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Home Brasil

Dança dos Confederados esconde passado escravizador no interior do Brasil

por Redação Capital Brasília
10 de agosto de 2025
em Brasil, Política
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Dança dos Confederados esconde passado escravizador no interior do Brasil
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Homens de chapéu texano e mulheres com vestidos de renda rodados dançando juntos ao som de música country. Nas mesas e barracas, bandeiras vermelhas com estrelas brancas sobre uma cruz diagonal azul – símbolo dos confederados dos Estados Unidos. Essa poderia ser uma cena da Geórgia ou do Alabama, vista em um filme de faroeste, mas não: são imagens da Festa dos Americanos, também chamada de Festa Confederada, realizada em uma tarde de abril, numa cidade do interior de São Paulo.

Os vídeos e fotos registram o evento que, até o início da pandemia de Covid-19, era realizado anualmente no cemitério do campo, em Santa Bárbara d’Oeste. Ele era organizado pela Fraternidade Descendência Americana (FDA) e celebrado pelos descendentes dos imigrantes do sul dos Estados Unidos que, após a derrota na Guerra Civil Americana (1861–1865), decidiram reconstruir suas vidas em terras brasileiras. 

Cerca de 2 mil norte-americanos se estabeleceram em Santa Bárbara no pós-guerra. A imigração recebeu incentivos do Império brasileiro, que queria alavancar a produção algodoeira, dominada pelos imigrantes. Aqui conseguiram regalias como, por exemplo, transporte gratuito do Rio de Janeiro até o porto mais próximo, isenção do serviço militar obrigatório e liberdade para exercer seus negócios. Também tiveram garantidas educação primária e liberdade para manterem suas práticas religiosas. Além disso, o Império vendia aos recém-chegados terras por valores irrisórios na época.

Os norte-americanos trouxeram consigo técnicas, bandeiras, costumes e deixaram uma herança histórica festejada pela comunidade até hoje. Mas sob as celebrações nostálgicas repousa uma história problemática — que envolve a manutenção de um modo de vida baseado no trabalho de pessoas escravizadas, agora no “sul mais ao sul”. Mais de 200 escravizados teriam vivido na nova colônia em terras brasileiras.

Desde 2022, o uso de símbolos racistas como a bandeira confederada (associada à Ku Klux Klan) é proibido por lei em eventos públicos de Santa Bárbara. Mas, as histórias das pessoas escravizadas — e da riqueza que elas geraram para os que as exploravam — parte de Santa Bárbara tenta negar.

Imigrantes dos EUA compraram terras e pessoas escravizadas em Santa Bárbara

Localizada no interior paulista, há cerca de 130 quilômetros da capital, Santa Bárbara d’Oeste tem aproximadamente 183 mil habitantes e se assemelha a muitas cidades do interior: organizada, com uma economia ligada à indústria e vida urbana pacata. Mas quem anda pelo centro da cidade nota uma particularidade: as ruas são nomeadas com sobrenomes pouco usuais no Brasil, como Pyles, Crisp, MacKnight e Jones.

Os nomes “gringos” são uma herança das posses dos imigrantes que vieram dos EUA para a cidade. Em sua dissertação de mestrado defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pesquisadora Leticia Aguiar, da Faculdade de Economia, registrou detalhes da história dos norte-americanos em Santa Bárbara D’Oeste. Com base em documentos da época, colhidos no 1º Cartório de Notas de Santa Bárbara D’Oeste, ela afirma que os imigrantes compraram grandes extensões de terras. E, junto aos terrenos, também adquiriram pessoas escravizadas, que eram utilizadas como mão de obra nas plantações de algodão, cana-de-açúcar e café.

Uma prova da presença de escravizados, por exemplo, é o recenseamento Geral do Império do Brasil, de 1872, onde Santa Bárbara aparece com um total de 2.589 almas, sendo 2.376 livres e 213 escravos. Os norte-americanos eram o maior grupo de estrangeiros com um total de 100 indivíduos.

“O primeiro registro de norte-americanos comprando terras no cartório de Santa Bárbara é de Robert Meriwether, que o fez em 28 de outubro de 1866”, segundo a pesquisa, que se baseia em documentos de cartórios e registros biográficos da região. Os Meriwether, aponta a pesquisadora, chegaram ao porto do Rio de Janeiro em 27 de dezembro de 1865 e embarcaram para Santos em janeiro de 1866. “Na direção de Piracicaba, compraram terras da Fazenda Machadinho, pouco antes da Vila de Santa Bárbara. Compraram ainda três escravos, sendo dois para os trabalhos no campo e a cativa Olímpia para ajudar nos afazeres domésticos. Assim, depois de estarem estabelecidos enviaram carta pedindo que a família viesse.”

Dentre as 505 transações dos norte-americanos imigrantes encontradas pela pesquisa, Aguiar lista que, entre 1866 a 1900, há 234 escrituras de compra e venda de imóveis e 26 registros envolvendo negócios com escravizados. Ela afirma que o coronel Asa Thompson Oliver, dono das terras onde hoje está o cemitério histórico da cidade, tinha escravizados que trabalhavam em suas propriedades. Também registra outros exemplos, como “uma grande operação de compra e venda, [entre 1866 e 1887], que envolveu os americanos Harvey Hall e Joseph Daniel. Em 1866, ambos compraram em sociedade 7 escravos […], além de uma grande porção de um sítio em Santa Bárbara.”

Ainda há casos como o de Orville Whitaker e de Sarah Amanda Strong. Segundo um documento lavrado em cartório, diz Aguiar, Whitaker concedia a liberdade condicional aos escravizados “Biath, Laurindo, Diogo, Emília, Genoveva, Lúcio, Manoel, Joana e Jerônimo com a condição de prestarem serviços por seis anos e meio, devendo servir aos herdeiros caso a morte do casal ocorresse dentro desse prazo.” Já Sarah Strong” dava a liberdade aos escravos Pedro e Ephigenia. Ele, com 25 anos, seria libertado depois de três anos de trabalho, e, ao final desse prazo, por bom comportamento e dedicação ganharia ainda duas bestas e um arado. Ephigenia, por sua vez, com 40 anos, seria emancipada de imediato.”

De olhos fechados para o passado escravizador

Apesar dos registros de pessoas escravizadas negociadas pelos imigrantes dos EUA, o Museu da Imigração de Santa Bárbara d’Oeste, mantido pela Prefeitura, tem apenas um registro da prática: as pessoas escravizadas trazidas pela fundadora da cidade, Margarida da Graça Martins, em 1817. No museu, é apresentado que Margarida da Graça reivindicou uma sesmaria situada nas proximidades dos rios Piracicaba e Quilombo, estabelecendo-se na região com seus filhos, escravos e agregados. Lá, instalou um engenho de cana-de-açúcar, dando início ao processo de povoamento local.

A instituição apresenta uma visão “americanizada” da história, com salas inteiras sobre a migração confederada.

O passado escravocrata também é minimizado pelo presidente Fraternidade Descendência Americana, Rogério Seawright, ele próprio descendente de imigrantes norte-americanos. Ele alega que a herança confederada são as contribuições dos estadunidenses para o Brasil, como a melancia [a variedade conhecida como “Cascavel da Geórgia, trazida pelos imigrantes, se adaptou muito bem em solo barbarense] escolas, como a Faculdade Mackenzie e hospitais, como o Pérola Byington, em São Paulo.

“Tem muitas outras coisas que eles deixaram, mas essa herança escravocrata, não, porque nem tiveram escravo aqui. A herança escravocrata já era do Brasil”, afirma. Em e-mail enviado à Agência Pública, Seawright fala que em todas as pesquisas realizadas pela FDA, não foram encontrados indícios de pessoas escravizadas pelos americanos no Brasil. Questionado sobre a pesquisa feita na Unicamp que encontrou registros de escravizados na cidade (e que está listada no acervo documental da Fraternidade), o presidente da entidade admitiu que os confederados possuíram pessoas escravizadas. No entanto, contestou o fato ao afirmar que outros imigrantes também participaram da escravidão no Brasil e destacou novamente as benfeitorias trazidas pelos descendentes dos confederados.

A Fraternidade cuida do chamado Cemitério do Campo, também conhecido como Cemitério dos Americanos, onde estão enterrados colonos estadunidenses, que eram protestantes. Na entrada do local estão bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos.

Lápide de Mildred W. Oliver, filha de Asa Thompson Oliver, proprietário do terreno onde foi instalado o cemitério, e de Beatrice Oliver, primeira pessoa a ser sepultada no local

“O cemitério nasceu porque o Coronel Asa Thompson, quando veio para cá, era o dono daquelas terras. Quando sua filha faleceu, ele foi enterrá-la no cemitério da cidade e, chegando lá, o cemitério era da igreja católica. E a igreja católica não permitia que fizesse sepultamento de quem não fosse batizado”, conta. Seawright comenta que, à medida que outros confederados e seus familiares morriam, eles eram sepultados nas terras de Thompson — o mesmo que a pesquisa aponta que teria escravizados trabalhando em suas propriedades.

“Nós [da FDA] cuidamos da manutenção do cemitério, que é particular e não recebe nenhum recurso público. As famílias descendentes fazem doações até hoje”, afirma. A fraternidade também preserva arquivos históricos. Segundo Seawright, a Festa Confederada deixou de ser realizada por falta de caixa.

“Nós estamos fazendo alguns eventos menores, pequenos, mas entre os próprios descendentes, para começar a fortalecer de novo o caixa e voltar a fazer a festa”, diz.

Fascínio pela herança Confederada

O fascínio de Santa Bárbara pela herança norte-americana é algo que Marina Lee Colbachini conheceu de perto depois que se mudou para Americana, cidade vizinha que se formou a partir da instalação da estação ferroviária para escoamento da produção de Santa Bárbara, que também tem descendentes de imigrantes como ela. Aos oito anos, Colbachini passou a frequentar os piqueniques que as famílias faziam no cemitério dos protestantes, em Santa Bárbara, em datas comemorativas, como o Dia de Ação de Graças, que é comemorado em novembro.

“Lembro de ir com meu pai e estranhar as pessoas fazerem festas em um cemitério”, conta. Aos 25 anos, ela se apresentou na Festa Confederada. Hoje, aos 40, ela ainda guarda as fotos. “A gente vestia aqueles vestidos igual a ‘E o Vento Levou’, sabe? Você vira uma princesa, num lugar lindo, com aquelas danças, músicas de roda maravilhosas. As crianças pedem para tirar fotos com você”, descreve.

Os ensaios para as apresentações começavam logo depois do Carnaval, lembra, e toda a comunidade participava. “Era uma coisa alegre. Mas me incomodava o uso da bandeira”, diz. “É um símbolo da supremacia branca. Quando questionava isso, diziam que essa era a concepção da bandeira nos EUA. Mas eu dizia: não importa. O mundo é globalizado, as imagens da festa vão circular”.

Representação de um dos figurinos utilizado na XXIX festa confederada

Colbachini diz que não cresceu ouvindo muito sobre seus antepassados, mas a história está no seu nome. O Lee dela homenageia o general Robert E. Lee, que era pró-escravidão e chefiou tropas confederadas durante a Guerra Civil Americana. “Não é um sobrenome, é mais como um nome composto, o mesmo de Rita Lee”, explica, lembrando a cantora e compositora famosa que seria sua parente distante, não pelo Lee, mas pela família Jones. A antiga fazenda que pertencia a família da roqueira hoje é um bairro de Americana chamado Vila Jones.

Em sua biografia, Rita Lee conta que seu nome também era uma homenagem ao general confederado e que seu avô chegou a escravizar pessoas no Brasil, e que teria trazido consigo inclusive uma escravizada dos EUA.

Na cidade de Charlottesville, estado da Virgínia, a ameaça de retirada de uma estátua em homenagem a Robert E. Lee provocou uma onda de protestos supremacistas brancos nos EUA, em 2017, que marcharam fazendo saudações nazistas e palavras de ódio contra negros, imigrantes e pessoas LGBTQIA+. Um grupo que se manifestava contra os supremacistas foi atropelado por um carro e uma mulher morreu.

A discussão sobre o símbolo da bandeira virou uma questão em Santa Bárbara depois desse episódio, embora alguns descendentes tenham continuado defendendo seu uso como uma insígnia de orgulho e memória. Em 2020, a Defensoria Pública de São Paulo abriu uma apuração sobre denúncia de racismo envolvendo o uso da bandeira confederada na festa em Santa Bárbara D’Oeste. A denúncia partiu da ex-deputada estadual de esquerda Erica Malunguinho, a partir de encaminhamentos dos movimentos negros da cidade.

Muito antes disso, Colbachini deixou de frequentar a festa. “Dou aula de literatura e redação para o vestibular. Você vai fazendo debates com os alunos sobre temas estruturais no Brasil, como o racismo. Você começa a ver, sabe, as pessoas usando a farda da guerra civil, então não dá para continuar”, conta.

Em 2021, um projeto de lei do deputado Gil Diniz, ligado à extrema direita, tentou transformar a festa de Santa Bárbara em patrimônio imaterial do estado de São Paulo. O PL foi apresentado em pleno mês da Consciência Negra e sofreu críticas.

Deputado Gil Diniz

Um ano depois, a Câmara de Vereadores da cidade aprovou uma lei que proíbe o uso de símbolos racistas em eventos, o que inclui a própria bandeira confederada. “Foi uma conquista de anos de luta do movimento negro da cidade”, assinala Silvia Motta, coordenadora do Centro de Memória Dionyzio de Campos e da Associação de Capoeira Motta e Cultura Afro, e produtora do documentário A Controvérsia Confederada.

Apesar de toda a simbologia que bandeira confederada carrega, Seawright defende que o uso dela não seria proibido e que o único símbolo banido no Brasil é a suástica nazista. “A gente nunca viu isso como uma coisa ofensiva. Muito pelo contrário. Uma coisa que grava a nossa origem nunca foi visto como um desrespeito a alguém, como algo ofensivo. É simplesmente uma bandeira”, comenta. “Se eles não querem, eles se sentem ofendidos, tudo bem, tira ela e a gente usa a bandeira americana. Representa a nossa origem da mesma forma”.

O uso da bandeira confederada no Brasil também é contestado por outros descendentes, como o arquiteto e expógrafo Jeff Keese, que a considera “historicamente incorreta e vergonhosa”.

“Meu contraponto é justamente isso, que memória? A nossa, de brasileiros ou a memória de quem chegou aqui há mais de 150 anos? O que a gente está cultuando? E aí eu comecei a levantar isso, sobre essa noção de memória, de um símbolo. E aí, há mais de dez anos, eu comecei a participar das discussões da Fraternidade”. Keese defende que a bandeira tem o lugar dela, mas “naquele espaço, naquele momento histórico”, no passado. E no passado, a bandeira defendia uma uma guerra civil e uma postura escravocrata.

No Brasil, a bandeira confederada também foi associada à extrema direita e ao bolsonarismo, especialmente após a visita de Eduardo Bolsonaro à Santa Bárbara, em 2022. Segundo Keese, o episódio foi o estopim de um conflito já latente com João Leopoldo Padoveze, então presidente da FDA e candidato a vereador pelo Partido Liberal (PL) na época. Jeff descobriu que a página oficial da fraternidade no Facebook havia sido utilizada para divulgar a visita de Eduardo Bolsonaro, em 2022.

“Foram quatro postagens diferentes, uma atrás da outra, fazendo propaganda política”, relatou. A reação foi imediata: “Eu surtei. ‘Metralhei’ nos comentários, assim como outras pessoas. Mas apagavam tudo e repostava. E eu voltava com o dobro de comentários”, conta.

Em resposta, a vereadora Esther Moraes, do Partido Verde (PV) e outros movimentos sociais protocolaram um projeto de lei para alterar o Código Municipal de Posturas, proibindo a concessão de alvarás para eventos que exibissem símbolos racistas. De acordo com a vereadora, a tramitação do projeto na Câmara Municipal enfrentou forte resistência da bancada conservadora.

“O projeto demorou cerca de dois anos para ser aprovado. Isso porque, quando ele foi proposto, a gente já tinha uma câmara municipal esmagadoramente de direita, extrema-direita, bolsonarista. Teve um movimento de também tentar, de todas as formas, inviabilizar a criação desse projeto”, relata a vereadora. A aprovação, por 17 votos favoráveis, foi fruto de uma intensa mobilização e diálogo com a população, que incluiu audiências públicas, distribuição de folhetos e manifestações nas ruas.

Brasil era esperança de manter um modo de vida baseado na escravidão

A chegada de imigrantes norte-americanos no Brasil e em Santa Bárbara D’Oeste têm forte relação com a manutenção do sistema escravocrata. Entre os anos de 1861 e 1865, os Estados Unidos foram palco de um dos conflitos mais devastadores e decisivos de sua história: a Guerra Civil Americana, também conhecida como Guerra de Secessão. “Secessão” porque o confronto dividiu o país entre Norte e Sul, entre ideais escravistas e abolicionistas, e redefiniu os rumos da nação em termos de política, sociedade e direitos civis.

A raiz do conflito foi, em grande parte, a escravidão. Enquanto os estados do Norte caminhavam para uma economia baseada na indústria e no trabalho livre, os estados do Sul continuavam dependentes da mão de obra escravizada para sustentar sua agricultura, principalmente nas plantações de algodão. A tensão entre os dois modelos econômicos e sociais se agravou com a eleição de Abraham Lincoln, em 1860.

Embora Lincoln afirmasse que não aboliria a escravidão onde ela já existia, ele se opunha fortemente à sua expansão para novos territórios. Sua vitória foi vista pelos estados do Sul como uma ameaça direta ao seu modo de vida e à sua autonomia política. Em resposta, 11 estados sulistas declararam sua secessão da União e formaram os Estados Confederados da América, com sua própria constituição e presidente, Jefferson Davis. A União, liderada por Lincoln, não reconheceu a legitimidade da separação e prometeu preservar a integridade do país.

O conflito começou oficialmente em abril de 1861. Ao longo da guerra, mais de 600 mil pessoas perderam a vida — um número superior ao de todas as outras guerras americanas combinadas até o século 20. Em 9 de abril de 1865, o general confederado Robert E. Lee se rendeu ao general da União, Ulysses S. Grant, na Virgínia. Com isso, a guerra chegou ao fim, e o país iniciou um longo processo de reconstrução.

A vitória da União significou não apenas o fim da Confederação, mas também a libertação dos mais de quatro milhões de escravizados nos Estados Unidos. Se no norte das Américas a escravidão estava abolida, no sul, por outro lado, ela ainda existia. O Brasil mantinha o regime escravocrata e só colocaria fim oficial à escravidão mais de duas décadas depois, em 1888. Para muitos confederados, o Brasil não era apenas uma nova casa: era uma última esperança de manter um modo de vida baseado no trabalho escravo.

De acordo com a pesquisadora e professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Maria Clara Sampaio, era uma migração com desejo de reprodução de uma lógica de mundo, para além do imperialismo “anexacionista” dos Estados Unidos.

“O escravismo está muito conectado à cultura dos estados do sul dos EUA, que é uma sociedade extremamente hierarquizada. Não que a cultura do norte [dos EUA] não seja, mas no sul ela está costurada à questão da escravidão, à hierarquização racial. Os confederados não aceitam a nova ordem, que é aquela de um país em que o título da escravidão foi abolido. E aí o Brasil vira, entre aspas, essa ‘alternativa’ para continuar vivendo em uma ordem escravista”, explica.

Mas o interesse dos imigrantes dos EUA no território brasileiro não surgiu com o fim da guerra. Décadas antes, entre os anos 1840 e 1850, já existiam propostas para ocupar o Amazonas, com projetos para manutenção da escravidão e expansão do arco político e econômico dos norte-americanos. Sampaio comenta que houve diferentes projetos, um deles, de 1850, foi articulado por Matthew Fontaine Maury, cientista da época, que posteriormente serviu como agente da Confederação em Londres, Inglaterra.

“No século 19, os Estados Unidos estavam em expansão territorial. Começaram com um território pequeno em 1776 e, nos anos 1840 e 1850, já haviam alcançado o Oceano Pacífico. Com isso, o desejo por anexações se estendeu para fora do país. Projetos de intervenção ocorreram na Nicarágua, em El Salvador e, claro, no Brasil. A Amazônia era vista como uma região com fraca presença governamental e, portanto, “aberta” à colonização e exploração”.

Maury desenvolveu uma teoria com uma roupagem científica de que a bacia do rio Amazonas estaria conectada à do rio Mississippi, sugerindo uma integração natural com os EUA. Essa teoria justificava, geopoliticamente, a incorporação da Amazônia como parte do sistema econômico e social dos Estados Unidos — especialmente como válvula de escape para a manutenção da escravidão.

O território brasileiro também despertou interesse da União norte-americana, com a proposta de mandar ex-escravizados para a América do Sul. Abraham Lincoln, em discurso proferido em 1862, afirmava que “os congressistas precisam liberar o dinheiro necessário para a deportação de pessoas negras livres para qualquer lugar fora dos Estados Unidos”. O interesse era livrar os EUA da presença da população negra. James Watson Webb, ministro nomeado por Lincoln, dizia que o era “indispensável que o negro liberto seja exportado para fora de nossas fronteiras, pois conosco ele jamais poderá gozar de igualdade social ou política”.

Abraham Lincoln e Watson Webb

No Brasil, os confederados fizeram colônias entre 1865 e 1867 em diferentes cidades no norte, sul e sudeste, entre elas, Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo. Segundo o pesquisador da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Célio Antônio Alcântara, diferentemente de outras colônias imperiais, esta era formada por propriedades privadas, adquiridas por indivíduos de “cabedal” (posses). Isso permitiu que “os imigrantes, seus descendentes, ali na segunda geração, conseguissem, de certa forma, se manterem fechados, pouco permeáveis a esse meio social circundante, inclusive com uma certa endogamia nos casamentos”

A região já estava articulada a um circuito mercantil escravista, próxima a áreas tradicionais de produção cafeeira como Campinas, e vinculada à ferrovia, o que contribuiu para sua “resiliência” como comunidade imigrante. As colônias em outras áreas, como Juquiá e New Texas (São Paulo), Linhares (Espírito Santo), Santarém (Pará) e Paranaguá (Paraná), fracassaram por não estarem inseridas nesse circuito escravista e, por isso, não conseguiram reproduzir o “estilo de vida” desejado pelos confederados.

A intenção escravista por trás da migração estadunidense raramente aparece na memória coletiva dos descendentes em Santa Bárbara d’Oeste, que costuma privilegiar a coragem dos pioneiros e a agricultura que floresceu com o algodão. No entanto, ao se aprofundar nos documentos históricos, nos anúncios de jornais da época e nos registros de propriedade, uma narrativa se impõe: imigrantes trouxeram consigo, além de sementes de melancia e bíblias, o ideal de uma sociedade racialmente hierarquizada.

Alcântara exemplifica com o caso de John Abraham Cole, também conhecido na documentação brasileira como João Absalão. Cole era um escravocrata do Mississipi, EUA. Dados do Censo americano contendo registros de escravos de 1860 mostram que ele possuía 24 homens e mulheres escravizados antes da guerra.

Em 1866, aproveitando uma ambiguidade em uma circular do consulado brasileiro em Nova York, que proibia a entrada de escravos mas não mencionava libertos, Cole trouxe para o Brasil uma mulher negra liberta, “Tia” Silvy, e suas duas filhas. Ao desembarcar no Rio de Janeiro, o americano contatou o Agente Brasileiro de Colonização para evitar obstáculos em sua viagem até São Paulo. Pouco tempo depois, o caso de Cole chegou ao conhecimento do Chefe de Polícia do Rio e até mesmo do Ministro da Justiça.

“Ele, ilegalmente, trouxe uma liberta pro Brasil. E o império entendeu que aquele era um caso de tráfico. Ele foi proibido de trazê-las, a tia Silvy, ex-escravizada, e suas duas filhas. Mas, a despeito disso, ele as trouxe. E o império classificou como tráfico ilegal”. De acordo com a documentação brasileira consultada por Alcântara, Cole argumenta em cartas para o império que sua ex-escrava queria vir muito ao Brasil, mas há uma preocupação imperial de uma tentativa de reescravização.

Apesar de justificar que a mulher se declarava livre, John Cole não conseguiu provar isso. Mesmo assim, argumentou que ela não poderia ser enquadrada na Lei Feijó, que declarava “livres todos os escravos vindos de fora do Império”, pois a legislação mencionava apenas homens e não o impedia de levar a mulher para suas propriedades. Uma edição de outubro de 1866 do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro mostra que ele conseguiu partir do Rio para o porto de Santos acompanhado de três criadas.

Registros posteriores confirmam que Silvy e suas filhas permaneceram no país após a abolição, sendo mencionadas no testamento de Cole, que lhes deixou a quantia de dois contos de réis e escravos para Rosa e Chena, filhas de Silvy.

No Brasil, Cole fez residência em Santa Bárbara d’Oeste, onde foi vizinho do coronel William Hutchinson Norris, o primeiro emigrante confederado a chegar na cidade. A casa de Cole era o espaço onde eram realizados os cultos de domingo por um reverendo da Igreja Batista.

Cole também foi escravocrata no Brasil: registros mostram que ele chegou a ter 17 pessoas escravizadas, compradas na Santa Bárbara e em Campinas. Um anúncio no Diário de São Paulo, datado de janeiro de 1869, comprova a posse de escravizados e sua fazenda na cidade: o texto anunciava a fuga de dois escravizados de John A. Cole, e a promessa de gratificação com pela entrega de ambos.

O resgate da herança negra em Santa Bárbara

Embora Santa Bárbara D’Oeste tenha pilares erguidos com base no trabalho da população negra, esse legado é esquecido, diz Silvia Motta. Mulher preta de 43 anos, nascida em Americana e moradora da periferia de Santa Bárbara há mais de 20 anos, ela diz que a cidade é “extremamente racista”. “Tudo o que é da população negra é apagado. [A cidade] saúda uma etnia que veio de fora e escravizou as pessoas. Somos brasileiros, temos muita brasilidade para contar. Não somos norte-americanos, temos uma cultura muito rica, vinda de povos originários de populações negras”.

Silvia Motta

Entre as tantas histórias de antepassados negros que foram relegadas está a de Dionysio de Campos, escravizado que veio de África com cinco anos de idade. Sua trajetória foi descoberta através de pesquisas. “Ele era uma propriedade, viveu na região de Salto Grande, em Americana. Descobrimos uma foto pós-abolição, no centro de Americana, com os pés descalços e a certidão de óbito dele. Mesmo após a abolição, ele não teve direito à terra, à nada. Nós não recebemos incentivos como os imigrantes dos Estados Unidos. Muitos ficaram sem teto, sem origem, sem nação, como Dionysio”, explica Motta.

Até hoje, não se sabe em que fazenda Dionysio foi escravizado. “Não há dados sobre ele. O ‘nada consta’ para nós já é um crime. O que apontam é que ele tinha perdido um braço em trabalhos forçados. Ficou circulando entre as fazendas, trabalhando de forma não remunerada até falecer, aos 80 anos”, diz Motta. Hoje, o nome dele é reverenciado pelo Centro de Memória Afroamericanense Dionysio Campos, que fica na Associação de Capoeira Motta e Cultura Afro, um ponto de cultura em Americana que promove atividades culturais, educativas e outras experiências de resistência e aquilombamento na região.

Dionysio Campos

O resgate da memória negra de Santa Bárbara D’Oeste e Americana tem sido feito a partir de muita pressão, afirma Motta. Ela levanta, por exemplo, o debate para a retirada de símbolos racistas da cidade. “Tem a estátua de Margarida Graças Martins na praça principal. Sabemos que ela tinha escravizados, mas porque isso não é falado?”

Como um dos avanços desse resgate, a vereadora Esther Moraes cita as mudanças na educação, a partir da Lei Federal 10.639, que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira. “Então, você chega hoje numa escola municipal, você vai ter esse tema sendo trabalhado. Não é simplesmente cumprir ali o que está no currículo”, aponta. Ela diz que o município foi premiado recentemente pelo Ministério da Educação (MEC) com o selo Petronilha Gonçalves e Silva, devido às ações de equidade racial promovidas nas escolas. “É óbvio que a gente tem muito a avançar, e eu acho que, enquanto poder público, a gente ainda está em dívida, acho que a gente não faz o que é possível realmente, mas a gente não está mais no mesmo lugar”, diz a política.

Esther Moraes

Em 2018, Motta recebeu o título de destaque cultural e a medalha Zumbi dos Palmares em uma homenagem na Câmara dos Vereadores de Santa Bárbara. “Questionei porque mostrava, na casa do povo, imagens da festa e da bandeira Confederada no vídeo que era exibido na abertura dos trabalhos. Depois dessas discussões, ele foi editado, não tem mais as mesmas cenas. Isso foi um avanço, a gente apontou e conseguiu minimamente ser ouvido”, relata.

Ainda hoje, ela diz que a Câmara dos Vereadores é dominada por homens brancos [tem apenas uma mulher] e é um reduto bolsonarista. Como candomblecista, Motta aponta que o racismo religioso é muito forte na cidade. “As religiões de matriz africana vão resistindo para existir. Vamos tentando sobreviver de uma forma aquilombada, porque de forma institucional é muito difícil. O poder público promove festas católicas e evangélicas, mas o candomblé, que é patrimônio imaterial brasileiro, não tem esses apoios”, questiona.

Sobre a população negra em Santa Bárbara D’Oeste, ela diz: “Não somos minoria, mas estamos na minoria do acesso às oportunidades.”

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