A operação deflagrada pela 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia) revelou um esquema alarmante: homens com registro de Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores (CACs) que continuavam em posse de armamento mesmo após terem seus certificados cancelados.
Entre os alvos da ação ocorrida na sexta-feira (8/8), havia indivíduos com passagens por roubo a banco, tráfico de drogas, furto, porte ilegal de arma, ameaça e lesão corporal (Lei Maria da Penha). Um deles — que chegou a cumprir 10 anos em regime fechado por roubo a banco — exemplifica a gravidade do caso.
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A coluna Na Mira apurou que um dos alvos foi preso por roubo a banco; outros dois por tráfico de drogas; um por tráfico de drogas e furto e outro por porte ilegal de arma de fogo, ameaça e lesão corporal da Lei Maria da Penha. Ou seja, dos sete CACs alvo da operação, seis tinham comprometimento com a criminalidade.
Crime organizado
O fenômeno não é um episódio isolado. Um levantamento do Instituto Sou da Paz revela que, desde 2016, CACs são cada vez mais usados como “porta de entrada” para o crime organizado, inclusive com registros de milhares de criminosos e foragidos autorizados a portar armas via CACs.
Em todo o país, o levantamento também chama atenção para o fato de que 5 .235 criminosos condenados e 2 .690 foragidos da Justiça receberam licença como CAC, entre 2019 e 2022. E 22.493 pessoas são suspeitas de atuarem como “laranjas”, facilitando o acesso ao armamento legal para o crime organizado.
No DF, entre 2019 e 2022, os crimes cometidos por CACs subiram impressionantes 745 %, com os casos relativos à Maria da Penha crescendo 1 100 %. A combinação de legislação flexibilizada, falhas de fiscalização e uso criminoso de registros legítimos cria um cenário perigoso e preocupante que exige revisão das regras, controle mais rígido e responsabilidade das autoridades.
Mais casos
Alguns casos repercutiram nacionalmente, como uma investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro e do Ministério Público do Rio, em janeiro de 2022, que resultou na apreensão de um arsenal na casa de Vitor Furtado, conhecido como “Bala 40”.
Ele usava seu registro de CAC para comprar munições legalmente e repassar para o crime organizado. A apreensão recolheu 26 fuzis M16, que é o mais usado por traficantes no estado do Rio, um fuzil 308, 21 pistolas e muita munição.