Pesquisadores da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, desenvolveram uma vacina experimental de mRNA que aumentou os efeitos de medicamentos imunoterápicos no combate a qualquer tipo de câncer em testes iniciais.
O imunizante, testado em células cancerígenas in vitro e em camundongos, potencializou a resposta das defesas do organismo e acelerou o processo de eliminação das células tumorais.
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Publicado na revista Nature Biomedical Engineering nesta sexta-feira (18/7), o trabalho associa a eficácia da vacina em potencializar os inibidores de ponto de controle imunológico. Esses medicamentos já são usados na oncologia para ensinar o sistema imune a reconhecer células tumorais como ameaças.
Os cientistas estimularam a produção de PD-L1, uma proteína ligada à resposta imune, dentro dos tumores. Isso tornou as células mais vulneráveis ao ataque imunológico, mesmo sem terem um alvo predeterminado.
Resposta imune sem alvo específico
O oncologista Elias Sayour, autor principal do estudo, explicou que a estratégia representa uma nova via terapêutica. A abordagem pode auxiliar tratamentos e até reduzir intervenções tradicionais mais invasivas, como cirurgia, quimioterapia e radioterapia, caso os resultados observados nos testes pré-clínicos se repitam em humanos.
Sayour aponta que a descoberta é uma prova de conceito de que esses imunizantes podem ser comercializados como vacinas universais contra o câncer para sensibilizar o sistema imunológico contra o tumor individual de um paciente.
“Este artigo descreve uma observação muito inesperada e emocionante: que mesmo uma vacina que não é específica para nenhum tumor possa levar a efeitos específicos do câncer”, afirmou Sayour em comunicado à imprensa.
O oncologista Duane Mitchell, coautor do artigo, defendeu que os dados sugerem um novo paradigma para o desenvolvimento de vacinas contra o câncer. Segundo ele, a força da resposta imune, e não a especificidade do alvo, é o que define a eficácia destes imunizantes.
“O que descobrimos é que, ao usar uma vacina projetada não para atingir especificamente o câncer, mas sim para estimular uma forte resposta imunológica, conseguimos induzir uma reação anticâncer muito mais forte do que imaginávamos”, afirmou Mitchell.
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Segundo o Instituto Nacional de Câncer, para cada ano do triénio 2020/2022 serão registrados cerca de 625 mil casos da doença no Brasil
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Extremamente comum no país, o câncer de pele é caracterizado pelo aparecimento de tumores na pele em formato de manchas ou pintas com formatos irregulares. Relacionada à exposição prolongada ao sol, exposição a câmeras de bronzeamento artificial ou por questões hereditárias, a doença pode ser tratada através de cirurgias, radioterapia e quimioterapia
miriam-doerr/istock
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O câncer de mama é causado pela multiplicação descontrolada de células na mama. Apesar de ser comum em mulheres, a enfermidade também pode acometer homens. Entre os sintomas da doença estão: dor na região da mama, nódulo endurecido, vermelhidão, inchaço e secreção sanguinolenta. O tratamento envolve cirurgia para retirada da mama, quimio, radioterapia e hormonioterapia
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Mais frequente em homens, o câncer de próstata apresenta os seguintes sintomas: sangue na urina, dificuldade em urinar, necessidade de urinar várias vezes ao dia e a demora em começar e terminar de urinar. Cirurgia e radioterapia estão entre os tratamentos da doença
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Embora possa estar relacionado com hipertireoidismo, tabagismo, alterações dos hormônios sexuais e diabetes, por exemplo, o câncer de tireoide ainda não é bem compreendido por especialistas. Apesar disso, tratamentos contra a doença envolvem terapia hormonal, radioterapia, iodo radioativo e quimioterapia, dependendo do caso
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O câncer de pulmão é um dos tipos com maior incidência no Brasil. Relacionado ao uso ou exposição prolongada ao tabagismo, tem como principais sintomas a falta de ar, dores no peito, pneumonia recorrente, bronquite, escarro com sangue e tosse frequente. A doença é tratada com quimioterapia, radioterapia ou/e cirurgia
BSIP / getty images
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No Brasil, o carcinoma epidermoide escamoso tem a maior incidência entre os canceres de estômago. Os tratamentos envolvem cirurgia ou radioterapia e quimioterapia
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O câncer de estômago é diagnosticado após a identificação de tumores malignos espalhados pelo órgão e que podem aparecer como úlceras. Relacionado à infecções causadas por Helicobacter Pylori, pela presença de úlceras e de gastrite crônica não cuidada, por exemplo, a doença pode causar vômito com sangue ou sangue nas fezes, dor na barriga frequente e azia constante
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O câncer de colo de útero tem como sintomas sangramento vaginal intermitente, dor abdominal relacionada a queixas intestinais ou urinárias e secreção vaginal anormal. O tratamento envolve quimio, radioterapia e cirurgia
Science Photo Library/GettyImages
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O câncer de boca é uma doença que envolve a presença de tumores malignos nos lábios, gengiva, céu da boca, língua, bochechas e ossos. É mais comum em homens com mais de 40 anos e tem como sintomas feridas na cavidade oral, manchas na língua e nódulos no pescoço, por exemplo. O tratamento envolve cirurgia, quimio e radioterapia
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Como funciona a vacina contra o câncer?
O grupo tem conduzido pesquisas com vacinas de mRNA há mais de oito anos. A plataforma é composta por nanopartículas lipídicas que transportam o RNA mensageiro para dentro das células para ensiná-las a reagir melhor ao tumor.
No ano passado, a equipe testou a tecnologia em quatro pacientes com glioblastoma. O tumor cerebral é considerado um dos mais agressivos e de difícil tratamento. A vacina, personalizada com células tumorais dos próprios pacientes, gerou rápida resposta imune.
Os novos testes foram feitos em camundongos com melanoma, um câncer de pele altamente resistente, e mostraram que a combinação da vacina com inibidores de PD-1 foi eficaz. A vacina ativou células imunes mesmo sem conexão direta com o tumor, trazendo todas as defesas disponíveis para a batalha. Isso desencadeou efeitos que ajudaram o organismo a reconhecer e atacar células malignas.
Em testes adicionais com tumores de osso e cérebro, os cientistas observaram regressão completa em alguns casos. Em modelos resistentes, a vacina isolada também provocou resposta significativa.
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