drogas, desmantelado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) em abril do ano passado, influenciadoras digitais contratadas para promover refis de maconha em redes sociais e os líderes da rede criminosa começaram a enfrentar as consequências na Justiça.
A 5ª Vara de Entorpecentes do DF condenou cinco réus centrais da organização e três influencers brasilienses, revelando em sentença a complexidade de uma engrenagem que usava perfis no Instagram como vitrine para um negócio milionário.
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O grupo foi alvo da Operação Refil Verde, conduzida pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), que apurou desde a compra de óleo de THC na Califórnia (EUA) até o envase em São Paulo e a distribuição pelos Correios.
Combinando e-commerces, perfis de Instagram e marketing digital, a rede criminosa conseguia ampliar seu alcance e camuflar a ilegalidade com uma roupagem de modernidade.
As penas aplicadas já somam 127 anos, 8 meses e 28 dias de prisão, além de milhares de dias-multa.
As condenações
Rodrigo dos Santos Martins
- Condenação: 24 anos, 5 meses e 22 dias de prisão em regime fechado + 1.383 dias-multa.
- Crimes: tráfico interestadual de drogas, organização criminosa e lavagem de capitais.
- Situação: considerado líder do grupo, continua foragido. Mandado de prisão preventiva mantido e alvo de difusão vermelha da Interpol.
Yasmin Pereira Nadai
- Situação: esposa de Rodrigo, também apontada como líder. Foi incluída na lista da Interpol e capturada na Alemanha.
- Processo: desmembrado, aguarda sentença no Brasil após extradição.
Carlos Renato Máximo
- Condenação: 20 anos, 5 meses e 22 dias de prisão em regime fechado + 1.323 dias-multa.
- Crimes: tráfico interestadual, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
- Atuação: armazenava e enviava os refis de THC a partir de São Paulo. Movimentou cerca de R$ 50 mil em espécie.
- Situação: preso, não poderá recorrer em liberdade.
Wagner da Silva Turbiani
- Condenação: 20 anos, 11 meses e 22 dias de prisão em regime fechado + 1.325 dias-multa.
- Crimes: tráfico interestadual, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
- Atuação: usava sua empresa como fachada para laboratório clandestino de envase. Foi flagrado com R$ 30 mil, armas e centenas de refis prontos para envio.
- Situação: preso, não poderá recorrer em liberdade.
Fabíola Dala Rosa
- Condenação: 15 anos e 10 meses de prisão em regime fechado + 1.293 dias-multa.
- Crimes: tráfico interestadual e organização criminosa.
- Atuação: identificada em imagens nos Correios postando milhares de pacotes.
- Situação: presa, não poderá recorrer em liberdade.
Matheus dos Santos Camargo
- Condenação: 10 anos, 9 meses e 22 dias em regime fechado + 90 dias-multa.
- Crimes: organização criminosa e lavagem de capitais.
- Atuação: responsável pelo suporte tecnológico da rede, incluindo sites e integração financeira.
“Equipe de marketing”
O papel das três influenciadoras brasilienses presas na operação recebeu destaque especial na sentença. A Justiça destacou que a atuação delas foi decisiva para ampliar o mercado ilícito, explorando o alcance das redes sociais para dar aparência de legalidade à venda de derivados de cannabis.
Elisa de Araújo Marden
- Condenação: 10 anos de prisão em regime semiaberto + 560 dias-multa.
- Crimes: organização criminosa (5 anos) + tráfico de drogas em flagrante (5 anos).
- Atuação: fazia apologia ao uso e recomendava a compra dos refis em vídeos e postagens.
Letícia Susane Correia Castro
- Condenação: 5 anos em regime semiaberto + 60 dias-multa.
- Crimes: organização criminosa.
- Atuação: divulgava refis de maconha em seus Stories, intercalando com conteúdos de viagens e lifestyle.
Rhaynara Didoff
- Condenação: 5 anos em regime semiaberto + 60 dias-multa.
- Crimes: organização criminosa.
- Atuação: promovia as “canetas mágicas” com humor em seus perfis e compartilhava links para compra.
Engrenagem do tráfico
A investigação revelou um modus operandi digno de cartéis internacionais. O óleo de THC era comprado na Califórnia e enviado ao Brasil escondido em potes de cera para depilação. No Paraguai, a carga cruzava a fronteira até São Paulo, onde era manipulada e envasada em refis de cigarros eletrônicos.
A distribuição se dava pelos Correios, camuflada em colas em bastão. Profissionais de TI do Rio de Janeiro criaram websites que vendiam os produtos como supostos medicamentos. Influenciadores digitais contratados promoviam os itens em redes sociais, atraindo consumidores em todo o país.
Caso exemplar
A juíza responsável destacou que a prova reunida – interceptações, laudos, apreensões e depoimentos – evidenciou um esquema sofisticado, altamente estruturado e com divisão de tarefas claras. A cooperação internacional, que resultou em difusões vermelhas da Interpol e prisões fora do país, reforça o alcance do caso.
O perdimento de bens apreendidos – veículos, imóveis e valores em dinheiro – foi decretado, comprovando o vínculo direto com o esquema ilícito.
Com as condenações, a Operação Refil Verde entra para a história como um marco da repressão ao narcotráfico digital, mostrando a evolução das organizações criminosas e também a capacidade da polícia e do Judiciário em desmantelar redes que tentavam se modernizar com a linguagem das redes sociais.