Um dos eventos mais emblemáticos do Cerrado, a Caçada da Rainha 2025 deve reunir cerca de 20 mil pessoas entre os dias 11 e 14 de julho, em Colinas do Sul, cidade da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Muito mais que uma celebração religiosa, a festa carrega um forte simbolismo histórico: sua origem remonta ao fim da escravidão no Brasil.
Reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial de Goiás, a festa mistura teatro popular, batuque ancestral, fé e resistência. A tradição nasceu, segundo relatos populares, da fuga simbólica da Princesa Isabel após a assinatura da Lei Áurea, temendo represálias. Refugiada na mata e protegida por sua guarda mascarada, ela teria sido procurada pelo imperador Dom Pedro II, que prometeu uma grande celebração caso a encontrasse com vida. Assim teria surgido o rito que se tornou símbolo de liberdade e identidade para o povo colinense.
A celebração foi trazida a Colinas do Sul no fim do século XIX, por Sebastião da Silva Coelho, vindo do Arraial de São Félix. Em 1954, Herculana da Silva Coelho foi coroada a primeira Rainha da festa, consolidando a tradição transmitida até os dias de hoje.
“É um momento de renovação espiritual, mas também de fortalecimento da coletividade. A festa é da fé, mas também é do povo”, destaca Marina Silva, liderança comunitária em Colinas.
Encenação no cerrado
A programação começa nesta quinta-feira (11/7), com um show-baile, e segue até a segunda-feira (14/7), com missas, cortejos e apresentações culturais. Nomes como João Bosco & Gabriel, Zé Vitor & Rael, Gustavo Moura & Rafael e Luana Magalhães integram as atrações musicais.
O ponto alto ocorre no domingo (13), com a encenação da Caçada da Rainha. A corte — formada por Rei Onofre Paulista, Rainha Raphaela Costa, Imperador Pablo Thiago e Imperatriz Samantha Rocha — se esconde no cerrado, protegida por caretas, enquanto cavaleiros saem em busca da rainha. Quando ela é finalmente encontrada, é recebida com fogos, aplausos e emoção coletiva.
A celebração segue com o tradicional Batuque da Rainha, no qual mulheres dançam com saias rodadas e equilibram garrafas na cabeça, ao som da “onça”, instrumento africano que embala o ritmo do lundu. A bebida típica, o leite de onça, também é servida à comunidade.
“Cada pouso, cada batuque, cada garrafa equilibrada carrega um pedaço da nossa história”, completa Marina Silva.
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A encenação central da festa simula a busca pela Rainha, escondida no cerrado
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Reconhecida como patrimônio imaterial de Goiás, a festa mistura teatro, batuque e religiosidade
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A Caçada da Rainha 2025 deve reunir cerca de 20 mil pessoas em Colinas do Sul (GO)
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Grupos percorrem a zona rural a cavalo, levando as bandeiras do Divino e de Nossa Senhora
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A tradição tem origem no fim da escravidão e celebra liberdade, fé e identidade
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Devoção e partilha
Além da encenação, a festa se estende por cerca de duas semanas, com os grupos Giro de Cima e Giro de Baixo percorrendo a zona rural a cavalo. Levando as bandeiras do Divino Espírito Santo e de Nossa Senhora do Rosário, os foliões são recebidos com orações, danças como a catira, e refeições típicas — um momento de partilha e devoção que une a comunidade.
A culinária regional também tem papel importante, com pratos tradicionais sendo servidos nos pousos, reforçando o elo entre fé, cultura e sabor.
“A Caçada da Rainha movimenta o turismo local e a expectativa é de que milhares de pessoas passem por Colinas neste ano”, afirma Lauro Jurgeaitis, presidente da Associação Veadeiros.
Cultura viva do Cerrado
O reconhecimento como patrimônio estadual, em 2023, reforça a importância de manter viva essa tradição que celebra a liberdade conquistada, a fé coletiva e o protagonismo popular. Realizada pela Prefeitura de Colinas do Sul, com apoio das secretarias municipais de Turismo e de Educação e Cultura, a festa é uma expressão viva do povo do cerrado.
Mais do que um evento religioso ou turístico, a Caçada da Rainha é memória encenada, fé que pulsa, cultura que gira e se reinventa com o tempo e com o povo.
A programação completa está disponível em:
www.visitveadeiros.com.br/cacadadarainha